sábado, 1 de agosto de 2015

O que merece o dentista que matou covardemente o leão a flechadas?

Fonte da Imagem: Reprodução/Facebook/Zimparks

O que merece o dentista que matou covardemente o leão a flechadas? Que tenha seus olhos furados e depois amarrado a quatro cavalos e seus membros arrancados? Que o seu tronco, ainda vivo, seja queimado em uma fogueira de achas de cedro e as cinzas jogadas em latrinas pelos quatro cantos da África para que venha então a sua clínica a ser dizimada pela multidão ensandecida, o terreno em que ela se encontra salgado para que nele nada mais nasça e os seus descendentes amaldiçoados até a quinta geração?
A narrativa tem todos os elementos que motivam um discurso de ódio facilmente assimilado pelos incautos: o maldoso imperialista norteamericano branco, provavelmente heterossexual, adepto do sangue e da violência, chega sem qualquer provocação para corromper uma sociedade intrinsecamente boa, desprovendo-a de sua riqueza natural mais preciosa, de maneira que um futuro de brilho e graça que já se avizinhava, torne-se impossível para o país impoluto sem que esta mácula seja extirpada.
Imagine-se se o ator fosse outro. Um pequeno e pobre pastor africano negro mata a flechadas, por não ter dinheiro para comprar uma espingarda, o leão que devorava as ovelhas que garantiam o seu sustento. Se o leitor possuir ao mesmo tempo ambas das raras qualidades humanas da honestidade e da inteligência, há de convir que a mídia internacional ficaria inerte e nada seria compartilhado ao redor do mundo nas Linhas de Tempo do Facebook.
A repercussão deste crime, portanto, diz respeito, principalmente, ao autor, não ao ato em si.
 “O fascismo pode começar pela caça aos tarados.”, dizia o cineasta Bernardo Bertolucci. Não se está discutindo aqui a covardia e a violência do caso em tela, mas a milenar batalha entre civilização e barbárie.
Foi exagero o recurso narrativo dos suplícios medievais na introdução deste artigo? Pois até ontem, 200 mil americanos já tinham assinado uma petição pedindo pela pena... de degredo! Que ele seja entregue para o Zimbábue, pediam os neoselvagens de Minnesota. Ainda que tal ação seja prevista no ordenamento jurídico norteamericano, caso exista reciprocidade entre os dois países, será que aquele país africano conseguiria manter a integridade física do criminoso nas atuais condições em que se encontra a comoção produzida pela mídia mundial?
É nesses momentos de comoção que os oportunistas aproveitam para levarem vantagem pessoal através da relativização dos direitos do indivíduo. Será que se devem entregar as nossas liberdades e garantias contra os desmandos do Estado, apenas com a finalidade de punir um idiota?