Embalagens de Pneus
“É consenso que precisamos fazer alguma coisa.”, dizia um dos participantes.
Consenso entre quem? Fazer o quê e como?
Quando iniciou a indústria de pneus, discutiu-se muito qual deveria ser a embalagem ideal do produto: sacos? Caixas? Vender em unidade, em quatro? No final das contas, chegou-se à conclusão que a atitude ideal era a de não se fazer nada. Hoje nos parece absurdo criar uma embalagem para pneus, mas à época, não.
Controlar a Internet como na China? Não. Todos são unânimes. A constituição brasileira garante a liberdade de expressão, todos concordam. E proíbe também o anonimato e isso, para o meu espanto, todos também concordam!
Fico imaginando aquelas anedotas de delegacia dos tempos da ditadura:
- “Dotô Delegado!”, fala o escrivão, “Temos um crime praticado por um anônimo!”.
- “Então prende esse tal de Anônimo e vamu batê nele até confessá!”
- “Mas Dotô, o senhor não entendeu, é anônimo.”
- “Pode sê Anônimo, sindicalista, deputado e até bispo! Na minha delegacia a gente trata todo mundo igual!”...
Até hoje, não entendi o artigo 5º/ IV da constituição. Alguém tem idéia de como pode ser vedado o anonimato? Para quem quiser praticar crimes “on line”, basta ir a um ciber café, tomando o cuidado de verificar se não existem câmeras no local, e mandar ver. Ou estacionar o carro em frente a um shopping e acessar a rede wi-fi do estabelecimento com um laptop. Ou baixar programas de anonimato, como o “Anonimyzer” e outros. Ser anônimo é a coisa mais fácil que existe e tentar combater esse fato é apenas jogar dinheiro público pelo ralo, pois, mantendo a liberdade de expressão, é impossível.
E os golpes cometidos pela Internet por bandidos sem face? E as barbáries cometidas pelos pedófilos?
Bem, o primeiro caso combate-se, desculpem-me ser chato, mas volto sempre ao assunto, acabando com o anonimato do dinheiro, conforme sempre defendo aqui. Se acabássemos com o dinheiro “cash”, terminariam os negócios ilícitos, simples.
Quanto aos pedófilos, mudar a maioridade para 15 anos, como na Dinamarca, já reduziria o problema pela metade. A idade mínima para os direitos políticos corresponde à bíblica proposição do fruto do bem e do mal. Será que para entender o que é um crime e para manter relações sexuais, 15 anos não seria já o suficiente? Para comer da Maçã do Pecado ou para receber o Fogo de Prometeu, não é preciso infantilizar tanto assim a população.
Aliás, há pouco mais de um século, as pessoas casavam-se até aos 12, 10 anos, pois esperavam morrer aos trinta e poucos. Proibir uma criança do acesso à pornografia é coisa nova também: nos castelos medievais não havia corredores e as pessoas praticavam sexo em qualquer lugar, às vistas de todos que por ali passavam, inclusive menores, e não constam nos apontamentos históricos crianças traumatizadas por esse fato. Na história da humanidade, os regulamentos de continência sexuais só apareceram na Inglaterra vitoriana para lidar com dois fatores novos, a era da produção industrial e o controle do crescimento populacional, como um dos fatores para o aumento de riqueza.
Usando a expressão de Michel Foucault, “nós, os moralistas”, precisamos aprender a fazer essa distinção. O comércio ilegal, inclusive o de fotos de crianças, pode ser combatido com uma simples mudança na Casa da Moeda, acabar com o dinheiro “cash”. Claro que para isso, basta convencer alguns juízes que são donos de prostíbulos, alguns deputados traficantes de drogas e algum ministro corrupto, que ditam a administração do planeta, a implantar tal sistema, o que não é tarefa fácil, mas é a única ação que teria efetividade nesse campo.
O outro problema, em parte, talvez não seja um problema real, mas criado por nós mesmos. Talvez tenhamos passado a infantilizar as nossas crianças além do tempo necessário.
Pode ser que as questões não sejam a liberdade de expressão, os métodos de controle ou a ineficácia governamental, mas a displicência dos pais e educadores em verificar o que as crianças em tenra idade acessam ou com quem conversam. Infelizmente, o Estado não tem condições de cumprir um papel que é de responsabilidade familiar. Intrasferível.
Por isso, tentar regular a Internet é como tentar solucionar o problema da embalagem dos pneus, ou seja, o melhor a fazer, é nada.