terça-feira, 31 de março de 2009

A Hora do Planeta

Eu já falei por aqui, vou falar de novo, de forma bem didática.
O rio se move, o oceano, em relação a ele, está parado. Quando o rio chega no oceano, as suas águas se desaceleram, gerando calor, como acontece com um freio de um carro. Quando as suas águas passam pelas paredes formadas pelo seu canal, elas provocam atrito, gerando calor.
Isso é da natureza, em princípio, não se pode e nem se deve mudar.
Quando os engenheiros constroem uma hidrelétrica, isso é, transformam o a diferença de potencial “hidro” em energia elétrica, eles não estão aquecendo o planeta, apenas a transformando, pois na natureza nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma. Quando acendemos uma lâmpada, em um país no qual 80% da matriz energética é de origem hídrica, praticamente não estamos contribuindo para o aquecimento do planeta. Se usarmos lâmpadas incandescentes no lugar das fluorescentes, ou ainda, ligarmos o ar condicionado, o mesmo ocorrerá, o aquecimento apenas será transferido daquele provocado pelo movimento do rio, para as nossas casas. A única diferença será no valor da conta, não no aquecimento global.
Assim, quem já viu aquele anúncio em que se propõe substituir as lâmpadas incandescentes por fluorescentes para salvar o planeta? Será que dá para entender que seria um bom conselho ao grupo publicitário que a executou, que voltasse a frequentar aulas de física do ensino médio?
Tudo bem, quando apenas uma agência de publicidade e um cliente que aprova o anúncio pisam na bola, asneiras, assim como shits, happens. Porém, o que se pode dizer quando o Poder Público desliga todas as luzes dos monumentos de diversas capitais do país e multidões acendem velinhas em praça pública?
Observe-se bem: as velas, essas sim, por queimar parafina, combustível de origem fóssil, esquentam o planeta...
Todo o potencial hidrelétrico instalado, se não for utilizado, será simplesmente perdido, pois atualmente não pode ser acumulado de maneira economicamente viável. Em outras palavras, aqui no Brasil, apagar as luzes é simplesmente desperdício das riquezas naturais ou desperdício do dinheiro público, mas não um ato de benevolência com a humanidade ou com as gerações futuras.
Se todas as horas que se passam no planeta Terra fossem dessa estupidez magistral, coitados dos terráqueos.

sábado, 28 de março de 2009

O Meu Barbeiro e a Sociologia Política

Se fosse possível definir algo pelo seu oposto, o termo “ciência” seria definido como aquilo contrário à “opinião”. Em outras palavras, sociólogos, os novos mandarins, fazem ciência, e o meu barbeiro dá palpites.
Ilustra-se com a parábola do matemático e do arqueiro. O matemático diz ao arqueiro que, teoricamente, ele jamais conseguiria acertar o alvo, pois sua flecha, a cada unidade de tempo, percorreria a metade do espaço necessário, nunca chegando ao seu destino. O arqueiro, em silêncio, retesa o seu arco e, soltando a flecha, acerta o alvo, remetendo novamente o sábio à sua dúvida atroz.
Ou ainda, perguntamo-nos se o superhomem das histórias em quadrinhos, com sua super visão telescópica de raios-X e que vê através das paredes, além da metrópole e além das estrelas não seria apenas um pobre cego, porque, aquele que vê sempre além e mais além, nada consegue ver.
Ao perguntar para o meu barbeiro o que seria política, ele me responderia, ainda que com palavras diversas do seu linguajar simples e peculiar, que é uma simples guerra de pedras e tacapes entre “yahoos” swiftianos. Política, principalmente a terceiromundista, com exceções contadas em miúdo, divide-se em políticos desonestos, os que roubam para o engorde da própria algibeira, e políticos honestos, que roubam para satisfazer o seu eleitorado e apaniguados, pois nestes confins a patifaria também pode significar sinônimo de honestidade. Qual pode ser a explicação para a ascenção ou derrubada de um presidente em um país fictício? Vontade Popular? Vontades políticas? Ética e amadurecimento da consciência da população? Não: interesses de uma emissora de TV. O meu barbeiro sabe disso, mas os cientistas, não. O que acontece na realidade não cabe nas linhas de texto, pois aqui o “paper” não muito se diferencia do papel em branco.
A sociedade é conflito, dizem os cientistas. Entre ricos e pobres, sábios e ignorantes, fortes e fracos. Perguntando ao meu barbeiro, ele só quer uma coisa, pagar menos impostos, ou, pelo menos, que os impostos que ele paga sejam mais bem empregados. Se com ele elaborássemos a questão, ele nos escancararia uma luta entre, valendo-nos dos termos elaborados pela biologia, hospedeiros, aqueles que pagam impostos, e parasitas, aqueles que deles se beneficiam. Sim, porque todos sabemos que são castas diferentes. Existem empresários, profissionais liberais e empregados do setor privado que apenas pagam, e toda uma burocracia, muitas vezes corrupta e desnecessária, que se locupleta.
E por que os cientistas se afastaram tanto dessa obviedadade? Porque se admitissem que a política é chão e imediata, não teriam motivo pelo qual justificar a sua existência, pois a prática do tiro e o treinamento de pugilismo seriam ciências mais eficientes para enumerar e estabelecer as práticas do poder. E se descobrissem que a guerra de classes não existe, porém, como oposição ao declínio de qualquer outro conflito abstrato, ocorre uma disputa de castas que se procede entre hospedeiros e parasitas, teriam que contestar a própria existência do Estado, que dá provento estrutural e financeiro para a subsistência diária de tal sapiência vazia.
Assim, por mais que a opinião do meu barbeiro, mesmo reles, plebéia e inconsistente, pareça vã, tenho certeza que ele julga os fatos de maneira tão honesta quanto corta o meu cabelo.

sábado, 21 de março de 2009

A Ideologia do Estatismo

O que é um liberal?
Uma definição simples: liberal é aquele que procura reduzir os impostos. Em última instância, reduzindo os impostos, reduz-se o tamanho do Estado e todas as suas consequências, a corrupção, a ineficiência, a troca de favores, a venda de cargos, etc.
Essa definição é a que estudamos na escola, ainda que ninguém nos diga de uma forma tão simples: a Inconfidência Mineira, uma revolução liberal, buscava reduzir impostos, a Revolta Farroupilha, outra revolução liberal, buscava reduzir impostos... Liberais buscam uma simples coisa, serem menos roubados pelo Estado.
Qual é o contrário de liberal, portanto? É aquele indivíduo que busca aumentar impostos, aumentando o tamanho do estado ou seus gastos públicos.
A dicotomia política se resume a esses dois extremos, um defedido por aquele que gera riquezas e paga a conta, outro por quem do Estado se beneficia.
Muito bem. Agora qual é o antônimo de liberal? Qual é a palavra que define essa atitude perdulária com o dinheiro dispendido pelos outros? Comunista? Não, esse não é o antônimo. Nazistas também tentavam aumentar o tamanho do estado. Populistas em geral? Sociais-democratas de modelo escandinavo? Petistas? Tucanos?
Assim, chegamos na primeira constatação, não existe uma palavra que defina um aumentador de impostos e isso faz parte da sua ideologia, evitar que se comente muito o assunto de forma direta. Portanto, combatendo esta idéia, criemos um neologismo: “ESTATISTA”.
Por estatista, não confundir com estadista, nos referiremos a todo aquele que toma atitudes públicas que visem, em última instância aumentar o tamanho do Estado e, conseqüentemente, aumentar os impostos.
Tendo essa definição em mãos, derrubamos facilmente argumentos políticos de alguns esquerdinhas que chamam, por exemplo, o governo Fernando Henrique de “neo-liberal”. Ele aumentou ou diminuiu os impostos? Ora, aumentou, e ainda criou uma série de agências reguladoras, bolsa-escola, bolsa-gás, controles mais estreitos de arrecadação e outras formas de extorquir e gastar o dinheiro público. Portanto, ainda que tenha acabado com alguns cabides de emprego como a Vale, a Embraer e as empresas de telefonia, a última coisa que podemos chamar o período FHC é de um governo liberal. Ora, foi um governo altamente estatista e dizer o contrário é apenas fazer uma cortina de fumaça sobre o cerne da discussão .
Lembremos que o governo Lula reduziu o IPI dos automóveis e produziu uma contenção dos gastos públicos após a crise econômica mundial, mas isso se deveu por uma contingência econômica, não por uma convicção ou um estilo de administrar. Atos liberais não tornam uma administração pública liberal.
Ainda no desmonte do discurso ideológico, é preciso cessar de mencionarmos tudo que se refere a pagamento de impostos, com expressões lançadas na maciota. Contribuintes, não são “contribuintes”, isso é uma mentira! Os que pagam impostos são Pagadores de Impostos e fim. Não se deve mencionar que houve um “desvio no erário público”, pois, num país de iletrados, poucos sabem o que isso significa, mas sim devemos falar que houve “roubo no tesouro nacional”, daí todos entendem. Taxas de juros? O que são, na verdade, senão “interesses”, como se diz em espanhol e em vários idiomas? Não existem “tributos”. Existem taxas e impostos. Não existe “arrecadação”, mas extorsão.
Será que dá para perceber que ocorre todo um interesse em escamotear das mais diversas maneiras o verdadeiro discurso arrecadatório (extrosivo!)? O economês brasileiro, mais especificamente o economês que trata da tributação (taxação, imposição!) é extremamente ideológico.
Ora, mas, se, em princípio, perguntarmos para qualquer passante na rua se ele gostaria de reduzir os impostos, responderá que sim. Se o fato de reduzir impostos ser um bem, é consenso entre a grande maioria dos brasileiros e uma idéia simpática à raça humana em geral, por que então eles sobem de maneira constante?
Quando há um crime, a primeira pergunta que um investigador faz é “Quem ganha com isso?” .
Perguntemos então. Quem ganha com essa ideologia?
Nomes aos bois! Façamos o rol:
- políticos na forma de distribuição de cargos, desvios do tesouro público, aumento de poder e riqueza de forma geral;
- funcionários públicos que têm interesse na manutenção e aumento de cargos e salários;
- universidades públicas, principais desenvolvedoras do discurso ideológico;
- algumas fundações, ongs, associações, sindicatos;
- empregados de empresas públicas;
- países estrangeiros, pois a grande carga tributária (taxativa, impositiva!) restringe o crescimento do país o que coloca-nos em desvantagem competitiva;
- alguns grandes empresários e apaniguados políticos que se beneficiam irregularmente do dinheiro público;
- meios de comunicação que recebem anúncios do governo e de empresas públicas;
- etc.
É claro que não podemos dizer que é uma unanimidade nesses setores citados, pois existem exceções e as metonímias são sempre perigosas. Como em todo meio humano, existem vozes discordantes, porém, falando de uma maneira geral, não são justamente os que têm um discurso estatizante? Será que existem muitos liberais nas áreas em que as pessoas ganham mais do poder público do que pagam de impostos que defendem o trabalho e a livre iniciativa, como prega a nossa constituição, ou a maioria esmagadora faz um esforço constante para que tenhamos mais órgãos públicos, mais funcionários, mais e mais gastos... consequentemente mais impostos?
Assim, para sonharmos em mudar nossa realidade, comecemos simplificando o discurso. Liberais são os que querem reduzir impostos, estatistas os que fazem força para aumentá-los. Não dificultemos as coisas em um intelectualismo acadêmico absurdo apenas com a intenção de que ninguém entenda do que se fala e assim se consiga manter as estruturas de poder.