HOMEM DE PRINCÍPIOS
Enquanto que percebemos
que a maioria das parece agir de acordo com a direção dos ventos e os
interesses momentâneos, a todo o momento ouvimos as pessoas dizendo que têm
princípios.
Não sei exatamente o
que os outros querem dizer com isso, mas para mim princípio é um molde binário
que serve para orientar as nossas escolhas na vida na forma de sim ou não. Se
somos pessoas de princípios, somos previsíveis, pois dada a situação, tentamos responder
sempre da mesma maneira. Somos retos, e não curvados ao vento do instante.
Seguem abaixo os
princípios seguidos por mim:
PRINCÍPIO DA BOA FÉ NAS
RELAÇÕES
Existem pessoas que
gostam de ser chicoteadas. Alguns homens gostam de homens barbudos e algumas
mulheres gostam de mulheres com aparência masculina. Alguns gostam de ser
asfixiados. Alguns gostam de pés, outros de grupos, outros de Internet, outros
da própria mãe. Provavelmente não exista uma pessoa de imaginação tão pobre que
sinta o seu prazer máximo fazendo papai-e-mamãe no escuro sempre com a mesma
pessoa, como preconizam a Igreja e os bons modos. Portanto, no meu ponto de
vista, não existe um “Princípio da Moralidade Sexual” que determine, por
exemplo que famílias muçulmanas são pecadoras ou sujas. Pelo contrário, o sujo
é aquele homem que trai a mulher escondido, como acontece na nossa sociedade. A
traição não é traição pela moralidade sexual, como acredita a maioria, mas pela
quebra do princípio da boa fé, o que é, de fato, abjeto.
Infelizmente, a maior
parte das pessoas acha o contrário, pensa que poderia fazer qualquer coisa,
desde que ninguém descobrisse...
IMPERATIVO CATEGÓRICO
KANTIANO
Tentar fazer dos seus
atos regras universais. Fazer ao próximo apenas aquilo que aceitaríamos que
fizessem conosco (Kant não falou exatamente isso, mas essa é a ideia).
O corolário, é que
devemos desejar ao próximo aquilo que queremos para nós. Por exemplo, um
deputado que propõe a melhoria do transporte público, enquanto ele próprio se
julga um ungido por Deus e anda de automóvel e helicóptero, é simplesmente um
patife. Neste caso, as propostas deveriam ser no sentido de dar automóveis para
o maior número possível de pessoas e ruas que permitissem tal fluxo de
veículos.
Se seguirmos este
pensamento, perceberemos que o que as pessoas querem na verdade são as
vantagens pessoais, e não o melhor para todos.
PRINCÍPIO DA NÃO
COMPACTUAÇÃO COM O ERRO ALHEIO
Também muito presente
nos países latinos, as pessoas aceitam facilmente no seu convívio aquele que
abandona a esposa, rouba da empresa em que trabalha, frauda na provas, mente ou
corrompe, muitas vezes tais procedimentos são até valorizados.
Ao contrário, devemos-nos
afastar de tais pessoas, já que a proximidade nos tornará vítimas fáceis da
falta de escrúpulos.
Podemos extrair uma
subcategoria que é o PRINCÍPIO DA INEXISTÊNCIA DE SEGUNDO ERRO. Ao contrário do
que pregava Cristo, devemos enfrentar ou afastar aquele que nos esbofeteia, isolando-o,
sancionando e impedindo de fazer novamente. Segundo este princípio, o segundo
erro alheio é totalmente inadmissível.
PRINCÍPIO COMUNITÁRIO
No sentido do “Common
Sense” de Jefferson. Devemos pensar em toda a comunidade, e não no pequeno
grupo. No bem da humanidade, se possível.
No Brasil, esse
princípio é praticamente inexistente. A tradição da Roma Antiga de privilegiar
os “amicci”, a “famiglia”, é muito presente. Nos países anglossaxões as residências
possuem gramados bem cuidados e árvores em frente, pois ali têm o senso
comunitário mais desenvolvido que nós, no fazer coisas que beneficiem a todos
os que passarem pelo local.
A penicilina, o avião, as
viagens espaciais, o tear mecânico, a máquina à vapor, os computadores, a
Internet e as redes sociais partiram de países anglossaxões porque neles existe
mais presente esse conceito de fazer coisas que beneficiem a todos, não apenas
a si mesmo e o pequeno grupo.
PRINCÍPIO ESTÉTICO
Derivado do Princípio
Comunitário, as coisas que fazemos devem ser belas, pois contribuem para todos,
e não apenas para o criador que teria interesse apenas na funcionalidade.
PRINCÍPIO DO BEM FEITO
Ainda derivado do
princípio comunitário, misturado com o Imperativo Categórico, tudo aquilo que
for feito para outrem, deverá ser bem feito, de maneira que se todos agissem
dessa maneira, pudéssemos tentar nos dirigir à perfeição.
PRINCÍPIO DA NÃO
ONERAÇÃO ALHEIA
Ainda que pese que este
princípio deva ser flexibilizado pelas mulheres, pois, por motivos longos de
explicar aqui, não é imoral a esta ser sustentada pelo marido, em geral, não se
deve esperar que outro pague as nossas próprias contas.
Este é outro princípio
que a maioria não concorda: em geral, as pessoas acham que as mulheres devem
trabalhar e que é lícito aumentar constantemente os impostos para que pequenos
grupos se beneficiem.
PRINCÍPIO DA LIBERDADE
DE EXPRESSÃO
Com exceção daquela que
provoca dano real e imediato (panfletos que ensinem a fazer bombas caseiras,
por exemplo), toda questão de liberdade de expressão deve ser resolvida em
nível cível ou no âmbito de crimes contra a honra individual.
Rasgar a bandeira
nacional, discutir com um policial falar abertamente sobre drogas ou fazer
críticas contra o comportamento de grupos específicos, enfim, expressão pública
ou contra agentes públicos ou de ideias não deveriam nem sequer ser cogitadas
como crimes, mas tampouco a maior parte das pessoas pensa dessa maneira em nosso
país.
PRINCÍPIO DO PRAZER
& PRINCÍPIO DA PERMANÊNCIA APÓS A MORTE
Nós somos os únicos
animais que sabemos que vamos morrer e que o tempo passa. Assim, temos a
obrigação pessoal de aproveitar ao máximo o instante presente no sentido de (1)
obter prazer e evitar a dor e (2) fazer coisas que durem após a nossa morte, de
maneira a tentar evitar que passemos.
O Princípio do Prazer
refere-se ao prazer hormonal e dos neurotransmissores do cérebros: culto das
ações físicas, através da adrenalina, do sexo (oxitocina, vasopresina e
testosterona), das pequenas alegrias (endorfinas), etc.
O Princípio da Permanência
Após a Morte, indica que devemos nos perguntar se o que fazemos será um ato que
reverberá no futuro, ou apenas momentâneo e sem sentido. Se momentâneo, aplica-se ou não o Princípio do
Prazer?
Se algo que fazemos não
é para a nossa permanência ou para o nosso prazer, é um ato vazio de sentido,
apenas um entretenimento, um desperdício inócuo de tempo que devemos evitar.
Será que ficar deitado
no sofá assistindo um programa de auditório no domingo à tarde é produtivo?
Será que dá prazer? Se a resposta para ambas as questões for negativa, por que
raios alguém haveria de perder tempo na vida?
Por tudo isso, vivermos
sem princípios significa viver ao léu, agindo inconscientemente conforme a
sociedade prega, conforme as nossas emoções do momento ou os ditames da grande
mídia.
Possuir princípios
significa possuir escrúpulos e, em última instância, construir um caráter que
não pode ser dobrado pelas circunstâncias, pelos afetos ou pelas modas.
Enfim, ter princípios
significa afirmar a si mesmo que se fazem sempre as melhores escolhas, aquelas
que acreditamos.
Significa, portanto, afirmar-se
como não escravo.
2 comentários:
Seu texto é bom.Mas é cansativo ... Falta um pouco mais de emoção !!!
A ausência de princípio comunitário no Brasil resulta no que ganhou o nome popular de "Lei do Gérson". O brasileiro não consegue entender que, se cada um fizer corretamente a sua parte, todos sairão ganhando.
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