terça-feira, 19 de agosto de 2008

A Favorita e a Casa Cor

O que tem uma coisa a ver com a outra? Nada, mas resolvi colocar na mesma postagem porque quero falar de um único assunto: tendências.
Em primeiro lugar, penso que A Favorita é a primeira grande novela da televisão brasileira, o que veio antes foi só treinamento do pessoal da Globo, não tem nem comparação.
No início da novela li uma crônica do Zeca Camargo
em que ele dizia estarmos voltando aos bons tempos da Janete Clair. Acho que não é por aí, é muito mais do que isso.
O segredo d’A Favorita é simples: um apuro técnico desenvolvido por décadas de “expertise” da equipe somado ao aparecimento de um artista, João Emanuel, coisa que historicamente só acontece quando a sociedade está apta para gerar um gênio. A mudança que o autor fez na teledramaturgia foi simples: tratar de eros e thanatos, amor e morte, os temas eternos da arte. E o fez, não em um nível de Janete Clair ou de novelas dos tempos do rádio, mas com um clima de suspense que lembra muito Hitchcock, o grande mestre do melodrama.
Quem viu a cena da cuspida de Silveirinha ou a perseguição do velho pai de Flora na garagem-elevador, sabe do que estou falando - pequenas obras-primas -.
João Emanuel fez o que faltava para a dramaturgia brasileira, seja ela televisiva, teatral ou cinematográfica, falar de um tema universal. É só por um acaso que a trama se passa em São Paulo, uma São Paulo cênica e belíssima, diga-se de passagem, porque poderia muito bem se passar em Londres, Nova Iorque ou Seul que não interferiria em nada na narrativa.
Em contraposição, todas as outras novelas já feitas, até mesmo a badalada Vale Tudo, falavam de um único tema: os problemas sociais do Brasil. Pobreza, favelização, corrupção política, ricos arrogantes contra pobres dignos e outros maniqueísmos que abundavam nas novelas brasileiras foram aqui deixados para trás.
A grande novidade é que talvez essa novela seja um significativo divisor de águas, marcando o momento em que os brasileiros pararam de olhar para o próprio umbigo e passaram a perceber que pertencem a um grupo muito maior que é o de toda a humanidade.
Só sei que virei noveleiro, fico triste quando tenho que perder um capítulo.

E a Casa Cor? Pois bem, há algumas semanas fui à Casa Cor de Curitiba e achei tudo meio escuro. O predomínio de cores neste ano é o preto e o prata. Se resolver apagar as luzes da casa os ambientes ficam mais escuros do que a tumba do Conde Drácula. Deprimente.
O que me chamou mais a atenção era um ambiente no primeiro andar com uma mesa decorada de forma totalmente rococó. Seria uma tendência ou apenas inspiração de uma única arquiteta?
Acho que é o que vem por aí, o estilo zen está ficando para trás.
Não haveria nada a comentar se historicamente o rebuscamento em arte não precedesse períodos de grande convulsão social. Foi assim, quando a arte medieval deu lugar ao renascimento, quando a monarquia da França foi decapitada e na Belle Époque, que precedeu a Primeira Guerra.
Será que é isso? Estamos saindo do classicismo do clean e entrando em um neo-romantismo?
Assim, parece que estamos em uma contradição, primeiro em termos de Brasil, que parece chegar a uma maturidade intelectual nunca antes mostrada e, num aspecto mais amplo, as tendências mundiais que estão chegando perto de um nível de desequilíbrio.
Esperemos para ver.