sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Farinha do Mesmo Saco


Aqui no Paraná está passando na TV uma propaganda institucional da CEMIG.
Para o que a nós, do Paraná, nos interessa saber da companhia de eletricidade de Minas Gerais? Não seria apenas puro e simples desperdício de dinheiro público? E se fosse parte da pré-campanha de Aécio Neves ao planalto, daí não faria sentido?
Com que petulância os tucanos estão atacando o PT por fazer propaganda subliminar do terceiro mandato de Lula através do Banco do Brasil? Eles não estão fazendo a mesma coisa, promoção pessoal com dinheiro público, usando os meios que dispõem?
O que o eleitor haveria de pensar? Que querem nos convencer que as coisas erradas do Brasil não estão erradas? Que ao invés de acabarmos com a matéria fétida, devemos apenas trocar as moscas do seu sobrevôo?
Nas próximas eleições, todos queremos um gato, não apenas trocar de ratos. Chega de farinha do mesmo saco. Chega de tirar o sofá da sala.
Como tenho insistido neste blog, existe aí uma necessidade de um novo partido porque há um nicho de mercado político bem interessante, o de um partido, nos moldes dos republicanos americanos, e que tenha como pedra de toque uma única proposta: reduzir os impostos.
Reduzindo os impostos, estrangula-se automaticamente o tamanho do Estado. Os órgãos públicos precisarão ser mais eficientes ou extintos. Menos dinheiro para roubar, menos corrupção e aos poucos a iniciativa privada irá se tornar mais lucrativa do que mamar da teta do Estado. É assim que o Brasil melhora.
Agora, qual é a opção política no Brasil, se o objetivo da maior parte dos candidatos é se dar bem e empregar os amigos? Quem tem um projeto de país? Quem tem uma idéia que vá contra o projeto atual de aumentar a garganta profunda que a tudo devora?
Ainda não tenho a menor idéia em quem vou votar daqui a três anos, mas já estou formando a minha opinião sobre quem devo começar a evitar.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Heróis de Dois Mundos

(obrigado, Roberto, pela sugestão de pauta)
Nós, os gaúchos, temos a figura de Garibaldi como intocável. É nome de avenidas, praças e até cidade do interior. Lutou ao lado de Bento Gonçalves pela nossa separação do resto do país, certo? É. Só que esse mercenário que queria separar o Brasil, lutou pela unificação de sua Itália, esse detalhe ninguém comenta, dois pesos e duas medidas. Ao meu ver, era um safado, canalha, aventureiro sem princípios que lutava para quem pagava mais, mas meus conterrâneos não compactuam de minha visão.
Seria apenas uma opinião pessoal e um caso histórico isolado? Que lição tiramos de Garibaldi? Devemos alimentar uma xenofobia infrutífera? Deixem eu colocar alguns dados.
O Brasil é o quinto país em área do planeta. Somos maiores do que a parte continental dos Estados Unidos. Aqui se plantando tudo dá, se não dá no sul, dá no nordeste e vice-versa. Temos chuvas abundantes e clima ameno. Um eucalipto demora curtos 7 anos para crescer em clima subtropical, sendo que o nosso papel tem potencial de ser muito mais barato do que no resto do mundo. Conseguimos duas safras por ano de uvas e outros cultivos. Temos potencial de industrialização imenso. Já tomamos a liderança mundial em setores como carne e suco de laranja. A soja brasileira é a mais competitiva do planeta. O açúcar e o álcool que despontam como riquezas do futuro estão plenamente implantados, inclusive garantidos por um mercado interno fortíssimo. Temos uma economia agrícola de escala que nenhuma outra nação da Terra possui.
Agora, pergunto. Seria uma paranóia, uma teoria da conspiração, afirmar que países europeus que estão com seus territórios esgotados e precisam plantar até à beira das estradas por centímetros a mais de um solo pobre e gelado, metodicamente nos sabotam para que esse gigante que somos não se mova ainda mais?
Por que será que países europeus patrocinam o MST? Será que é por que eles são bonzinhos ou será que uma economia de pequenas propriedades nos faria perder economia de escala em vários produtos agrícolas?
Por que será que o próprio candidato à presidência da França, José Bové veio até aqui, pessoalmente, destruir com suas próprias mãos uma plantação de soja?
Por que será que agentes provocadores europeus foram presos junto com os invasores dos laboratórios de pesquisa de celulose no Rio Grande do Sul? Será que é por amor à causa dos pobres do Terceiro Mundo ou será que esses europeus estão pensando mais nos seus próprios bolsos?
E, pergunto mais, o próprio partido do governo e o Presidente da República apóiam o MST por questões humanitárias, têm a intenção de acabar com a pobreza, ou estão simplesmente entregando o país para os grupos estrangeiros que, a que tudo indica, estão aqui para provocar o maior dano possível em nosso amado Brasil?
Desculpe a expressão chula, mas é propícia: ficar de quatro e abrir as pernas para os europeus já é do nosso feitio, pelo menos desde o tempo das guerras civis que sucederam a independência. Que eles tentam nos dividir para nos governar, também é coisa velha. Quantos Garibaldis ainda teremos que venerar para que nossa população perceba que está sendo enganada?

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

O Olhar

Só visitei Brasília uma vez na vida, a turismo. O avião pousou logo depois do meio dia e, assim que me instalei, fui até a rodoviária comprar passagem para o dia seguinte, pois queria conhecer Cuiabá. Fiquei amargamente arrependido, pois em uma tarde havia visto tudo e ainda tinha mais um dia de vida para desperdiçar naquela cidade horrível.
Hoje, depois de mais de vinte anos, não penso mais assim. Para apreciar Brasília, é preciso educação, não é uma beleza aos olhos, como o Rio ou Florianópolis, mas da mente. Assim como eu um dia fui cego a esse tipo de conhecimento, percebo que a maioria das pessoas não consegue enxergar o belo no ascetismo formal.
Uma das coisas que escrevi no meu livro
A Empresa Sublime, foi que existe uma linha evolutiva do design que não pode ser quebrada. A linha vai sempre em direção à simplicidade. Tudo que for no sentido de limpar, de tornar mais aerodinâmico, mais liso e mais curvo pertence a essa linha e tudo que for mais rebuscado, acaba virando modismo passageiro. Assim, o art-déco, o estilo aerodinâmico americano, os móveis pés-de-palito dos anos cinqüenta e até os móveis de plástico dos anos 70 pertencem a esta evolução, mas os móveis coloniais, por exemplo, não.
O que diferencia? Móveis coloniais são pesadões, quadradões, texturizados, tudo de que essa evolução do pensamento humano a que me refiro, foge.
Nesta semana, vi uma entrevista na TV com arquitetos mostrando a tendência dos novos móveis de placas de fibras naturais (coco, etc.) e de reaproveitamento (filtros de café usados, etc.). Podemos afirmar com toda a certeza: é uma moda passageira, pois até agora não se conseguiu superar o estilo “hi-tec” dos anos noventa. Portanto o que é belo, ou seja, o que vai virar clássico e será incorporado aos novos projetos de design do futuro? O simples, o liso, o curvo, o leve, o limpo, o que não junta pó.
E Brasília é simples. Brasília é tudo isso. Em duzentos anos ainda vai se estar construindo no estilo de Niemayer porque ele conseguiu criar construções grandiosas com um mínimo de rebuscamento.
A sua obra é uma lição de apuro visual que muitos designeres e arquitetos deveriam aprender.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Histórias Bizarras nº 1

Eu nunca acreditei em fantasmas. Eles não existem, certo? Fruto da imaginação! Deixem eu contar algumas histórias, então.

Eu tive uma infância que poderia ter sido narrada por um Monteiro Lobato. Minha avó, Francisca, que todos chamavam de “Dona Chiquita”, era uma senhora gorda de cabelos brancos, que fazia todos os tipos de bolos e quitutes na sua chácara. Vivia só, com uma empregada, um velho agregado no sítio e um caseiro com sua família. No verão, meus pais alugavam duas cabines de vagão-leito do trem e íamos todos, eu, minha irmã e eles, viajando durante a noite inteira até a casa de minha vó na cidadezinha do interior. Ao chegar por lá íamos da estação ferroviária até a chácara em uma charrete puxada por um cavalo marrom e branco. As roupas eram lavadas na “sanga” (riacho) e não havia energia elétrica. Para tomar um banho era preciso girar a roda d’água manual para encher a caixa e depois acender o fogo no aquecedor à lenha. A água para beber era de poço que era trazida para casa em dois grandes baldes de alumínio. À noite, meu pai, sentado na rede, ouvia o “Repórter Esso” no rádio de pilhas e depois todos jogávamos canastra sob a luz de um velho lampião a querosene.
Em outras palavras, nas minhas férias de infância, só faltou mesmo o Visconde de Sabugosa e a boneca Emília.
A casa da chácara era antiga, década de 30 ou 40, não sei, em formato de L, com um longo corredor. De vez em quando aparecia uma raposa andando pelo teto e todos na casa acordavam no meio da noite para matar o bicho, pois naquela época isso ainda não era politicamente incorreto.
Como ainda não havia capela mortuária na cidadezinha, muitos foram velados na sala da casa. Não sei se coincidência ou não, mas fatos estranhos aconteceram e acontecem até hoje por ali.
Essas histórias foram meu batismo no mundo do bizarro.

Por exemplo, na sala, tinha uma lareira com um relógio de pêndulo pendurado na chaminé, marcando com seu ritmo um tempo que passava devagar. Duas pessoas, em ocasiões diferentes, já viram uma velhinha curvada olhando para dentro dessa lareira, de modo que quando eu era criança, sempre que tinha que passar pela sala em direção aos quartos, ficava com medo que a tal velhinha aparecesse para mim, mas isso nunca aconteceu.
O que aconteceu, isso sim, anos mais tarde, foi com o meu pai, ateu convicto e que fazia zombaria de crenças e supertições. Todos tinham ido à cidade e ele tinha ficado sozinho na chácara naquele dia e estava com o neto no colo, caminhando no pátio, quando olhou para dentro da casa e viu uma mulher por lá. Então, pensou para ele mesmo em não falar nada para não assustar o menino, mas logo, meu sobrinho pequeno perguntou: “vô, quem é aquela mulher lá dentro de casa...?”
E não é só isso. A chácara, no momento em que escrevo, pertence a uma ex-cunhada que, seguindo a tradição de minha avó, mora sozinha por ali. Ela conta que levou uma prima para pernoitar na casa e durante toda a noite algo puxava as cobertas, deixando a visita descoberta continuamente. E mais uma. Meu pai sempre sentava em uma cadeira de balanço antiga, uma daquelas de madeira vergada, que tem por lá. Diz a minha ex-cunhada que já viu a cadeira balançar sozinha...

Uma amiga relatou histórias parecidas que se passaram com ela. K., tinha alugado uma casa em Fortaleza e durante a mudança fez amizade com a vizinha de muro. No dia seguinte, a vizinha perguntou:
- E então, K.? Gostou da casa?
- Gostei, só que tem muitos ratos.
- Não, são ratos, não. Você vai ver.
Na noite seguinte, o irmão de K. foi dormir na casa dela, cada um no seu quarto, na sua rede. De manhã, ela reclamou com o irmão:
- Olha! Eu quase me levantei para reclamar com você de tanto barulho. Por que não parou de caminhar a noite toda?
- Eu? – protestou o irmão – Eu pensei que fosse você caminhado.
No período que ela morou ali, conta que todos os dias ouvia ruídos de todo o tipo na casa.
Para finalizar, recebeu a visita de uma amiga e sua filhinha. Em um momento, a criança ficou olhando para uma parede. Quando os adultos perguntaram o que ela tanto olhava, ela respondeu que era para a menininha que estava ali. Conversando com a vizinha depois, K. recebeu mais uma informação chocante: naquela casa havia mesmo morrido uma menininha.
(continua nas próximas semanas)

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Cansarei do Cansei?

Publiquei o texto abaixo na comunidade Cansei, do Orkut. Fui deletado pelos moderadores. Por isso, caro leitor deste blog, se você acha que vale a pena participar do movimento, pense duas vezes. Só por isso, já vi onde vai acabar: já cansei do Cansei.

Por que não cansaremos do movimento Cansei? Já não vimos o Sou da Paz? Já não vimos o Impostômetro? “Doe Ouro pelo Brasil”! Movimento cívico desse, daquele e daquilo outro... O que mudou?
Vou repetir o que já disse em outro tópico: passeata, abaixo-assinado, nariz de palhaço, cruzes enterradas no gramado, e-mail de protesto e outras bobagens de mesmo matiz já foram esmagadas por um gigante implacável: a realidade dos fatos.
Eu não sei ainda exatamente o que funcionará, mas tenho absoluta certeza de que os métodos já tentados fracassaram vergonhosamente. Por isso, qual é a diferença sutil, aquela que justifique que não estou por aqui simplesmente perdendo o meu tempo com asneiras infrutíferas?
Vejamos: de onde menos se espera, daí é que não sai mesmo nada, já dizia o Barão de Itararé. Portanto, do Estado brasileiro, nada podemos esperar. Não só do Estado, mas também de todos aqueles que vivem dele ou se apóiam nele: funcionários públicos, empresas coniventes, grandes redes de televisão, ONGs, estatais, sindicatos ou organizações profissionais e empresariais, fundações, de toda a espécie, artistas que se aproveitam de mamatas e incentivos fiscais, campanhas de caridade cujo único interesse é o de se escafeder dos impostos... enfim, sobre o que está aí, tenho absoluta certeza que não funciona. A crueza da realidade, prova.
Muito bem, continuando. Onde está a saída? Insisto, em um grupo que tenha interesse em mudar isso. E quem tem interesse? O populacho que só curte diversões baratas? Não creio. Quem teria interesse é quem ganhasse dinheiro em melhorar o país. Empresários criativos.
No idioma chinês, a palavra oportunidade está contida na palavra crise. Os órgãos de defesa do consumidor não funcionam? Por que não criar um órgão particular, como o “Costumer Reports” dos Estados Unidos? As pessoas são desonestas? Por que não criar um clube de negócios em que se possa denunciar livremente aqueles que agiram mal. O dinheiro corrompe? Por que não acabar com o dinheiro cash? Já existe o meio tecnológico para isso, só falta investimento e boa vontade.
Por isso, se alguém quiser um sócio idealista e com boas idéias para ganhar dinheiro e de lambuja ainda mudar o Brasil para melhor, conte comigo. Se ao contrário, caros companheiros de comunidade, vocês estiverem aqui apenas pela atmosfera festiva e falta do que fazer, façam então algo mais útil: escrevam um livro, plantem uma árvore... tenham um filho... mas por favor não me façam perder tempo com esse “dejá vu” patético.
PS: Luciano Camargo já cansou do Cansei.

domingo, 26 de agosto de 2007

Metrô

Passivo, numa velocidade estonteante
Percorreu o subterrâneo de uma das maiores cidades do planeta
E quando o trem parou na estação
Seu olhar penetrou no mosaico fluorescente da janela de um outro vagão
E perplexo percebeu
O olhar que passara a vida toda a procurar
E a lhe procurar.
Nesse instante lhes passou pela cabeça
Um terrível desejo de abraçar,
Separavam-lhes vidraças tão espessas
Que só foi possível se manter no lugar.
Numa angústia que nada reconforta
Não foi possível nem um gesto esboçar
Um apito selou todas as portas
E cada qual foi buscar o seu exílio
Porque os trilhos, vazios nos dois sentidos
São construídos para a vida continuar.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Por que se Ri?

Aristóteles, já dizia que rimos daqueles que são inferiores a nós.
Se essa afirmativa que se mantém a mais de dois mil anos estiver correta, ela tem uma conseqüência, que é a de que o contrário também é verdadeiro, ou seja, para sabermos quem consideramos inferiores, basta saber de quem rimos.
Hoje quase não se ouve mais piadas racistas no nosso país, o que era muito comum há um quarto de século. Portanto, parece que a sociedade está considerando mais a sério a questão da igualdade racial, as leis anti-racistas parecem estar surtindo efeito.
O mesmo não acontece com as diferenças sociais, pois piadas “de pobre” continuam em voga nos programas humorísticos. Na questão das diferenças sexuais parece que a sociedade não evoluiu. Três séculos antes de Cristo já se ria dos personagens homossexuais e eles continuam sendo engraçados.
Um detalhe que muitos humoristas parecem não perceber é de que homens vestidos de mulher são engraçados, mas o mesmo não acontece com mulheres vestidas de homens. O caráter sexual do humor se dá sempre na relação de que o incubo (aquele que fica por cima ou penetra) é o dominador, e o súcubo (o submisso) é o dominado. dessa maneira, mesmo depois de todos os avanços feministas, a sociedade como um todo ainda considera o homem superior de alguma forma.
É o mesmo caso da prostituta ou da mulher tarada. Elas são engraçadas por serem de alguma forma mulheres inferiores, mais súcubas do que as demais. O homem traído é engraçado por ser súcubo às vontades da esposa que o domina sexualmente e assim por diante.
Temos ainda o estrangeiro, inferior por não conhecer as nossas cultura e língua.
O baixinho é cômico pela inferioridade física. O magrela. O feio. O empregado “capacho” do chefe. O covarde. O preguiçoso. O estúpido. O alcoólatra. Todos de alguma forma perante a sociedade parecem ser considerados com algum grau de inferioridade.
Um personagem que em um primeiro momento parece fugir dessa regra é o político, que na verdade é o dominante do nosso grupo social. Acontece que não é assim que a população o vê: a corrupção, as invejas pelo poder, a soberba e os vícios políticos são vistos pela população como fatores negativos, grudados à imagem daqueles mais conhecidos.
Não sei se o velho Aristóteles estava certo, mas que ligar elementos que detonam o riso à inferioridade social, tem um certo fundamento, isso tem. Todos são iguais perante a lei, mas no que tange ao senso comum da população parece que alguns são mais iguais do que os outros...

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Segurança Aérea

Nos tempos que transcorrem, muito se fala em segurança aérea e medo de voar, por isso preciso contar algumas poucas histórias, das muitas que vivi nos meus tempos de piloto.
Meu primeiro dia de instrutor em um aeroclube de interior do Rio Grande do Sul. Fui fazer um vôo com um outro piloto num avião de dois lugares e fuselagem de tela e resolvi fazer uma manobra de estol (perda de sustentação da asa e queda livre por uns duzentos metros...). Erguemos o nariz, o carburador secou e o motor parou. Pousamos em uma estrada, bem em frente a um posto de gasolina. Encheu de crianças em volta. Como a partida era dada manualmente, saí do avião, gritei “contato” para o outro piloto, girei a hélice, olhamos se não estavam vindo carros e decolamos dali mesmo. Chegando de volta no aeroclube, contamos o ocorrido para o mecânico e ele falou: “Deixa eu ver!” Subiu com outro piloto e quando estavam bem alto, ouvimos o motor apagar de novo... desceram de novo planando até a pista. Aliás, naquele aeroclube faziam até acrobacia com aviões de passeio e eles nunca quebraram!
Fui decolar em um avião de asa alta e falei para o mecânico consertar os amortecedores. Ele apanhou a asa e a baixou dois metros de altura até o chão, falando “É, está brabo mesmo!” Quando pousei, o amortecedor cedeu e quebrou a hélice contra o chão. Foi uma barulheira!
PT-19 é um avião de treinamento de antes da segunda guerra. Quando se vira de cabeça para baixo, o piloto fica pendurado só pelo cinto de segurança, pois não há cabine. Se ficar mais de 40 segundos no dorso, apaga o motor. Já fiquei de cabeça prá baixo a 2000 pés.
O planador é um avião que já decola em pane, pois não tem motor. Lá pelas tantas, puxa-se uma alavanca no painel e o avião que reboca é solto. A partir daí se ouve só o barulho do vento, das melhores sensações de voar que se pode ter. Recomendo.
Quanto mais se sobe em um avião sem pressurização, mais frio é. Eu estava solo, voando em rota no Rio Grande do Sul, com a bússola quebrada. Bem na minha frente surgiu uma nuvem enorme. Nuvens por todo o lado e eu não tinha instrumentos que me permitissem perder o contato com o solo. Não tinha combustível para voltar e achei que dava para pular a nuvem. Fui subindo, subindo... cheguei a mais de 11.000 pés, quase 4.000 metros, altura na qual a respiração começa a ficar ofegante. Pulei a nuvem, desci para uma altitude mais confortável, mas não encontrei mais os meus pontos de referência. Tive que procurar a Lagoa dos Patos e seguir a sua margem até chegar ao meu destino com mais de 40 minutos de atraso.
Já tive perda de rotação do motor em vôo. Já tive início de incêndio em uma decolagem.
Uma vez fui levar o treinador de um time de futebol para assinar uns contratos em várias cidades. Chegamos em Santana do Livramento, fronteira com o Uruguai. Na hora de decolar, pedi para o guarda-campo para abastecer, e nada... não havia combustível por lá, só em uma pista de aviação agrícola ali perto. Muito bem. Decolamos, pousamos. Cadê o combustível? Só na safra. E não era época de safra! Próxima parada, Dom Pedrito. Nada de gasolina por lá tampouco, e o treinador com pressa. Fiz uns cálculos e achei que daria para ir até Bagé, a próxima escala. O combustível curto, avião e velocidade reduzida para poupar mais... nem no meu carro gosto de chegar tanto na reserva como eu cheguei daquela vez, já estava procurando um campinho sem vacas para pousar quando parasse o motor. Surgiu a cidade de Bagé no final da tarde e pousei no limite, acho que mais uns cinco, dez minutos teria parado o motor. Ufa.
Já vi e ouvi falar de tudo no meio aeronáutico. Pilotos que saíam para fazer treinamento, com um pouso intermediário para comprar cocaína. Piloto que fazia “tuneau” (uma manobra acrobática) com Boeing 727. Piloto que decolava sem travar o assento e este corria para trás na decolagem, não permitindo que ele alcançasse os comandos do avião. Piloto que, para decolar em pista curta, amarrava o avião a uma castanheira, dava todo o motor e quando a máquina começava a sair do chão, alguém atrás cortava a corda. Comandante de companhia sulamericana que embarca no vôo carregando um salame e grita injuriado para os passageiros: “Un dia esta mierda se cale!” Piloto que amarrava uma galinha viva num barbante e soltava pela janela da cabine até que os passageiros olhassem para o lado e vissem passar uma galinha voando... Já vi até cachorro amarrado ao cinto, voando de passageiro de ultra-leve!
Agora pergunto, caro leitor: você ainda tem medo de avião? Acha perigoso tomar um Boeing até Guarulhos? Eu que o diga: relaxe e goze!

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Conselho Para um Jovem Negociante

Eu não costumo publicar textos ou fotos (salvo as ilustrativas) de outros autores neste blog, mas há uns anos, traduzi um texto clássico que acredito que todos deveriam ler. Fala sobre as vantagens de se ser honesto, o que muitos dos nossos conterrâneos deveriam aprender.

Conselho Para um Jovem Negociante
Por Benjamin Franklin, escrito em 1748

AO MEU AMIGO, A.B.:

Conforme você me pediu, eu escrevi as seguintes sugestões as quais têm me servido e talvez, se observadas, assim servirão a você.
Lembre-se que tempo é dinheiro. Aquele que recebe dez shillings por dia pelo seu trabalho e fica vagando ou senta-se displicentemente a metade daquele dia, e além disso, gasta seis pences durante a sua diversão ou indolência, não deve apenas contar apenas aquela despesa, pois ele realmente gastou, ou melhor, jogou fora mais cinco shillings.
Lembre-se que crédito é dinheiro. Se um homem deixar o seu dinheiro descansando nas minhas mãos além do tempo da dívida, ele me dá os juros, ou o tanto que eu possa fazer durante este tempo. Essa quantia pode tornar-se uma considerável soma quando um homem possui bom e vasto crédito e faz bom uso disso.
Lembre-se que dinheiro é de natureza prolífica, geradora. Dinheiro pode produzir dinheiro e suas proles produzirem mais e mais. Cinco shillings transformados em seis, transformados novamente em sete shillings e três pences e assim por diante até que se transforme em uma centena de libras. Quanto mais dinheiro houver, mais ele produzirá em cada ciclo, assim os juros crescerão cada vez mais rápido. Aquele que mata a semente disseminadora, destrói a produção até a milésima geração. Se ele assassinar uma coroa, destruirá tudo que ela deveria ter produzido, mesmo enormes quantidades de libras.
Lembre-se que seis libras por ano não é mais do que uma moedinha por dia. Para esta pequena soma (a qual pode ser diariamente desperdiçada seja em tempo ou despesa despercebida) um homem de crédito deve, para a sua própria segurança ter a constante posse e uso de uma centena de libras. Com tanto estocado, rapidamente transformada por um homem industrioso, produzirá uma grande vantagem.
Lembre-se do ditado "O bom pagador é o senhor da carteira do outro". Aquele que sabe pagar pontualmente e na hora certa as suas promessas, pode a qualquer momento e em qualquer ocasião, levantar todo o dinheiro que os seus amigos possam dispensar. Em algumas ocasiões isso pode ser de grande utilidade. Após o trabalhar duro e a frugalidade, nada no mundo contribui mais para o crescimento de um jovem que a pontualidade e a justiça de todos os seus acordos; por outro lado nunca mantenha dinheiro emprestado uma hora além do tempo prometido a fim de que um desapontamento não feche a carteira dos seus amigos para sempre.
As ações mais triviais que afetam o crédito de um indivíduo devem ser observadas. O som do seu martelo as cinco da manhã ou as nove da noite, ouvido pelo seu credor faz ele amolecer por mais seis meses; mas se ele vê você numa mesa de bilhar ou escuta a sua voz num bar, no momento em que você deveria estar trabalhando, ele vai requerer o seu dinheiro de uma vez só, antes que você possa ganhá-lo.
Isso demonstra que se você for cauteloso com aquilo que deve, isso faz você aparentar tanto ser cuidadoso, como um indivíduo honesto, o que aumenta o seu crédito ainda mais.
Preste atenção em tudo que você tem e possui e viva de acordo. Esse é um erro em que caem muitas pessoas que têm crédito. Para prevenir isso, tome algum tempo para manter uma contabilidade exata das suas despesas e das suas receitas. Se você tomar as dores dos assuntos mencionados acima, isso terá um bom efeito: você descobrirá o quanto maravilhosamente pequenas, triviais despesas acumulam-se em enormes somas e irão discernir o que poderia ter sido entre o que pode ser poupado para o futuro, ocasionando grande conveniência.
Em resumo, o caminho da riqueza, se você assim o quiser, é simples como fazer feira. Depende estritamente de duas palavras, trabalho e frugalidade, o que significa, não desperdice nem tempo nem dinheiro, mas faça o melhor uso de ambos. Sem o trabalho e a frugalidade nada acontecerá e com eles, tudo. Aquele que alcançar tudo aquilo que possa honestamente, e poupar tudo o que tiver (despesas necessárias são esperadas), certamente se tornará rico, a menos que aquele Ser o qual governa o mundo, e que deve olhar a todos para abençoar os honestos esforçados, em Sua sábia providência determine de outra maneira.

Um Velho Negociante

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Sonho de 28/02/1986.

Andava em uma motocicleta em uma estrada asfaltada. Avisto um acidente, aproximo-me e avisto um caminhão de garrafas virado. Resolvo ultrapassar e prosseguir viagem. Ao passar pelo caminhão, vejo pessoas ajudando a carregar os mortos do acidente que também envolvia um outro automóvel.
Estes mortos estavam despedaçados, sem braços e com cabeças decepadas e ocas. Não tive coragem de passar por dentre os destroços do acidente. Os que ajudavam, levavam os pedaços para o alto e além do barranco que havia ao lado da estrada.
Entro em um ônibus parado e me sento atrás da porta de entrada, num acento confortável. As pessoas que haviam descido, começam a voltar e o ônibus parte. Entra por uma estradinha de terra no meio de um bosque de eucaliptos.
Grito para o motorista: “Este ônibus vai até Porto Alegre?” e ele não escuta. Vou até a frente e repito a pergunta. Ele me responde que se vai trocar de ônibus na garagem da companhia, pois esse tem os corredores sujos de sangue. Volto ao meu lugar.
Olhando a paisagem, observo que existe água rolando nos declives. O ônibus continua no bosque.
Vejo eucaliptos enormes, até que em determinado momento, vejo a uns trezentos metros de distância a terra tremer e em menos de três segundos, nascer um eucalipto do tamanho de um de uns cinqüenta anos. O fenômeno se repete e eu e os outros passageiros observamos admirados, porém achando tudo belíssimo e muito normal.
O ônibus chega na garagem que fica próxima ao local onde os eucaliptos eclodem. Prédio branco, com várias alas, como em uma fábrica. Caminho na sacada da “garagem” e vejo alguns eucaliptos crescerem, rentes às paredes, abaixo de mim.
Vou ao banheiro e começo a urinar. Alguém entra e quando vê que está ocupado, novamente fecha a porta.
Quando saio, uma criança está se lavando em um tanque com o rosto ensaboado. Ajudo-a a tirar o sabão quando chega à irmã mais velha, de uns cinco anos, e me diz: “Não tira o sabão, ela vai fazer aniversário em poucos dias e eu quero lambê-lo”. O sabão no rosto parecia agora com marshmellow.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

De Baixo para Cima, Da Esquerda para a Direita

Todas as sociedades humanas podem ser colocadas em apenas dois gráficos e para visualizarmos o grau de evolução que cada grupo social atingiu, basta verificar em que estágio este se encontra.
Conforme podemos ver no gráfico a seguir, ao sair da barbárie (Lei da Selva) toda e qualquer estado passa por um período em que um indivíduo dominante conquista o poder sobre os demais (Despotismo). Ao evoluir, um pequeno grupo toma o poder sobre os demais (Oligarquia). Com mais evolução social, chega-se a uma Ditadura da Maioria, que se caracteriza pelo fato de que direitos individuais não são respeitados, apesar de ser a vontade da maioria. Por fim, chega-se à Democracia, que é quando são respeitados os direitos de cada indivíduo, sem que nenhum grupo prevaleça.



Na estruturação horizontal da sociedade, temos dois estágios imaginários que são o anarquismo e o anarco-capitalismo que não podem ser atingidos porque constituem a volta à lei da selva, mas que precisam ser mencionados para que seja compreendido para onde levaria a situação-limite.



E o que são cada um?
O Comunismo é quando o Estado é detentor dos meios de produção de capital – Ex. Cuba, Coréia do Norte.
O Socialismo de Capital, ou fascismo, é quando existe íntima relação entre as grandes empresas e o Estado, em detrimento do cidadão comum e das pequenas empresas. – Ex. Alemanha nazista, Brasil atual.
O Capitalismo Social é quando o Estado não tem vínculos estreitos com as grandes empresas, mas cobra grandes impostos, e reverte esses impostos em benefício da sociedade. Ex. países escandinavos.
O Liberalismo é quando o Estado busca ser mínimo e cuida só de fatores básicos da vida cotidiana. Ex. Inglaterra.

Todos concordam que o estado democrático é o estado ideal. Acontece que a história provou que a democracia só existe nos estados de capitalismo social e de liberalismo. Não existe a mínima possibilidade, comprovado por inúmeros exemplos históricos, de conquistarmos um Estado Democrático de Direito enquanto o Brasil estiver atrelado a uma ditadura da maioria e uma conivência do Estado para abusos praticados por grandes empresas e de grandes empresas apoiando um estado-monstro.
Só uma guinada para a direita teria condições de provocar uma ascensão da sociedade brasileira rumo à democracia, repito, afirmação a qual podemos comprovar por inúmeros exemplos históricos, mas como isso está muito longe de acontecer, precisamos pelo menos esperar que não baixemos para o despotismo, em queda livre rumo à Lei da Selva.



domingo, 19 de agosto de 2007

Em Futuro Distante

Quando formos poeira ao vento,
Uma história esquecida,
Não passarmos de um momento
Na diáspora da vida,
E sem sonho, meta ou índole
Ou tudo aquilo que hoje é nosso,
Sem diástoles, sem sístoles,
E nem mais sangue e nem mais ossos,
Talvez ainda haja alguém tentando
Livrar-se de ânsia tão doída
E descobrindo que só amando
Não há morte após a vida.
Ao nosso vôo chegar no estol
E cairmos num vazio,
Não termos sombras sob o sol
E nem reflexos no rio
Talvez ainda haja alguém na briga
Para saber o que hoje eu sei,
Mas duvido que consiga
Amar mais do que eu te amei.
De nossas mais belas vivências
Restarão só cacarecos,
De nossas frases, reticências,
Dos gemidos, nem mais ecos,
Mas, por mais clara a verdade,
De que o fim é logo ali,
O meu mundo é a eternidade
De um segundo junto a ti.

sábado, 18 de agosto de 2007

Abelhas

Em janeiro de 2006, um enxame de abelhas fez uma escala nos gerânios da janela da minha casa.

Momento registrado.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

O Brasil na América


Tem muita gente que gosta de criticar a desinformação dos americanos quando eles perguntam se a capital do Brasil é Buenos Aires (já me perguntaram se o idioma do Brasil era o francês), mas isso é porque não conhecem os brasileiros nos Estados Unidos.
Uma coisa que é engraçada é que o nosso povo é muito mais egocentrista do que o americano. Eles até têm uma certa razão em achar que todo mundo fala inglês, pois tem um monte de gente que realmente fala, mas o brasileiro acredita que consegue ser entendido em português... e o pior que às vezes até consegue.
O Tio, que levava esse apelido por ser tio de um conhecido meu, era servente em um restaurante nos Estados Unidos e não falava nem uma palavra em inglês. Volta e meia, eu passava por ele, e ele estava lá em altos papos com algum americano, gesticulando, ambos dando gargalhadas... Um dia não resisti e perguntei para a hostess do restaurante como é que eles se entendiam e ela me respondeu: “Bonow, não sei como, mas eu entendo tudo o que ele fala!”. É impressionante a capacidade de comunicação não-verbal de algumas pessoas.
E brasileiro falando espanhol? Juro que não é piada, já fui almoçar num restaurante cubano e o cara que foi comigo pediu uma “Cueca-Cuela”. A sério! E também já vi brasileiro dando informação desse jeito: “Vá por este camino e siga toda la vida...”
E tem também aqueles que jamais se integram à cultura estrangeira. Já vi rua sendo fechada por bandos de brasileiros comemorando a vitória na Copa do Mundo. Já vi a polícia batendo em prédios as onze da noite para acabar com forrós. E falsificação de documentos? E golpes em empresas de seguros e bancos? Já conheci até mendigo brasileiro nos Estados Unidos.
Já vi gente se livrando de prisão e deportação só na base do jeitinho brasileiro... - Conhece o policial fulano? É amigo meu, dá prá livrar a minha cara? Tem garota de programa brasileira que pede devolução de imposto de renda por causa da operação de silicone nos seios (é material de trabalho, né?)... e consegue!
E tem aquela brasileira que não sabia uma só palavra em inglês e resolveu ir à frente de um juiz americano recorrer de uma multa de trânsito. Falaram para ela que a única coisa que precisaria dizer é “sem contestação” (no contest) e foi isso que ela fez. Qualquer coisa que o juiz perguntava ela respondia “– No contest!”... resultado, pegou dez dias de serviços forçados, lavando o chão do prédio do tribunal!
E as casas dos brasileiros? Quando a família de um americano cresce, ele se muda para uma casa maior. Um latino (brasileiro não gosta de ser chamado de latino, que são os cubanos, porto riquenhos, etc.) constrói um puxadinho e um banheiro. Um brasileiro, constrói um puxadinho, mas sem banheiro e sem nenhum planejamento. Dessa maneira, as casas onde vivem brasileiros nos Estados Unidos são fáceis de identificar: são uns cortiços com uns dez automóveis estacionados na frente. Não sei bem por que, mas brasileiro adora se aglomerar.
Uma coisa que a gente ouve muito é que brasileiro é muito trabalhador... No início causa estranheza, mas depois se percebe que é verdade, pois brasileiro é super sério no trabalho, enriquece muito mais rápido do que outros povos em igualdade de condições. Eu tenho um amigo mineiro que tinha uma empresa de fazer piscinas. Um dia ele me disse que só contratava mexicanos, pois “brasileiro aprende o serviço e dois meses depois, registra uma outra empresa e passa a ser meu concorrente...”
Tem os deslumbrados com o consumo americano. Tem os que acham que os Estados Unidos são muito atrasados. Tem os que chegam em Miami perguntando em que época neva (para quem não sabe, em Miami é um calor infernal o ano todo). Tem os que cometem crimes no Brasil e se mudam para os Estados Unidos. Tem os que compram muamba e mandam de lá para algum amigo por aqui.tem os que trabalham carregando pedra por anos, poupando cada centavo, só para conseguir comprar um Porsche. Tem os que não têm a menor idéia onde estão no globo terrestre, só sabem que estão na América, mas se for Califórnia ou Kansas... é tudo a mesma coisa.
Enfim, se um estrangeiro fizesse no Brasil a metade da bagunça que nós fazemos no exterior, ai dele! E para piorar, ainda falamos mal dos outros povos...

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

A Obra Sagrada

Os infiéis profanaram o templo, mas Jeová sempre deixa uma semente para que floresça a sua obra.
Derramou-se o fogo sobre a terra e quando o nosso Redentor ofereceu a outra face aos ímpios eles bateram e o destruíram. Eu, mulher outrora consagrada ao Senhor, que escutava as vozes do altíssimo, fui das poucas sobreviventes.
Foi depois de muitas provações que o reinado da luz começou a estabelecer-se, mas o nosso Salvador já havia previsto todos os martírios, aqueles que ocorreram na reunião do povo liberto, a migração para a terra prometida, o trabalho duro para executar a Obra Sagrada e ele havia previsto pela leitura das Santas Escrituras até a nossa ruína e revelação finais.
O exército de Balaão cercou o pátio da Igreja com os seus carros de polícia, suas armas e os seus enviados do mal. Apenas alguns poucos irmãos que estavam realizando trabalhos externos ficaram de fora. Os hereges começaram a tentar destruir o templo, primeiro com o seu discurso macio e profano e suas promessas de deixar seguir o caminho, mas o caminho proposto por eles não era o do paraíso e sim o mundano. Queriam que o Redentor deixasse sair as suas várias esposas e os seus protegidos para que pudessem ser afastados da senda do Senhor e caíssem em desgraça, mas não, aqueles que vacilavam eram trazidos de volta à luz, o Redentor os abençoava e os sacrificava para que os cordeiros de Deus não caíssem nas mãos da perdição.
Tudo isso eu sabia pelas vozes que ecoavam na minha cabeça.
Muitos dias se passaram e o primeiro dos cavaleiros, a fome, caiu sobre os nossos irmãos e irmãs com a sua fúria incontida, não podíamos levar ajuda e a vigilância satânica era completa. Soubemos depois que o nosso salvador decidiu a redenção pela morte.
A seguir, os descendentes dos mesmos romanos que mataram Cristo e dos judeus que o levaram à cruz, começaram a usar a sua temível força assassina para invadir o recanto sagrado que levamos tanto tempo para construir, chegaram reforços com as suas sirenas luminosas, jogaram as suas bombas de fumaça diretamente saídas das profundezas do inferno e deram os seus gritos endemoniados pelos megafones, mas de nada adiantou, ao invadir o templo, já encontraram todos entregues às mãos do Altíssimo.
Eu, mulher de Deus, sem ter para onde ir e sem par neste mundo, vaguei a esmo. Não sabia se havia sobrado alguém para começarmos a reconstrução da Obra. A perdição estava em toda a parte e soube que satã havia vencido.
Vaguei sozinha pelo mundo. Conheci a fome, o frio e a desgraça. Prostitui-me e conheci uma outra vida terrível nunca antes imaginada por mim. A desgraça fora do templo era completa.
Porém, em um belo dia de sol as vozes se foram. De uma hora para outra, percebi o silêncio da vida e os belos ruídos do mundo. Pensei que o Espírito Santo havia me abandonado, mas não foi isso que aconteceu. Finalmente notei a minha desgraça e percebi que quem está no fundo só pode subir.
A partir dali, consegui trabalhar honestamente, estudei, progredi na vida e, em alguns anos até casei.
Eu aprendera a viver sem a ajuda de Deus.
Com tudo isso, resolvi dedicar a minha vida a construir um mundo melhor.
Quando chegar a minha hora de ir ao paraíso celeste, espero que Deus ainda me aceite na sua eternidade vazia, por enquanto o meu paraíso é aqui.


quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Lições das Letras de Música

Manuel Bandeira falava que o melhor poema da música brasileira seria o belo Chão de Estrelas , mas eu concordo apenas em parte. Gostaria de chamar a atenção para algumas pérolas da nossa canção, conhecidas por todos, mas muitas vezes despercebidas e que são verdadeiras aulas de arte.
A primeira delas é uma lição de unidade poética de Pixinguinha, Rosa .
Acredito que esta é a letra mais barroca da história da MPB. É impressionante como ele conseguiu repetir a mesma coisa de tantas formas diferentes e de maneira tão rebuscada ao ponto de parecer que estamos apreciando uma rosa verdadeira com suas suaves pétalas. A lição daqui é a de como fazer coisas totalmente díspares pertencer a um único conjunto harmônico. Sensacional!
A letra seguinte que merece atenção e respeito é “O Quereres” , de Caetano Veloso. A lição aqui é a dos opostos complementares. Todo o oposto absoluto em arte é desagradável, amadorístico: “vou nadar no mar para chegar à praia”,”o carvão preto e o sal branco”, etc. O Caetano conseguiu fazer um poema de absolutos opostos e mesmo assim, ficou fantástico.
Mulheres de Atenas , de Chico Buarque nos traz uma lição de semiologia muito interessante. Na época, ele foi criticado pelas feministas como tendo feito um poema machista, enquanto na verdade é justamente ao contrário. Mirem-se no exemplo... para ver onde vocês vão parar!
O escritor é um ser humano e o poeta é o seu personagem, é difícil de as pessoas perceberem isso. Assim como um ator que faz um vilão, apesar de ser uma pessoa correta, o escritor que cria, tem a liberdade de criar um vilão de si mesmo. Chico deu um passo além de sua influência brechtiana, invertendo o afastamento crítico, e criou uma espécie de “aproximação crítica”. Muito interessante, pena que não prosseguiu nessa linha de trabalho. Teria sido uma revolução estética.
Por fim, gostaria de salientar uma lição de rima. Drama de Angélica , de Alvarenga e Ranchinho. O interessante é que nada rima nesta letra, no entanto, é perfeitamente harmônica. Foram agrupadas proparoxítonas, de modo que quando se chega no ponto em que deveria ter uma rima, existe apenas uma entonação, uma sonoridade parecida e que funciona perfeitamente bem. Rima não é combinar pão com sabão, mas é justamente isso: marcar um ritmo de forma harmônica.
Os mestres da nossa música têm muito a nos ensinar...

Leia um pouco mais sobre poesia, clicando aqui .

terça-feira, 14 de agosto de 2007

O Mundo Sagrado


Quando Aldous Huxley escreveu “O Céu e o Inferno”, fez um livro de impressões de “viagem” que se tornou referência no assunto.
Huxley era um apologista do LSD. Não creio que drogas possam trazer a um indivíduo algo mais do que aquilo ele relatou. Acredito que apenas com prática de meditação e yoga, eu tenha ido um pouco além e gostaria de compartilhar essas experiências com meus leitores.
Àqueles que nunca tentaram meditar, por favor, não me chamem de louco, pois o que vou relatar aqui é acessível a todos e é a pura expressão da verdade e fruto de árduo trabalho pessoal. De cotidiano, acredito que essas práticas tenham me trazido criatividade, uma certa dose de juventude e uma certa paciência que faltam na maioria dos meus semelhantes.
Uma coisa que sempre percebi é que falta no mercado um livro que seja um “guia de viagem”: o que visitar e como visitar o mundo do sagrado. Por isso, aqui vão algumas dicas àqueles que tentam meditar.
1. O ponto do foco de atenção é o períneo, na musculatura sexual. Muitos professores de yoga ensinam a observar o espaço entre as sobrancelhas ou os esfíncteres do ânus. Não funcionam, não ajudam a entrar em estado meditativo.
2. Manter a mente quieta, a espinha reta e o coração tranqüilo, é bobagem. A atenção deve ser em todos os momentos, em todas as posições e estados de espírito. A melhor dica é: fique atento.
3. Os estados alterados de consciência são obtidos através de prazer. Sofrimento e chatice não levam a nada.
4. O estado emocional é o daimônico. Relaxamento e faces de anjos barrocos, como muitas vezes são ensinadas nas escolas de yoga, não levam a nada. Mantenha a expressão e a mesma sensação que nos passa uma máscara balinesa.
5. Existe um som de admissão no mundo do sagrado que é o som binatural. O mais próximo desse som no mundo cotidiano é o de um transformador de alta tensão, desses de rua, estragado. Trata-se de um zunido metálico. Realejos têm som binatural. Religiões antigas imitam esse sons: canto gregoriano, mantras tibetanos, indianos e japoneses. É o som que começa a ser ouvido quando se entra no estado meditativo.
6. O próximo “degrau” a ser atingido depois de escutar o som do Mundo Sagrado é o das “auras”. Auras, e aqui eu tomei o termo médico, são faíscas, cobrinhas, caquinhos, bolinhas, formas aleatórias revestidas de luz preternatural. Luz preternatural (termo usado por Huxley) é uma luz muito próxima àquela produzida por pedras preciosas, uma beleza diferente, difícil de explicar com palavras, só quem já viu, sabe do que estou falando.
7. Nesse estágio, pode-se abrir os olhos e, se for sem perder a concentração, a percepção será a que eu chamo de “Física do Caos”. Os objetos do mundo físico começam a perder a característica “semiológica” e começam a se transformar em beleza estrutural. Tentando explicar o inexplicável com um exemplo: um cobertor sobre o nosso corpo deixa de ter valor prático, de objeto e passa a ter valor artístico pelo significado profundo das curvas que ele forma. Isso é mais uma sacação de Huxley: o caimento do tecido e as pedras preciosas foram em todas as civilizações objeto do fetiche artístico, pois representam no nosso subconsciente, imagens do mundo sagrado.
8. O “degrau”seguinte é o de quando essas imagens começam a se agrupar, a se tornar compactas. O “fluxo meditativo” (kundalini, tesão), começa a se tornar mais intenso. O corpo parece ficar mais denso e a pode brilhar uma das sete articulações da coluna (chacras). A mais baixa, se parece com um rubi lapidado de uns 50 centímetros de diâmetro visto de cima, com centro no períneo. A do centro da cabeça se parece com um diamante lapidado visto de baixo, de quina. As outras cinco, eu nunca vi, mas a literatura esotérica fala sobre.
9. O próximo nível, é quando surge uma imagem em movimento com luz preternatural, como um filmezinho, uma cena colorida de beleza extrema: uma casa ricamente decorada para o natal, a nave principal de uma catedral, um disco feito de mosaicos... nunca vi uma cena de exterior, não sei bem o porquê.
10. O nível mais alto que eu cheguei com meditação é quando esse “filme” se congela em uma “fotografia”: uma flor, um pássaro, uma floresta... O prazer se transforma em felicidade. O “fluxo meditativo” começa a brotar em jatos, subindo pela pele das costas (diz a literatura esotérica que na verdade é em volta da coluna, mas nunca consegui sentir assim). Essa fase deve durar uns dez minutos que parecem ser uma eternidade, nunca consegui prolongar mais do que esse tempo. Começam a surgir “insights”.
Aí termina para mim. Não sei o que tem depois, mas sei que dá para ir mais longe. Nunca vi um deus ou um demônio. Nunca adivinhei o resultado da loteria ou algo, digamos assim, mais espetacular. Se algum dos meus leitores já passou dessa fase, por favor me avise sobre o que vem depois. Eu quase morro de curiosidade!

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Algumas respostas que você deve ter na ponta da língua para não dar a bandeira de que já passou dos quarenta:

- Seu pai tinha Simca? Coitado, a minha avó morreu com artrite!
- Decavê? É aquele negócio que se come com shoyu?
- Sim, eu entendi: a primeira faz tchan, a segunda faz tchun. E a terceira?
- Rin-tin-tin? Não, nunca vi. Dos desenhos animados daquela época eu só assistia ao He-man.
- Perigo por quê? Quem é esse Will Robinson?
- Flávio Cavalcante? Foi o que fez o mordomo da novela das sete? Não sabia que ele era garoto de programa!
- Pedro Bó? Não é aquele italiano que ganhou o prêmio Nobel?
- Salomão Ayala? Lembro, foi aquele governador do Ceará que assassinaram?
- Sandra Bréa? Era repórter da Globo, né?
- Golbery? O primeiro-ministro francês?
- O Dener? Quando eu tirei carteira, já se chamava DETRAN.
- “À demain que eu vou em frente”? O que você quer dizer com isso?
- Não, o macaco não tá certo. Eu deixei meio solto no porta-malas.
- Sim, múmia só pode ser paralítica, já viu múmia se mexer?
- Da dupla Chico e Caetano? Não conheço. Não gosto de música sertaneja.
- Foto do Gabeira de tanga de crochê? Ah, deve ser montagem.
- Não, essa foto não pode ser do Michael Jackson. É um menininho negro!
- Que família do Remi? Não conheço nenhum Remi!
- Barril de chope de madeira? Não mesmo! Eles são de alumínio.
- Tijolo de sorvete? Onde conseguiu a receita?
- Monareta? E o que vem a ser uma monareta?
- Calça ali!? Calçar o quê? Ali aonde?
- Avião do Cruzeiro? Puxa! Naquela época os times de futebol tinham até avião?
- Por que tirou as amídalas? Teve câncer?

domingo, 12 de agosto de 2007

O presente

Na tela negra da mente
Existe um pedaço rasgado
Penetrado pela luz do passado
Que é, por regra, imponente

E naquele recinto escuro,
Também grandioso igualmente,
Há um outro rasgão pela frente,
Que é o vistoso futuro.

Um é encerrado, outro aberto,
Irreais e inexistentes.
Um é acabado, outro incerto,
Porque só o que existe é o presente.

Essa garganta que a tudo devora:
Memórias, planos e fatos,
Chama-se momento fátuo
É a glória fugaz do agora.

O instante não é fruto ou semente,
Nem é obra ou projeto,
Não é cadáver nem feto,
É apenas um estado da mente.

Por isso que tudo é tão novo
E a vida é uma chama tão quente,
Nada é galinha nem ovo
Tudo que existe é o presente.

sábado, 11 de agosto de 2007

Girando um Trem


sexta-feira, 10 de agosto de 2007

As Marcas

Conta uma velha lenda árabe que a Morte deixa todos os seres humanos passearem pelos jardins da terra por algum tempo antes de os levar.
Para lembrar da maneira correta e do momento exato ela coloca com a sua cimitarra marcas no corpo de cada um dos seus filhos. Por exemplo, se alguém tem uma pinta marrom em um determinado ponto do pé significa que vai ser ceifado por velhice. A marca sob os cabelos indica suicídio. Uma bolinha vermelha em um determinado ponto do peito significa ser atropelado por camelos e assim por diante.
Acontece que essa história de cimitarra é tão velha como a lenda, pois isso era feito dessa forma apenas nos tempos antigos em que a Morte ainda trabalhava de forma artesanal. Hoje em dia existem máquinas modernas que fazem o serviço da forma mais precisa possível. Antes de virmos ao mundo, a máquina nos apanha de dentro de nosso pai, faz as marcas nos tons e locais apropriados e depois nos devolve para que possamos ser depositados como o nosso pai nos fez na barriga de nossa mãe que servirá do vaso que abriga o nosso crescimento. Assim, hoje em dia, não existe possibilidade de dúvidas: se o patrício está marcado para morrer de sede aos trinta e nove anos, não poderá morrer sufocado em uma tempestade de areia aos quarenta. Nos dias de hoje, a Morte não erra jamais.
A única coisa que pode acontecer é uma falha mecânica. Algumas vezes os bebês deixam de ser marcados e vêm ao mundo sem dia e nem maneira prevista para partir. Apenas depois de que passam de uma certa idade avançada ou quando os acontecimentos são absurdos é que a Morte vai perceber o erro, pois ela fatalmente vai pensar que a pessoa tem uma daquelas marcas de longa vida, escondida embaixo da sola dos pés ou dentro da narina.
No entanto, não se pode atribuir esse erro à morte em si, mas às circunstâncias.
Conta-se que certa vez um soldado que lutava nos territórios ocupados era uma dessas pessoas sem marcas que levou mais de setenta tiros até que a Morte percebesse o erro e o levasse para a companhia de Alá.
Em outra oportunidade, um rico mercador desmarcado dirigia sua Mercedes acompanhado de três de suas esposas mais amadas quando o automóvel desgovernou, caiu no lago de um oásis e as esposas vieram a falecer. O mercador depois de dez minutos embaixo d'água conseguiu subir à superfície e vendo que as esposas não retornaram, prostrou-se pedindo para também ser levado. Compadecida, a Morte invés de o levar, devolveu à vida as suas esposas que por possuirem a marca de que deveriam morrer naquela hora e naquele local, apenas acordaram o tempo suficiente para se afogarem novamente. Aqui também não podemos dizer que o erro foi da Morte, que não erra jamais, mas do Destino, uma vez que é do seu feitio pregar peças bizarras, mas isso já é outra história.
Pode-se pensar que ela jamais pára, mas conta-se que nas tréguas das batalhas, a Morte costuma se sentar para descansar, apanha o seu narguilé, acomoda-se em uma almofada e fica a contemplar o mundo durante o tempo suficiente que demora para identificar uma outra marca que exige o seu trabalho. Ela também gosta de jogar: às vezes se encontra com alguém já marcado mas que precisa esperar o momento certo, como um ladrão ou um infiel, que espera a decapitação, por exemplo. E daí, para não tornar a sua presença inconveniente, retira do turbante um baralho de cartas e apresenta ao condenado. Muitas vezes, até o deixa vencer.
Dizem as más línguas que ultimamente a Morte não tem conseguido identificar muito bem as marcas, que ela tem se entregado ao arak e está velha e decrépita. Falam até que ela teria descoberto uma marca no seu próprio corpo que a deixou muito abalada, no entanto isso não passa de mentira. A velha guia de todos os peregrinos, a companheira dos solitários e última esposa dos sheiks está, como sempre, jovem e sadia, tirando o seu véu para todos aqueles que no momento certo se forçam a lhe possuir.
E as marcas continuam nos lugares certos.

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Por que comer carne vermelha?


O médico brasileiro Antônio da Silva Melo certa vez escreveu um calhamaço chamado “Alimentação, Instinto e Cultura”, defendendo a importância do instinto na escolha dos alimentos e, com sua vasta experiência clínica e profundidade de leituras, contava nesse trabalho sobre casos de como pacientes moribundos se recuperavam depois de pedirem insistentemente alimentos considerados “pesados” por médicos e familiares.
Muitos alimentos que a humanidade escolheu instintivamente como sendo os mais deliciosos foram em certas épocas considerados prejudiciais à saúde, mas, um a um, foram descobertos como altamente benéficos: a pimenta, o chocolate, o vinho, o café, o tomate e tantos outros.
O mesmo acontece com a carne vermelha. Instintivamente ela nos atrai, mas existe uma séria campanha contra ela. Quais são os indícios da natureza de que devemos a comer (moderadamente, como tudo)?
Em primeiro lugar, todos os animais que possuem olhos na frente do rosto são carnívoros (leão, cachorro, etc.) e todos que possuem olhos do lado são herbívoros (vaca, zebra...). É a lei da natureza, quem come carne precisa ver a presa, quem é comido precisa ver o predador que se aproxima. Nós temos olhos voltados para a frente.
Todos os animais que possuem o dente canino são carnívoros. Nós possuímos dentes caninos.
A única fonte de sal dentre todos os alimentos é a carne. A nossa alimentação é baseada em alimentos salgados, conseguimos ficar sem doces, mas morremos se ficarmos sem sal. Em tempos primitivos como a humanidade conseguia sal? Caçando, é claro.
O cheiro da carne assada é o cheiro mais forte que sentimos: mais do que um mato de eucaliptos, mais forte do que um campo de lavanda. O cheirinho de café ou bolo assado até pode se espalhar pela casa, mas o cheiro de carne se impregna vai para os vizinhos, para nós humanos, atrai tanto como o cheiro de mel atrai as abelhas. Sentimos o cheiro de uma churrascaria a três quadras de distância, é muito mais forte do que cheiro de poluição. O cheiro de apenas um quilo da carne assada supera até o da brisa marinha que é provocado por milhões de toneladas de animais e plantas.
Outro argumento muito comum é o do uso de hormônios e aceleradores de engorda por parte dos fazendeiros. De onde será que os vegetarianos tiram essas idéias? Já fui pecuarista e mal tinha dinheiro para comprar sal para o gado, quanto mais comprar hormônios! Isso é um total desconhecimento da situação do campo no Brasil. Galinhas, carne branca, é que levam hormônios, qualquer um sabe. Plantas levam agrotóxicos, comer morango ou tomate tem um certo perigo, sim. Todos sabem. Pecuaristas brasileiros de pecuária extensiva normalmente ficam felizes quando conseguem comprar carrapaticida, imagine se iriam comprar hormônios? Nada é mais natural do que boi.
Muito bem, comer carne vermelha parece ser o nosso instinto, nossa predisposição natural, mas por que motivo surgiu o vegetarianismo e essa idéia se espalhou tanto dentre nós?
Os Adventistas do Sétimo Dia são os precursores e divulgadores das idéias vegetarianas no ocidente, tendo formado diversos hospitais e centros de pesquisa voltados a provar essa teoria. De onde eles tiraram isso?
Hellen White, a profetisa e uma das fundadoras da religião sofreu severa influência de Helena Blavatski, uma das fundadoras da teosofia, que proferiu diversas palestras nos Estados Unidos do século XIX e de quem Ms.White era admiradora (ela também sofreu influência do Dr. Kellogs, inventor dos spas e das dietas amalucadas, mas isso já é outra história).
Retrocedendo mais alguns anos, Ms. Blavatski conheceu a dieta vegetariana por influência de “sábios” indianos com quem ela havia convivido naquele país.
Agora voltemos mais alguns milênios. De onde a Índia tirou a idéia do vegetarianismo? A civilização pré-histórica que viveu na Índia antes da conquista ariana era originalmente carnívorista, tendo criado inclusive o tantrismo, filosofia que promovia rituais sexuais com o consumo de carne (mmm, interessante...!). Quando os arianos invadiram o subcontinente indiano, trouxeram uma série de normas religiosas com eles, inclusive a repressão sexual e o vegetarianismo.
O que tem a ver a repressão sexual com o ato de comer carne? É que ambos não partiram da cultura ocidental. No século XV os corredores não haviam sido inventados. Para passar de um cômodo ao outro em um castelo, passava-se por casais fazendo sexo, crianças assistiam a tudo de forma natural. Apenas no período vitoriano, com o avanço da revolução industrial é que o prazer passou a ser regrado como necessidade de aumento populacional e acumulação de riqueza, por isso não é mera coincidência que nesse período tenhamos ido buscar essas idéias em uma cultura avessa a nossa.
Portanto, caro leitor, essa história de que não comer carne faz bem está mal contada. Melhor comer carnes brancas? Duvido.
Como ter tanta certeza? Basta olhar para os seus conhecidos vegetarianos que já chegaram aos quarenta... Não parecem uns velhos? Não estão um caco?
Infelizmente a teoria tem que seguir a natureza, o contrário não dá certo.

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

A Solução

Existe solução?
Sim, existe.
Algumas características da solução:
- é simples (o problema que o difícil é ser simples!);
- é barata e acessível a todos;
- é lucrativa, quem a descobre normalmente ganha grana;
- está aí, na sua frente, cuspindo na sua cara para ser descoberta;
- dá uma trabalheira danada para chegar até ela;
- as pessoas vão demorar para acreditar que é a solução;
- não muda só o local onde ela é aplicada, mas o mundo, o cosmos;
- vai ter um monte de gente interessada que ela não seja a solução, mas ela é;
- não tem volta;
- as críticas serão severas;
- quem chegou à solução vai pensar que está enganado, mas não está;
- só será encontrada no seu devido tempo, nem antes, nem depois;
- já existia, mas ninguém sabia para que servia;
- é complicado de convencer de que é a solução
- é mais complicado ainda de implementar;- não está na linha de raciocínio seguida até aqui: é uma mudança de paradigma

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Secretárias Eletrônicas

Eu tenho uma secretária eletrônica importada, cuja a mensagem padrão é em inglês. Como sempre me esqueço de comprar uma bateria para ela e volta e meia falta luz, sempre tenho que estar regravando a saudação com a minha voz.
No meio tempo, as pessoas me telefonam e ficam perdidas. Depois ouço as explicações mais absurdas: “...puxa, Bonow, liguei prá sua casa, mas atendeu uma moça em inglês...” Será que nunca ouviram uma secretária eletrônica? Ora, se eu der um telefonema e for atendido por uma máquina em dialeto marciano medieval, eu vou deixar uma mensagem após o bip, como em todas as secretárias do mundo, nunca entendi o que tem a língua a ver com isso.
Certa feita, tive a péssima idéia de fazer uma gracinha no aparelho e criei a seguinte mensagem com voz mecânica: “Aqui é o porteiro eletrônico. A secretária eletrônica não atende mais ao telefone porque fugiu com o caixa automático. O Bonow também não está porque deve estar maquinando alguma coisa. Assim, se você for humano, deixe a sua mensagem após o bip, mas se você for máquina, deixe o seu bip após a mensagem. Obrigado.”
A gravação não durou uma semana, porque os telefonemas começaram a crescer exponencialmente. Tocava o telefone as 11 da noite, eu me acordava, levantava e ia atender, daí tinha algum amigo do outro lado: “Ô, Bonow, deixa tocar aí que tô numa festa e quero mostrar a tua mensagem...”. Em nome da minha paz, tive que voltar ao padrão.
Existem também aquelas pessoas que até hoje em dia ainda não sabem falar com máquinas: “Alô! Alôôô! (pausa) Alô! Acho que ele não está...! (voz de outra pessoa) Então desliga! clic-tuu, tuu, tuu”.
O pior de tudo é quando ligam a cobrar, a gente só escuta o finalzinho da gravação da operadora: “...será cobrado após a identificação.”, normalmente seguido de um longo silêncio e muitas vezes de um “opa, desculpe foi engano!”
E tem também aquelas que acham que a gente está em casa: “- Bonow, sou eu, atende aí! É o fulano! Bonô-ô! Acho que ele não está!”
“– Então desliga! clic-tuu, tuu, tuu”.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Paul e os Cubanos

Conheci o Paul em um hotel no Sul da Flórida. Ele era da Tchecoslováquia e era o atendente em um barzinho de piscina, sempre com a TV ligada. A sua profissão parecia ser a de servir e bater papo com bêbados. Sujeito gente-boa, simpático, mas fechadão, pouco se sabia da vida dele.
O mistério começou a ser desvendado quando conheci uma moça eslovaca que era amiga de família e tinha vindo passar uns tempos na América.
Na época da guerra fria, Paul tinha sido jogador da seleção de hóquei daquele país. Quando foram jogar na Áustria, ele se afastou do grupo, foi até a embaixada americana e pediu asilo político.
Muito bem, um dia essa amiga de família foi a sua casa. Chegando lá, era uma mansão, no melhor bairro da cidade, com iate e carrões na garagem. Como pode, perguntou ela? Um barman, está certo que é nos Estados Unidos, mas com um padrão de vida como aquele?
Simples. Paul amava esportes e sabia tudo a respeito deles. Então ele fazia apostas e tinha grandes possibilidades de ganhar: a profissão dele era a de assistir disputas na TV, servir os drinques para os bêbados era só o hobby...
É claro que nunca mais voltou para viver na sua terra, mesmo depois de cair o muro de Berlim. Para quê?
Contei essa história só para comparar o futuro de um exilado político nos Estados Unidos e no Brasil. Quando os cubanos se afastaram da delegação, foram procurados pela nossa polícia e deportados diretamente para uma masmorra caribenha. Fidel jura que eles não sofrerão represálias, mas alguém acredita? O único crime deles é o de almejar o direito legítimo de todo ser humano à liberdade e à vida, não tiveram chance de defesa e nem de falar com os repórteres! E a grande imprensa caladinha, como sempre, divulgando a versão oficial de que estavam protegidos, reclusos em endereço desconhecido para “não serem aliciados pelos maldosos empresários do esporte”.
O mais estúpido é que os mesmos que sempre criticaram o ato de Getúlio Vargas ter deportado Olga Benario, fizeram a mesma coisa com os cubanos, mandaram eles direto para as garras do Hitler das Américas!
Quem mandou não procurarem um consulado de país de primeiro mundo, como fez o Paul? Pularam do fogo para frigideira. De onde será que eles tiraram a idéia que as autoridades brasileiras têm um mínimo respeito pelas vidas e dignidade humanas?
Por tudo isso, deveriam ter enviado um cartãozinho junto com a carta de deportação: “Saludos! Unos regalitos para Fidel de los perritos de Fidel...”?

domingo, 5 de agosto de 2007

Mar de Versos

Mostra o teu mundo e o teu mar,
O teu rumo e tua nau,
E ao tato de brisa e sal,
Desancora-te a criar.

Passarás por esta vida
Com tufões na rota incerta,
Procurando ilha perdida
Ou ainda não descoberta.

Diante o arco do horizonte,
Sob a abóbada do céu,
A ilha está logo adiante.

A tua vela é a pena,
Teu barco é de papel,

Neste mar que é um poema.

sábado, 4 de agosto de 2007

Pés


sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Trânsito


Algumas vezes fico me perguntando se sou eu que não estou percebendo os detalhes, ou o todo, ou são os engenheiros de trânsito que não os perceberam. Muito dos problemas do trânsito brasileiro não decorrem de falta de planejamento urbano, enorme número de veículos, falta de verbas, etc., mas da falta de visão dos que planejam o trânsito mesmo.
Por exemplo, recentemente mudaram as ruas de acesso à cidade de Curitiba e enormes engarrafamentos têm se formado nos finais de tarde. É que encheram de sinais que impedem o livre fluxo de veículos.
Qual seria a solução? Onda Verde, sabe o que é? É quando os sinais são sincronizados de tal forma que quem é detido por um, não precisa parar no seguinte, se mantiver uma determinada velocidade, vai pegando todos os sinais verdes. Em Buenos Aires, isso é comum, mas no Brasil, só conheço em tão poucos locais que podem até ser nominados (Porto Alegre, Av. Siqueira Campos; Curitiba, Visconde de Guarapuava). Deve estar me faltando algo de compreensão, pois quando tenho que parar meu carro em duas esquinas seguidas as 5 da manhã, só posso pensar que os planejadores do trânsito erraram, não consigo vislumbrar o motivo, senão o de que algo faltou as suas percepções.
Voltando à cidade de Curitiba, no início da Avenida Manoel Ribas ocorrem engarrafamentos diários, pois a rua se estreita devido a um ponto de táxi na esquina. Está ali há anos e nenhum gênio do sistema viário resolveu tomar a simples atitude de mudar o ponto para a rua lateral.
Toda a população tem que esperar, dia após dia, ano após ano, retardando negócios, lazer e criando obstáculos para emergências simplesmente porque os comerciantes de uma determinada região querem que seus clientes estacionem na via pública. Ora, as prefeituras têm obrigação de fornecer é acesso, fornecer o estacionamento é obrigação dos lojistas como atrativo de vendas, não podem prejudicar toda a cidade com seus interesses pessoais. Se um ponto não é bom, que mudem de ponto ao invés de pressionar o poder público para benefício próprio.
Uma outra coisa da ineficiente mentalidade burocrática brasileira é a proibição de virar à esquerda em vias de mãos dupla. Ao invés de construir áreas de escape para a conversão em ruas, se prefere que o motorista contorne a quadra (isso é, quando existe o contorno!), fazendo com que os carros permaneçam mais tempo nas ruas aumentando assim os engarrafamentos.
Em muitos estados americanos, pode-se virar á direita no sinal vermelho, ou seja, o sinal vermelho se transforma em um sinal de “pare” para as conversões. Por que não existe isso por aqui? Quantas e quantas vezes, não está vindo ninguém no outro sentido e a rua está engarrafada por causa que todos têm que esperar o sinal. Qual é o motivo para isso, senão atrasar as vidas dos motoristas?
Dessa maneira, apesar de muito se apregoar a desestruturação pública do Brasil, no trânsito se pode ver claramente que os problemas são também causados muito por uma questão de mentalidade que precisa ser mudada.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

O que eu faria se eu fosse um ditador sanguinário?

Esses tempos, li num blog, não lembro onde, a seguinte pergunta aos leitores: “O que você faria se fosse um ditador sanguinário e todo-poderoso?”
Respondo, imaginando um irreal ditador sanguinário, que pertence inexplicavelmente ao lado do bem, pensando em melhorar o seu fictício país e incapaz de usar o seu poder ilimitado para extrair vantagens pessoais. Vamos lá.
A primeira coisa seria acabar com o dinheiro cash e os cheques ao portador. Todas as transações teriam de ser praticadas com cartões de crédito ou outros meios de pagamento que deixassem rastros. Dessa maneira, seria muito mais difícil roubar ou subornar uma autoridade pública;
Estabeleceria um número único de identificação para todos os cidadãos e criaria um banco de informações acessado por biometria (leitura de partes do corpo), disponível na Internet para quem se interessar;
Acabaria com todas as empresas públicas. O Estado se limitaria aos dois poderes Judiciário e Executivo (se eu fosse ditador, como haveria de existir o Legislativo? A lei seria eu, é lógico), com uma folha de pagamento mínima;
Para a felicidade da população, reduziria os impostos e, para manter a arrecadação necessária, aumentaria enormemente o valor de multas, pois quem faz o que é errado é que deve pagar e não aquele que age corretamente. Estabeleceria multas até para cuspir no chão e implantaria um sistema de “big brother” pelas ruas para identificar os infratores;
Todos os julgamentos teriam de acontecer em três instâncias e nenhuma dessas instâncias poderia ser julgada em mais de um mês. Ao juiz que demorasse mais de um mês para promulgar uma sentença sem justificativa, eu mandaria para o paredón (um ditador sanguinário tem que ser sanguinário, lembrem-se!);
Para manter ainda a pecha de sanguinário, controlaria o crescimento populacional: implantaria a política de filho único e autorizaria o aborto. Estupradores e pedófilos seriam castrados, os demais criminosos, depois de condenados em última instância e em julgamento justo e com amplo direito à defesa, seriam executados e a bala seria cobrada da família (os chineses tiveram umas idéias sanguinárias ótimas!). Nos três meses que esperassem a sentença final, ficariam presos, mas tratados com dignidade, em celas individuais com TV e banho quente. Prisões não poderiam durar mais do que esse período, o acusado sairia dali para a liberdade ou para o fuzilamento;
Acabaria com a doação de dinheiro público para qualquer causa que fosse e implantaria um verdadeiro liberalismo. Quem quisesse dinheiro, que fosse produzir e não mamar da teta do Estado. Privatizaria até mesmo a construção de estradas e a polícia;
Declararia guerra a qualquer país mais frágil economicamente que o meu que ousasse se apropriar de forma indevida de nossas empresas localizadas em seu território e imporia pesadas taxações para pagarem pelo inconveniente;
Eu me certificaria que todas essas medidas fossem implantadas de forma irreversível, de modo que toda a população passasse a aceitá-las como naturais;
No final do período da minha ditadura sanguinária, estabeleceria que a imprensa e a liberdade de expressão fossem restabelecidas de forma plena, inclusive permitindo que se falasse sobre drogas, chutasse santas na TV, mostrasse dedo para autoridade, publicasse biografias não autorizadas, etc. Só depois disso, reestabeleceria o congresso, mas com não mais que 30 deputados, com representação proporcional à população de cada estado e com salários vinculados ao salário mínimo nacional;
Por fim, quando a coisa começasse a feder para mim, pediria exílio político para os Estados Unidos e passaria a minha velhice em um apartementinho com vista para o Central Park, admirando pela TV o grande país que teria ajudado a construir.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Um Dia a Mais

Por serviços prestados ao diabo nos seus tempos de juventude, foi concedido ao velho senhor um dia a mais de vida.
Quando a morte, carregando uma foice e trajando sua inconfundível túnica preta, tocou a campainha, o velho resmungou, olhou pelo olho mágico e, reconhecendo a presença de tão ilustre criatura, abriu a porta, convidou-a para entrar e tomar o café-da-manhã. A morte agradeceu, mas desculpando-se pela pressa e culpando os males do mundo pela sua sobrecarga de trabalho, informou-lhe a graça do Príncipe das Trevas e disse que viria buscá-lo à noite. Depois, abrindo a porta do elevador, perguntou se por ali passava o ônibus para o cemitério, pois o dia já ia alto e ela nem ainda havia batido o cartão de ponto.
Ao descer o elevador, o velho ficou parado por alguns instantes, depois se trancou no apartamento com medo dos assaltos tão comuns nas grandes cidades e foi à cozinha ferver o leite. Tomou café, vestiu-se, desceu para comprar o jornal, voltou para casa, leu-o minuciosamente, fez as palavras cruzadas e recortou uma citação.
Depois, saiu para tomar sol em uma praça onde crianças brincavam. Quando o calor do meio-dia começou a o castigar, foi até o restaurante de sempre e pediu o do-dia, puxando conversa com o atarefado garçom. Almoçou e foi caminhando sem pressa para casa, para tirar a sua sesta. Depois, foi jogar damas na praça e quando se aproximou o final da tarde, recolheu-se para ver o pôr-do-sol de sua janela e pensar nos amores de juventude.
A morte, por sua vez, atendendo ao celular, recebeu um chamado inesperado que transtornou toda a sua agenda: antes da hora prevista teve de ir buscar o velho, pois ele havia cometido suicídio.