quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Os Miseráveis


Pobreza é algo físico, é não ter o mínimo para as necessidades. Miséria é diferente, trata-se de uma pobreza da alma.
Existem pobres que são miseráveis e existem também, paradoxo, milionários que são miseráveis. Ao contrário do que pode parecer em um primeiro golpe de vista, miséria não é relacionada com dinheiro, é algo mais profundo.
Mas não é pelo fato de ser algo da alma, que não pode ser apreciada no mundo material. Miséria é aquilo que faz com que a pessoa gaste milhares de dinheiros para construir uma casa, mas pelos anos seguintes não destine nada para rebocar e pintar as paredes. Miséria é aquilo que faz com que ao invés de criar um degrau ou uma rampa no declive da calçada, o cidadão apenas revista o terreno com concreto e ache que a sua obra está perfeita. Miséria é deixar o mato crescer no gramado.
Em um país pobre, as ruas são de terra, mas limpas e arborizadas, países miseráveis têm ruas asfaltadas, mas com o piso totalmente irregular e quando se aponta esse fato para as pessoas que vivem ali, elas apenas dizem: “a pista é boa, é asfaltada...!”, mas não, não é boa. Miséria é uma qualidade apenas “pro forma”, não uma melhoria real.
Assim distinguem-se os países desenvolvidos dos demais, não é questão de riqueza, de PIB, de IDH, nada disso, um índice que deveria ser criado, mais importante do que os outros todos, é o da miserabilidade do povo.
Assim, quando me falam que o nosso país tem melhorado a olhos vistos, eu pergunto, onde, que matemática é essa que não passa por um cálculo mais detalhado? Pagamos as contas? Aumentamos o salário mínimo? Vencemos a inflação? Confiamos no Voto Eletrônico? Entramos no IDH de países desenvolvidos? Somos das primeiras economias do mundo? Bravo! Bravo, bravo, Brasil!
Porém, pergunto, onde está o desenvolvimento, se vivemos com medo de sair às ruas. Os rios continuam poluídos porque as pessoas não têm saneamento básico. Milhões de cachorros vadios fazem cocô nas calçadas. Igrejas barulhentas, carros de som e música alta incomodam nosso cotidiano. As estradas continuam esburacadas e as cidades crescendo desordenadamente, mas todos acham que está tudo indo bem, porque a mentalidade continua miserável.
Mandamos um brasileiro ao espaço, mas não conseguimos ganhar um Nobel. A indústria de cinema é rica, mas não conseguimos ganhar um Oscar. Ajudamos diversos países, mas não conseguimos ganhar uma cadeira no Conselho de Segurança. Por que será que não somos reconhecidos? Coitadinhos de nós...
Estamos saindo da pobreza, que isso fique bem claro, mas para deixarmos a miséria isso será bem mais difícil, pois será preciso vencermos algo bem mais profundo, a pobreza da alma.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Segredos Culinários

No que diz respeito à cozinha, a gente vê muitas receitas por aí, mas quando chega na hora de fazer o simples, é preciso experiência. Assim, vou tentar passar aquilo que demorei alguns anos para aprender.

Como fazer café preto?
50% do segredo do café está na temperatura. Cada vez que ele troca de recipiente, perde calor, portanto, se não cuidar deste detalhe, você não fará um bom café.
O segundo segredo é jogar fora a cafeteira. Você já notou que o café da Tia do escritório é melhor do que o que você faz em casa? É porque ela passa manualmente, não usa máquinas.
O terceiro segredo é usar açúcar cristal ao invés do mais refinado.
Por fim, escolher um bom pó, o que todos acabamos descobrindo com a tentativa e erro.
A sequência de um bom café é a seguinte:
Aqueça uma certa quantidade de água numa chaleira, ela não deve ferver, mas chiar.
Aqueça um pouquinho de água no bule. Ao ferver, despeje na garrafa térmica para aquecê-la também. Na hora de servir, passe a água quente da garrafa para as xícaras de quem for tomar, já com as colherinhas para mexer lá dentro. Isso aquecerá todos os recipientes pelos quais o café for passar.
Para quatro pessoas, um pouquinho mais do que uma colher de sopa bem cheia de pó no filtro.
Vá passando lentamente, não deixando o pó se acumular nas paredes do filtro, até ficar uma água espumosa. Esse é o ponto para tomar com leite, sem que o leite fique aguado.
Um pouquinho mais de água e a espuma começará a rarear. Quando ainda tiver espuma e começar a aparecer um pouquinho (uns 30%) de café preto no fundo do filtro, esse é o ponto, mais água do que isso, vira chafé (americanos gostam!).
Depois de passar a água quente da garrafa térmica para as xícaras com colheres dentro, despeje o café pronto lá dentro e feche.

Como fazer uma omelete?
Bate-se, no máximo, três ovos com um pouquinho de sal.
Meia colher de sopa de manteiga (não, eu não falei margarina!) e umas gotas de óleo numa frigideira, fogo alto na boca pequena do fogão. Quando derreter a manteiga e ela começar a ferver, espalha-se com uma espátula e despejam-se os ovos, baixar o fogo ao mínimo.
Esperar formar uma camada no fundo para colocar os outros ingredientes (queijos de vários tipos, presunto, orégano, cogumelos, ou o que mais tiver na geladeira). Depois de os ingredientes estiverem incorporados, e não boiando no ovo, virar cuidadosamente com uma espátula e um garfo.
O outro lado deve estar dourado, nem cru, nem queimado.
Esperar mais um pouquinho para fritar o outro lado e servir na própria frigideira para não esfriar.
Se usar mais de três ovos, vai ficar difícil de virar, ficarão ovos mexidos...

Como fritar um bife?
Qualquer gaúcho nasce sabendo assar um churrasco, mas não sei por que cargas d´água não usam os mesmos princípios para a frigideiras.
Regras: o calor abre os poros e o sal os fecha. Carne deve ser preparada lentamente.
Coloca-se a carne crua (alcatra e mignon são bons!) na frigideira bem quente, com umas gotas de óleo e um pouco de manteiga, como no ovo acima, e se dá uma tostada em cada lado do bife, até ele ficar marrom, ainda aparecendo um pouquinho de vermelho nos cantos.
Desliga-se o fogo, tira-se o bife e se passa um pouco de sal em ambos os lados (sal grosso, no caso de grelha). Não usar salmoura, água é inimiga da carne.
Liga-se o fogo no baixo e volta-se com a carne para a frigideira. À medida que vai ficando pronta, vai-se aumentando o fogo, até dar uma douradinha no final.
Se quiser um molhinho, joga-se um cálice de conhaque um pouquinho antes de acabar a fritura.
Se for o caso de um churrasco, a carne no espeto fica melhor do que na grelha, pois o furo do espeto transfere o calor para o interior, assando por igual. A função do procedimento esquenta-salga é abrir os poros para sair a primeira gordura e depois fechar os poros para manter a suculência.
Bife à milanesa se faz com patinho, fica firme e macio.
Como fazer macarrão?
Um saco (500g) dá para quatro pessoas. Matematicamente falando, meio saco dá para duas pessoas e um quarto dá para uma... Isso vale para qualquer tipo de massa daquelas secas, de supermercado.
Ferver a água (mais ou menos o dobro do volume do macarrão) com uma colher de sopa de sal.
Quando estiver fervida, manter o fogo alto e jogar a quantidade necessária para o número de convidados lá dentro. Baixar o fogo quando voltar a ferver. Lembre-se do colégio, a água ferve a uns 100ºC, não passa disso, não adianta usar fogo alto em fervuras, pois só vai gastar mais gás.
Mexer de vez em quando.
Quando estiver “al dente” (durinha, ou quando se cortar a massa em uma tábua, não se verificar que o interior está cru), passar para o escorredor.
Reaquecer o molho em uma panela e jogar tudo lá dentro, mexendo bem. Servir na própria panela ou em uma travessa previamente aquecida com água quente, pois massa fria perde a graça.

Quando estou sozinho, faço molho ao alho e óleo, é o mais fácil. Joga-se azeite de oliva em uma frigideira com alho picado em pedacinhos (uns 3-4 dentes por pessoa), fogo baixo. Quando os primeiros pedaços começarem a dourar, desligar o fogo, que eles terminarão de fritar sozinhos. Na hora de acrescentar a massa, aquecer novamente.

Como fazer iogurte natural?
Contando parece fácil, mas demorei mais de um ano para aprender os truques, errando quase toda semana...
Dois litros de leite de caixinha, um edredon (ou uma sacola térmica ou caixa de isopor), um termômetro de febre, um pote de sorvete de 2 litros e mais um tupperware menor e um copinho de iogurte Nestlé. Não pergunte os porquês, mas usando outras marcas, não fica legal, bem como usar leite em saquinho, não funciona.
Ferver meia caixa de leite. Enquanto isso, misture lentamente em uma tigela o restante do leite da caixa com o iogurte, de modo que ele fique sem pelotas.
Quando ferver, desligue e acrescente a outra caixa de leite. Por fim, acrescente a mistura anterior de iogurte e leite, mexendo por um minuto com uma colher grande. Não erre a ordem, senão os bacilos morrerão fervidos e não virarão iogurte.
Lave e esterilize o termômetro (supondo que você já o tenha colocado no sovaco) e verifique a temperatura. Aqueça o fogo até ultrapassar o limite do termômetro (mais de 43 graus). Quando passar essa temperatura desligue.
Transfira rapidamente para o pote de sorvete, deixando uns dois centímetros até a borda. O restante, coloque no tupperware menor. Feche os potes.
Rapidamente, coloque os potes em uma sacola de supermercado sem furos e amarre.
Enrole a sacola com os potes em um cobertor grosso ou coloque em uma sacola térmica e deixe ali a noite toda.
Na manhã seguinte, o iogurte ainda estará quente e um pouco líquido, mas algumas horas no refrigerador, deixarão ele firme.
Como cozinhar legumes?
Jogar em um panelão de água fervente com uma colher de sopa de sal, deixar ali alguns segundos de modo que fiquem verdes, mas não murchem.
Deixar muito tempo deixa os legumes sem cor, parecendo buffet de restaurante vagabundo.
Segredos simples, mas que poucas pessoas sabem.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Hospedeiros, Parasitas e Considerações sobre o Beco do Liberalismo

O pensamento liberal começou a se destacar das antigas considerações sobre democracia no momento em que principiou a se formar uma classe de comerciantes, ao ponto de relacionarmos o liberalismo com um pensamento eminentemente burguês.
Em paralelo a essa ideia monodimensional a respeito do liberalismo, podemos considerar que no período em que ocorreram as decadências das chamadas sociedades absolutistas, surgiram duas linhas de pensamento. A primeira dessas linhas foi exposta por Benjamin Constant de Rebeque que relacionava o conceito de liberdade com o de propriedade, liberdade serviria para livre negociar. Em oposição, Jean Jacques Rousseau, colocava liberdade como sinônimo de igualdade entre os indivíduos.
Nesse ponto de vista, o pensamento liberal, independente de ser mais tendencioso para o social, ou mais para o mercado, vem nos últimos duzentos anos buscando a resposta das perguntas propostas posteriormente por Jeremy Bentham, de como trazer um maior nível de bem estar e um menor grau de sofrimento aos seres vivos, e conseqüentemente ao homem e à sociedade.
Na busca dessas inquirições, passamos por dois tópicos importantes apontados por Tocqueville, no seu livro “A Democracia na América”, que são a preocupação em evitar uma tirania da maioria e também um despotismo do Estado.
John Stuart Mill nos trouxe uma nova luz sobre a palavra liberdade, antes ligada a um direito natural do ser humano, mas com ele vista como um valor relativo. Com ele, a liberdade deixa de ser vista como um valor individual, mas social, pois:
"Se toda a humanidade menos um fosse da mesma opinião, e apenas um indivíduo fosse de opinião contrária, a humanidade não teria maior direito de silenciar essa pessoa do que esta o teria, se pudesse, de silenciar a humanidade." (Stuart Mill, A Liberdade)
Com Stuart Mill, a defesa da liberdade do indivíduo passa a ser sinônimo da defesa da liberdade da sociedade. A legislação não deveria ser coercitiva, mas uma forma de aumentar as oportunidades individuais.
Assim, a discussão liberal paira entre dois extremos de igual poder e antagônicos, a defesa de um estado mínimo e um estado de direitos iguais para todos.
Não sendo esses valores de origem natural ou divina, a discussão liberal versa sobre as questões de poder: o poder civil, proprietário contra o poder dos diversos agrupamentos sociais que participam do processo democrático.

Este conflito nos leva para um beco, e as respostas que nos levam à saída residem num paradigma diverso daquele formulado pelos clássicos.
Existem vários grupos possíveis de poder dentro de uma sociedade, dependendo do ponto de vista a ser tomado.
A forma engeliana-marxista, de origem rousseauísta, divide a sociedade em fortes e fracos. Este escalonamento gera a ideia de classes sociais. Pérfidos empresários tirariam a mais-valia dos pobres operários para enriquecerem as suas custas. Por extensão, isso ocorreria com os malévolos países imperalistas, com a torpe raça branca, com os canalhas moradores das regiões mais industrializadas, com os grandes poluidores, com os insensíveis ocidentais em relação aos muçulmanos sofredores. Conflitos seriam sinônimo de desigualdades.
Esta visão dicotômica, no entanto, aborda um pensamento bastante pobre, ainda que de fácil digestão para as massas, uma vez que não explica diversas outras formas e nuanças existentes nas relações de poder. Maniqueísmos são sempre tão carregados de exceções que são facilmente invalidados por argumentos um pouco mais bem elaborados.
Por via inversa, por exemplo, existe o poder dos fracos. No passado, em reinados de soberanos poderosos, os bobos da corte muitas vezes eram anões, aleijados ou pessoas grotescas. No entanto, por serem considerados, ante a suntuosidade e suposta grandeza dos membros da corte, como coitadinhos ou miseráveis, gozavam de um poder político considerável. Eram os únicos que podiam zombar e criticar impunemente os mais poderosos.
O poder dos fracos é muito cotidiano em todas as sociedades. Quando deixamos de reclamar a um gerente da incompetência de um determinado caixa de supermercado, por exemplo, estamos nos compadecendo com a possibilidade de ele ser demitido ou sofrer sanções. Nós, na nossa grandeza de consumidores, nos auto-reservamos a qualidade de magnânimos, por mais prejudicados que sejamos. O mesmo, em maior escala, se dá em diversos grupos sociais, considerados fracos ou débeis, mas que na vida prática muitas vezes representam poderes consideráveis que influenciam diretamente decisões importantes de políticas nacionais. Não podemos dizer que o poder se dá apenas do mais forte para o mais fraco, pois ele ocorre muitas vezes no próprio sentido inverso.
No entanto, usando um termo bem engeliano-marxixta, a “classe dominante” não existe como tal, uma vez que a sociedade não é organizada apenas verticalmente, mas como produto de diversos interesses, inclusive o das associações dos chamados dominados. A disputa entre as diversas associações, as quais chamaremos para fins deste texto de “guildas” é que formam o vetor resultante de poder.
Veja-se bem, aqui entra a ideia de que a mistura de elementos gera uma condição completamente diversa daquela esperada pelo simples somatório das partes, assim como o sal de cozinha não tem as características nem do sódio, nem do cloro que o constitui, mas se transforma em algo totalmente diferente. As tartarugas das estruturas sociais não sobem em árvores, mas muitas vezes não são tampouco ali colocadas intencionalmente, são escaladas pela ação de diversas forças que se debatem entre si.
As guildas são núcleos de poder que não representam a vontade de uma “classe dominante” específica, mas uma vontade pertencente à própria instituição. Como exemplo, podemos citar a Igreja Católica, que constitui um corpo próprio, bem diferente da vontade do papa, dos cardeais, dos padres ou dos fiéis.
O poder se torna mais complexo se considerarmos que existem várias guildas concorrenciais. A Igreja Católica compete com outras religiões, que por sua vez concorrem com as guildas de profissionais liberais, que concorrem com sindicatos, grupos de professores, de estudantes, de servidores públicos, etc. O somatório de todas essas associações e mais algumas vontades independentes de alguns indivíduos é que constitui a vontade de uma determinada sociedade. A “classe dominante” é, portanto, um indivíduo abstrato e inexistente.
É por isso que não podemos definir o poder dentro de um maniqueísmo entre forte e fraco, entre dominante e dominado, pois essas relações não são apenas complexas, mas verdadeiramente caóticas.
Assim, devemos procurar um outro critério para conceituar classe dominante

Desde Spencer, a sociologia lança mão de conceitos da biologia para explicar as suas teses, sendo esta talvez a ciência que mais contribuiu para compreendermos fatos, eventos e estruturas sociais. Conceitos como o darwinismo social, ou a solidariedade orgânica de Émile Durkheim, nos permitem usar exemplos tirados das aglomerações animais e vegetais, e dos sistemas orgânicos.
Seguindo essa linha e nos remetendo à biologia, devemos considerar um Estado como formado por dois tipos humanos, os hospedeiros e os parasitas. Por “hospedeiro”, consideramos um organismo que possui existência autônoma e por “parasita” aquele que vive às custas do hospedeiro.
Na sociedade humana, podemos considerar como hospedeiro aquele que produz riquezas e por parasita, o indivíduo que suga a riqueza alheia sem nada produzir.
Por definição, em uma sociedade capitalista, o Estado é parasitário, uma vez que não produz riquezas. A iniciativa privada, é hospedeira.
Existem dois times diversos que se beneficiam do estado, a guilda dos políticos, apaniguados e colaboradores e o grupo dos burocratas e tecnocratas. Existe ainda um terceiro, que é o mais importante e mais numeroso, o dos cidadãos comuns e das pessoas jurídicas, que são os que pagam a conta dos impostos e que num mundo ideal deveriam ser alvo das eventuais benesses sociais.
É claro que esses critérios se confundem, pois temos ainda relações de mútua dependência entre diversos setores estatais e privados, o que, usando-se ainda as expressões da biologia, podemos chamar de mutualismo. Por exemplo, quando dois empreendedores necessitam assinar um contrato, é necessária uma instituição acima dos interesses individuais para decidir eventuais desavenças, que de outra forma precisariam ser resolvidas a bala. O mesmo se aplica para a defesa do território, criação de leis, etc., que são efetuadas por instituições, pelo menos teoricamente, mutualistas e, pelo menos teoricamente, neutras. No entanto, temos um sem-número de atividades que possuem finalidade em si próprias e que servem apenas para funções escusas do Estado: gabinetes-fantasmas, empresas públicas, muitas vezes deficitárias e toda sorte de organismos e instituições que em uma nação se instalam sem qualquer utilidade prática.
Ocorre que o parasita depende do hospedeiro para sobreviver, morrendo a árvore, morre também a erva-de-passarinho em que nela se apóia, por isso é preciso existir um controle que leve o Estado até um limiar extorsivo, acima do qual determinados setores da economia comecem a entrar em colapso e, por fim, a economia como um todo passe a decair.
Podemos melhor compreender esse fato pela visualização do gráfico a seguir, no qual a linha contínua representa o crescimento do lucro de uma determinada empresa e a linha pontilhada, o valor de impostos por ela pago.
À medida que essa empresa enriquece, o governo tem maiores possibilidades de produzir uma maior extorsão e é isso que normalmente faz, por exemplo, criando impostos diferenciados para pequenas e grandes empresas.
O ponto de encontro das duas linhas representa o momento que a empresa fechará as suas portas, uma vez que a carga tributária se igualará ao lucro.


Como as empresas precisam sobreviver, normalmente são obrigadas a sonegar os impostos extorsivos, seja de forma direta, simplesmente evitando de diversas maneiras o aparecimento de caixa ou também subornando fiscais.
Assim, a ideia do aumento dos impostos muitas vezes não é a de produzir um melhor ambiente de negócios, financiar o aumento da economia nacional ou produzir um welfare State que redunde em um aumento de consumo e consequente aumento de produção em um círculo virtuoso, mas cumpre uma das funções escusas do Estado que é a de produzir desvios para os bolsos parasitários.
Paralelo a isso, ocorre uma grande carga extorsiva na questão das importações, que gera duas consequências; a primeira que é a do monopólio das empresas nacionais, elevando os preços pagos pelo consumidor no mercado interno, o que é uma outra forma de aumentar as taxas impositivas e a segunda que é a do incentivo ao contrabando e suas consequentes extorsões pelos órgãos policiais e por toda a cadeia de burocratas e políticos alimentada pelos achaques aos fora-da-lei.
Por fim, os hospedeiros só possuem valor para o Estado, enquanto geradores da riqueza que alimenta essa sequência de injustiças. No momento em que uma empresa começa a decair ou um indivíduo deixa de dispor de sua força de trabalho, é totalmente abandonado aos desmandos da sorte, como acontece, por exemplo, com pequenos agricultores carentes de financiamento e velhos aposentados largados como lixo nas filas de postos de saúde. O Estado torna párias todos aqueles que não contribuem para a máquina das extorsões.
Isso funcionaria indefinidamente dessa forma se não existisse um limite possível para o volume de saques, o que obriga a máquina pública a se adequar ao volume de capital produzido pela extorsão dos impostos.
Para melhor compreendermos esse fenômeno, temos a seguinte fórmula:

Dádivas do Estado
+ Custos Administrativos
+ Soma dos Butins
+ Custo da Incompetência Estatal
_________________________________
= Volume Total de Saques

Por “butins”, nos referimos a todo o capital que é desviado na forma de financiamento às funções escusas governamentais, citados anteriormente: corrupção, cabides de emprego, gabinetes-fantasma, etc.
Em um governo próximo ao ideal, que é impossível para o tempo em que vivemos, praticamente não ocorreriam butins, mas o avanço tecnológico e diversos instrumentos de controle possibilitariam uma minimização desse fator, bem como também uma redução considerável dos custos administrativos, uma vez que o tamanho do butim cresce com o tamanho da máquina administrativa.
Por incompetência estatal, nos referimos àquelas perdas que não são diretamente fruto de corrupção ou custos da máquina: viadutos inacabados, decisões erradas, maus investimentos bancários, etc.
Esse é o motivo porque, quando falamos na constituição de um Estado ideal, aqui voltamos à dicotomia do pensamento clássico liberal entre os valores sociais e os valores de proprietários, ou falando em expressões atualizadas, é dada uma ênfase que paira entre o liberalismo econômico e a social-democracia ou welfare State, sem radicalizarmos entre um e outro polo. No momento em que os dons derivam para se aproximarem dos valores dos saques, temos um estado mínimo, de modo que poderíamos prever uma decadência do Estado em algum momento futuro, se houvessem meios tecnológicos para evitar atividades escusas. Clarificando: não pode existir Estado como nós o conhecemos hoje em dia em uma sociedade em que os dons se igualem aos saques, simplesmente porque seria mais fácil que os que necessitassem de serviços pagassem diretamente por eles, chegaríamos em um capitalismo anárquico.

No entanto, a inferição acima não nos leva à ideia de que os governos deixarão de existir um dia. Em primeiro lugar porque não é possível reduzir os custos administrativos a zero devido às necessidades de mediação em diversos setores aqui apontados como as finalidades primeiras do Estado.
Em segundo lugar, concorrem dois fatores, o de que a maioria das pessoas não têm talento empreendedor, não são previdentes e são perdulárias, o que as leva a sofrerem reveses da sorte. Quando isso ocorre, não é natural que os demais indivíduos permitam a destruição alheia sem nada fazer, a Lei da Selva, por mais justa que seja do ponto de vista natural, não é um valor humano. Assim como a maior parte das pessoas corre para ajudar uma senhora que tropeça e cai na rua, a solidariedade faz parte do comportamento dos homens. Infelizmente, os reveses da sorte e os erros de escolha pessoal levam a derrocadas que precisam ser suportadas por todos os demais, sob o risco de tornar o problema ainda maior. Se um pequeno agricultor imprevidente não tem mecanismos de sobreviver a uma safra ruim, ele fatalmente irá à falência, causando a destruição de todo o seu núcleo familiar e prejudicando a economia da região. Se um trabalhador que vive do seu salário não possuir dotações que o sustentem durante períodos de doença, o problema será ainda maior, fazendo que num momento posterior, a interferência para contornar as suas agruras sejam ainda de monta mais elevada, em um custo que precisa obrigatoriamente ser arcado por toda a sociedade. Assim a atitude de seguir a ideia da frase do juiz da Suprema Corte americana, Louis Brandeis (1856-1941) que interpretou a liberdade prevista na constituição pelo “direito de ser deixado em paz”, corre o risco de acabar decaindo em um aumento dos custos sociais e econômicos.

Considerando o beco criado pelos dois extremos previstos nos pensadores liberais clássicos, podemos considerar que, ainda que existam as tendências para isso, é pouco provável que ocorra um anarquismo de moldes socialistas ou, falando de forma extrema, um anarco-capitalismo, totalmente regulado pelo mercado. O futuro não se caracterizará pela dissolvência total do Estado, mas provavelmente pela minimização dos butins e consequente extinção ou minimização das funções escusas.

Portanto, descartadas tanto as ideias de classe dominante, quanto aquelas que supõem um mercado todo poderoso, podemos visualizar as sociedades humanas por duas formas, a primeira que separa hospedeiros, parasitas e mutualistas, ou pela visão de conflito Pagadores de Impostos x Políticos, patrocinadores e apaniguados x Burotecnocratas. Enquanto aquela nos fornece como principal instrumentalização de análise, a de como reduzir o parasitismo, esta nos informa como equilibrar os conflitos sociais e reduzir as desigualdades.
Para sairmos do beco da modernidade, não podemos mais nos apoiar nas concepções criadas pelos pensadores dos séculos XVIII e XIX, pois ocorreu uma considerável mudança de foco das disputas que ocorrem nas sociedades. O futuro se dará pela resolução desses novos conflitos.


BENTHAM, Jeremy e MILL, Stuart. Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural: 1979.
www.achegas.net/numero/dezessete/fabricio_neves_17.htm

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Puxa, este blog vale quase US$5.000,00!

Entrei em um site de avaliações de websites e recebi um valor surpreendente: US$4,707.30. O difícil é encontrar quem queira comprar...

Considerando que tenho sido extremamente relapso com as postagens e mesmo assim recebido uma média de 520 visitas por mês, só tenho a agradecer a todos os leitores pelo carinho e pela fidelidade em de vez em quando marcar ponto por aqui.

Muito obrigado e saudações a todos!

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Honestidade e um Bom Local para Morar

Saiu o índice 2009 da Transparência Internacional, clique no link da imagem para acompanhar este pensamento:

Para mim, parece que é a única maneira de classificar os países dentro de mesmas categorias: Canadá, Nova Zelândia e Escandinávia se parecem uns com os outros, assim como o Chile com o Uruguai, etc. A honestidade é mais importante do que qualquer estrutura política.

A pergunta que não quer calar é, será que, mesmo com um pouco mais de corrupção, a qualidade de vida nos Estados Unidos, França e Espanha não é melhor do que no Canadá ou Islândia, onde quase ninguém prefere viver? Uma certa liberdade para sair dos limites parece ser desejada e parece ainda que honestidade em excesso vem acompanhada de chatice. Uma coisa que eu já tinha percebido aparece nessa pesquisa também: o legal de se viver nos EUA, por exemplo, é justamente poder pisar na grama e atravessar a rua fora do sinal, isso é, não é um lugar chato de viver: ali não se precisa esperar abrir o sinal de pedestres às duas horas da manhã, sob dez graus negativos, em cada cruzamento da cidade. Essa minha opinião deve ser errada, pois na lista das consideradas 10 melhores cidades para se viver , todas estão nos locais de menor corrupção, mas no meu ponto de vista um pouco de bagunça parece algo conveniente.
O mapa mostra a “sensação” de corrupção. Será que isso não corresponde à realidade? A Argentina pode parecer em uma primeira vista menos corrupta do que o Brasil, mas viajar em uma estrada de interior por lá, significa pagar propina, aqui, um pouco menos (eu, pelo menos, nunca paguei). Parece que sim, por lá a corrupção é realmente um pouco maior, não é mera percepção.
E é essa liberdade de extrapolar limites na vida cotidiana e ao mesmo tempo ter limites no trato da coisa pública que gera riqueza e desenvolvimento, países em que esses dois fatores são combinados, são, para a maior parte das pessoas, considerados melhores de se viver.
Esperemos que um dia cheguemos lá, cá em Pindorama.

Essa ideia de que as repúblicas só são possíveis entre pessas virtuosas já era presente em Montesquieu, mas quando criaram um país, os federalistas americanos, de forma prática, preferiram tomar outro de seus pensamentos, o de criar freios e contrapesos à ambição humana. Penso que com o avanço da tecnologia, a virtude é um valor que pode ser perfeitamente retomado.Como eu repito sempre aqui no blog, tento fazer a minha parte, acho que a solução está nesta discussão: http://dinheiroeletronico.forums-free.com/ .

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Fórum do Dinheiro Eletrônico

Criei um fórum para que as pessoas possam discutir a ideia de um dinheiro eletrônico.
Para acessá-lo, CLIQUE AQUI.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Como um curitibano resgata um alien?

Repórter- Estamos aqui com nossa reportagem para entrevistar o sargento e enfermeiro de uma equipe médica que atendeu uma situação inusitada na região de Curitiba: a queda de um disco voador e o resgate dos seus dois tripulantes pelos socorristas. Por favor, pode contar para os nossos telespectadores como isso ocorreu?
Socorrista – Positivo. Estávamos de plantão à noite e recebemos um telefonema de que um avião havia caído na Serra do Mar, nos dirigimos ao local e descobrimos, depois de caminharmos alguns metros pelo meio do mato, que se tratava de uma espaçonave extraterrestre.
Repórter – E como vocês perceberam isso?
Socorrista – (Silêncio, com expressão de enfado).
Repórter – Bem, vamos à outra pergunta: o que vocês encontraram no local do acidente?
Socorrista – Havia dois seres acinzentados e de olhos grandes, um já morto, mas o outro continuava se movendo e tentando falar alguma coisa.
Repórter – E ele falava em uma língua incompreensível, certo?
Socorrista – Negativo. Ele falava em português mesmo. Português telepático.
Repórter – Nossa, quer dizer que vocês conseguiram se comunicar perfeitamente?
Socorrista – Mais ou menos. Cada vez que ele pensava palavras como “pobrema”, “mindingo” ou “salchicha”, dava uma dor de cabeça danada...
Repórter – Puxa, mas o ser extraterrestre falou sobre salsichas? E o que você respondeu?
Socorrista – Vina!
Repórter – Mas ele não falou nada de importante?
Socorrista – Falou que trazia uma mensagem fundamental para toda a humanidade. Que iria revelar a tecnologia dos vôos interplanetários e o sentido da vida.
Repórter – E daí, ele revelou isso?
Socorrista – No meio tempo, chegaram uns caras do exército, carregaram os extraterrestres numa camionete e mandaram a gente não contar essa história para ninguém.
Repórter – Nossa, que incrível!
Socorrista – É, mas não terminou por aí. Mesmo distante, o ET continuava tentando se comunicar telepaticamente comigo.
Repórter – E o que ele contou?
Socorrista – Nada. Eu não converso com estranhos.

domingo, 30 de agosto de 2009

Carta ao Prefeito de Curitiba

Dia 17/08 protocolei uma solicitação de retirada de cães das ruas de Curitiba. Para quem é de fora, vejam o que estão fazendo da cidade...
Exmo. Sr. Prefeito Municipal de Curitiba

Venho por meio desta protestar contra o grande número de cães abandonados pelas ruas de Curitiba.
Em telefonema ao serviço 156, fui informado que o recolhimento de cães foi suspenso desde 2008.
Ora, como é sabido, uma simples fêmea prenha abandonada pelas ruas, no decorrer de poucos anos gera algumas dezenas de milhares de descendentes, pois o problema cresce em ritmo exponencial.
O que a prefeitura está esperando? A copa do mundo, na esperança que os estrangeiros levem embora os totozinhos abandonados pelas ruas? Um milagre divino? Que a próxima administração resolva o problema?
É uma questão sanitária que se avoluma vertiginosamente e por isso cada vez fica mais difícil de resolver. É muito fácil defender um discurso de cidade ecológica, quando se tratam de focas do ártico ou tartarugas de mares distantes, mas será que Curitiba faz jus ao título que se auto proclamou, quando os problemas estão ali, na esquina? Toneladas de fezes depositadas nas ruas são levadas pelas chuvas aos nossos córregos e lagos. Doenças e ataques a pedestres são registradas todos os dias e o que foi feito a respeito? Latidos incomodam milhares de pessoas que têm suas noites de sono prejudicadas, reduzindo o potecial dos trabalhadores.
Conto o que foi feito nos últimos tempos! Uma campanha nos tótens de publicidade dos pontos de ônibus, com cachorrinhos simpáticos, implorando para que as pessoas não abandonem os seus animais. Será isso o suficiente?
Campanhas publicitárias geram lucro e capturar cães pelas ruas produzem antipatia, por isso, normalmente as administrações escolhem o caminho mais fácil e proveitoso, mas, vejamos bem, temos a copa de futebol pela frente, será que a municipalidade de Curitiba quer passar para o mundo a imagem de um imenso canil?
Não há solução, sem crueldade com os animais, o que é impedido pelos órgãos de meio ambiente? Sim existe, Porto Alegre está enfrentando o problema, recolhendo, castrando e identificando os cães por meio de chip eletrônico. Ao meu ver, um projeto que levasse os animais a uma morte rápida e sem sofrimento, como injeções letais, seria muito mais barato e produziria muito menos sofrimento aos cães que quando largados na rua são castigados com brigas, doenças, fome e maus tratos. De qualquer forma, algo precisa ser feito.
Feito o protesto, agora o meu problema particular: moro ao lado do Parque Tingüi e solicito o recolhimento de dezenas de cães que circulam pela região, atraídos pelo cheiro de churrascos que as pessoas fazem nos parques. Se não houver interesse em resolver o problema da cidade, pelo menos, imploro, resolva o da minha vizinhança, que já fico bastante agradecido.
Sem mais.
Respeitosamente,

domingo, 16 de agosto de 2009

No Bom Português

O governador do Paraná ultimamente anda querendo de tudo no bom português, só assim o povaréu vai entender das coisas.
Os Volkswagen vão ser o “Auto do Povo” e os postos da Shell, vão ser da “Concha”. O Burger King vai ser o “Sandubarrei”. A camisa Lacoste vai ser “A Praia” e a caneta Mont Blanc vai ser “Morro Branco”. O chocolate Nestlé, vai ser “Ninhozinho” e o Lacta vai ser “Leitoso”.
E no bar, que vai se chamar “barra”? Um Johny Walker on the rocks vai ser “Joãozinho Caminhador sobre os pedrões” e um petit gateau vai ser “presentinho”. O karaokê vai se chamar “orquestra vazia”. E na cantina? Um penne al sugo vai ser “ponta de caneta ao suco” e um farfaline al dente vai virar “gravatinha borboleta ao dente”.
O shopping vai ser “comprando”. O Shopping Müller vai ser “Comprando o Moleiro” e o Shopping Barigüi, “Comprando o Mosquitinho”.
E em Curitiba, que vai se chamar “Pinhão à Beça”, as calçadas de petit-pavé vão se chamar “pavimentinho”. O Teatro Guaíra vai ser “Não Dá pra Passar!”. Nele, os bailarinos vão dançar, não pas de deux, mas “Passo de Dois” e enquanto os pianistas vão acompanhar, ao invés de um Allegro ma non Troppo, com um “Alegre, Meia Boca”.
E, esperemos desde já a declaração oficial do gabinete do governador, pois o Palácio Iguaçu, que faz muito esforço para, ao invés de melhorar a educação do povo, diminuir as suas necessidades de compreensão, vai virar o “Palácio Aguadão”.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Pedindo Esmolas com o Chapéu Alheio

Fazer maquetes é uma atividade complicada. É preciso conhecimento profissional, utilizar materiais caros e contratar empregados conhecedores da área de arquitetura para tal feito. Não é um hobby ou uma brincadeira diletante como algumas pessoas podem pensar. Um amigo meu trabalhava fazendo maquetes. Um belo dia chegou no seu atelier um pastor indagando sobre a de sua nova igreja. Depois de quase uma hora de perguntas, veio com essa: “será que não daria para fazer de graça?”
Um outro amigo cortava gramados nos Estados Unidos e resolveu montar uma empresa para fazer o mesmo por aqui. Na primeira cliente, já começaram os pedidos: dá prá cortar um galho da árvore? Dá para lavar o quintal? Dá para dar banho no cachorro?... Em pouco tempo, ele fechou a empresa e voltou para a América.
Podem parecer casos isolados, mas é uma regra presente na cultura nacional. O brasileiro médio adora pedir esmola com o chapéu alheio. As pessoas da Casa Grande se acham no direito de exigir que a Senzala trabalhe de graça.
O oposto não ocorre. Por exemplo, nós não temos um Museu Smithsonian, nascido de contribuição voluntária, por aqui. Simplesmente porque ninguém dá o que é seu. A confusão monetária só existe entre o dinheiro público e o desfrute privado, não entre o dinheiro privado e o desfrute público. Não há em Terras de Vera Cruz um Bill Gates da vida, que doe 90% da sua fortuna para uma boa causa. Ao contrário dos outros países do mundo, até as gorgetas do garçom precisam ser incorporadas na conta para que os clientes se cocem.
A exceção que confirma a regra acontece em casos de tragédias e comoção nacional, quando donativos são coletados, às vezes até excessivamente, o que nos remete à frase que Nélson Rodrigues colocou na boca de Otto Lara Resende: “Mineiro só é solidário no câncer.”.
Essa atitude pseudodadivosa do nosso povo se mostra em diversos aspectos. O mais absurdo deles é na forma de evergetismo.
Evergetismo era uma prática na Roma Antiga, quando ser administrador local era uma atitude honorífica que não era coberta por salário. Assim sendo, os nomeados roubavam tudo o que podiam na forma de impostos e, em troca, patrocinavam espetáculos e construíam prédios públicos. Qualquer vereador de interior sabe que isso ainda ocorre, dois milênios depois, por aqui. Muitas vezes, é preciso a um político ter vários automóveis para emprestar para os amigos, conseguir umas dentaduras, descolar umas cadeiras de rodas, alguns sacos de cimento e promover uns churrascos. Isso não é considerado por muitos como corrupção, mas faz parte das atribuições normais de um representante da sociedade.
No Brasil, os que têm mais devem distribuir com os que não têm, mas jamais de forma espontânea. Os flanelinhas se julgam com direito de extorquir dinheiro dos motoristas. Os sindicatos, daqueles que são forçosamente sindicalizados. Os assentados podem roubar gado dos fazendeiros vizinhos, e assim por diante.
Tem ainda uma outra faceta do mesmo poliedro que é o de quando se pensa que os nossos amigos são também amigos dos nossos amigos. Muito complicado? Explico. Isso ocorre, por exemplo, quando se dá carona para um colega e lá pelas tantas, passa-se na rua por alguém e ele exclama: “Para, que lá vai o Fulano, vamos dar uma carona prá ele também que eu quero te apresentar!” Ou quando a gente convida um amigo para a festa e ele traz um “encosto”, uma pessoa que você nunca viu na vida. Aliás, a palavra “amicus” em latim se referia a uma rede de apaniguados políticos, uma espécie de clã, mais ou menos o que os mafiosos chamam de “famiglia”, que não tem nada a ver com laços de sangue. A tentativa brasileira de formar “amicus” é, assim, uma outra forma de fazer caridade com o chapéu alheio.
O desperdício de tempo do outro, fato que já é uma instituição nacional, não passa de uma diversidade sutil do mesmo raciocínio. Quando marcamos um encontro e chegamos atrasados, ou simplesmente não comparecemos sem avisar, cultivamos a crença de que tempo não é dinheiro e que o próximo tem a obrigação de nos servir passivamente, gratuitamente e sem reclamar. O mesmo ocorre quando chegamos na casa do colega sem avisar e sem ser convidado, na crença que é justo “alugar” o próximo.
A caridade com recursos alheios se dá inclusive de modo institucionalizado. São muitos poucos aqueles que desembolsam algo para promover ações culturais e sociais, pois afinal temos a Lei Rouanet, a Lei do Incentivo ao Esporte, as diversas contribuições e os mais variados pagamentos e diversos ladrões de impostos (falo “ladrão” no sentido metafórico de um dreno de barragem, que eu não seja mal interpretado) que são formas retas e previstas no ordenamento jurídico para que ninguém precise tirar do próprio bolso nada além dos cinco dedos.
Acontece que não existe almoço de graça. Tudo tem um custo e se todos transferirem o valor que deveria ser pago para os outros desembolsarem, acabamos prejudicando à totalidade da sociedade. Tudo que é feito tem um preço, mais claramente falando, um valor econômico, grana. E essa grana precisa ser disponibilizada por aquele que a ela invoque, não se deve jogar a carga sobre a mula do vizinho. É uma atitude de autodeterminação que traz a prosperidade econômica e o desenvolvimento dos povos.
Assim sendo, caro leitor, se vires alguém o fazendo, ou ficares tentado a também pedir esmola com o chapéu alheio, pensa contigo mesmo: “que coisa feia, heim?”

sábado, 9 de maio de 2009

Histórias Mais Bizarras Ainda

Quem acompanha o Bonowblog, sabe que eu gosto de histórias bizarras e volta e meia escuto mais algumas para colocar por aqui. Eis as bem novinhas:
Quando era rapazote, o C. foi trabalhar em uma olaria em Xaxim, SC. No primeiro dia, os colegas já falaram prá ele não se preocupar com a Chapeluda, pois ela não fazia nada. Ele quis saber o que era “Chapeluda”, mas eles apenas repetiram para ele não se preocupar, que logo iria ver.
Em uma bela noite, estava trabalhando com o fogo e viu uma assombração passando: uma mulher com um chapéu de palha imenso, deu um sorriso com dentes de ouro e depois foi embora.

O pai do C. estava capinando, quando de repente rolou uma bola de fogo morro abaixo. Existe a lenda brasileira da mãe-do-ouro que é justamente uma bola de fogo que indica o local onde existem tesouros enterrados. Conhecendo esta lenda, ele não teve dúvidas, atirou-se sobre a bola. Teve um choque e, ao invés de ficar milionário, ficou paralisado no meio do campo. Foi localizado pela família, algumas horas depois, totalmente grogue. Só depois de uns dois dias é que se recuperou por completo. Lendo na Internet, cheguei à conclusão que é possível que ele tenha abraçado um relâmpago esférico, um fenômeno meteorológico elétrico extremamente raro. Mas que a lenda pode ter algum fundo de verdade, eu acredito: geólogos atenção! Vale a pena identificar os locais onde aparecem as mães-de-ouro para tentar achar alguma jazida...

E., é um empresário da indústria plástica no interior de São Paulo. Quando a sua empresa começou a se expandir, alugou um barracão. Um dia, os dois vigias telefonaram no meio da madrugada: - “Seu E., nós estamos fechando tudo e indo embora, aqui não dá prá ficar, não!”. –“Por quê?”, ele perguntou. –“Porque a gente começou a ouvir uns assobios de gente no andar de cima. Quando fomos verificar, os assobios passaram para baixo. Quando descíamos, voltavam para cima. Daí, resolvemos ficar um em cima, outro embaixo, mas quando fizemos isso, todas as luzes do barracão se apagaram e acenderam de novo sozinhas...”.

Quando tinha uns 17 anos, E. estava com hóspedes e foi dormir no sofá da sala. No meio da noite ouviu um arranhar de unhas no estofado. Levantou-se, acendeu as luzes e não havia nada. Foi falar com os pais que não haviam escutado coisa alguma. Quando se deitou novamente, o arranhão recomeçou e lá pelas tantas, uma mão gelada pegou o seu tornozelo. Ele saiu correndo e dormiu o resto da noite no meio dos pais...

Eu tenho um amigo que comprou o prédio de um velho hotel desativado, com uns móveis muito bonitos lá dentro, de imbuia e outras madeiras nobres, da década de 50. Como será totalmente reformado, pedi alguns móveis e levei para minha casa. Na noite que instalei um espelho que estava neste edifício, no meu quarto, minha mulher acordou de madrugada e viu uma mulher loira ali se olhando. Talvez sonho, mas volta e meia ela vê diferentes pessoas estranhas velando o seu sono.

Na noite seguinte, eu já havia ido dormir e ela ficou sentada no computador. Lá pelas tantas, viu um vulto passar e pensou que fosse eu que tivesse me acordado. Quando se levantou para averiguar, o vulto passou atrás dela, no sentido contrário. Só estávamos nós e casa e eu, estava dormindo mesmo...

Esse mesmo amigo citado acima, dono do hotel desativado, comprou um casarão enorme, de mais de 100 anos. C. (o mesmo das histórias do início) é operador de retroescavadeira e deixava a máquina no pátio dessa casa. Quando ia trabalhar pela manhã, sempre conversava com o vigia noturno que contava que ouvia muitos ruídos estranhos por ali. Um dia cedo, foi pegar a máquina e o guarda estava indo embora do serviço, não aguentava mais tanto susto... Conversando com um velho vizinho, contou que a casa tem fama de mal-assombrada pela vizinhança, pois ali havia sido um local em que se torturavam os escravos (pelourinho, senzala?). O genro do C., foi ser o próximo vigia, mas foi morar em uma meia-água reformada no quintal. A sua esposa estava no pátio com o filho no colo, quando olhou para cima e viu uma mulher olhando da janela. E não havia ninguém dentro da casa. No dia seguinte, o irmão dela, de uns 10 anos, entrou com um amigo lá dentro para brincar. Lá pelas tantas, ouviram passos pesados vindo rápidos em sua direção. Os dois chegaram lá fora brancos de susto! Por pelo menos duas noites, as janelas amanheceram abertas, mas com os trincos saídos para fora.

Fui num casamento no interior, em uma cidade mineira. Um dos convidados era funcionário da empresa de mineração e me contou que vários motoristas de caminhão que trabalhavam à noite pediram demissão pelo mesmo motivo: lá pelo meio da madrugada, alguém subia no estribo do veículo, do lado do passageiro, andava ali por algum tempo e depois desaparecia.

Um dia peguei um táxi e o motorista tinha sido mecânico em um serviço de autossocorro aqui em Curitiba. Contou que no local do escritório daquela empresa, todos já haviam presenciado manifestações estranhas. Um dia estava trabalhando à noite e ouviu alguém caminhando no pátio. Quando abriu a porta, não havia ninguém. A seguir, começou a ouvir as portas dos carros de serviço estacionados, que estavam trancados, abrirem e fecharem, isso durante um bom tempo. Pela manhã, estavam todas abertas e nada tinha sido roubado.

Acredite, se quiser.

domingo, 3 de maio de 2009

No Mundo Antigo

No mundo antigo, o tempo andava ao contrário. Por exemplo, o ano de 366 a.C. veio depois de 377, de modo que as pessoas ficavam cada vez mais jovens até ao ponto da Idade Antiga virar moderna. Por esse motivo, o Alto Império Romano veio antes do Baixo Império e a Alta Idade Média veio antes da Baixa.
Essa confusão acabou com o nascimento de Cristo, que se deu no dia 25 de dezembro do ano zero, ou seja, se tivesse nascido uma semana depois, teria nascido no ano seguinte. Em outras palavras, por pouco que Cristo não nasce depois de Cristo.
No Mundo Antigo se vivia em cidades como Roma que ficava na Península Itálica. Itálica, por sua vez, ficava na Espanha, que ficava na Hispânia. A cidade grega de Tebas ficava no Egito, mas hoje a Nova Tebas fica no interior do Paraná.
O Campo de Marte, ficava no planeta Terra.
As pirâmides do Egito, que excepcionalmente ficavam no Egito mesmo, eram construídas pelo faraó morto. Aliás, ele era vivo, mas demoravam tanto tempo para construir que às vezes ele só terminava depois de morto. Quando morria, ele ia ser enterrado na pirâmide, mas quando o defunto não ia por si só, levavam e deixavam por lá.
Os povos antigos gostavam de animais. Os romanos gostavam de feras. Os Egípcios, de gatos. Os gregos gostavam de veados, por lá era uma veadagem só...
Eles não iam muito com a cara dos vizinhos. Os gauleses brigavam com os bretões, que brigavam com os celtas, que brigavam com os germânicos, que brigavam com os otomanos, que brigavam com os hebreus, que brigavam com os mesopotâmicos, que brigavam com os babilônicos, que brigavam com os fenícios, que brigavam com os persas, que brigavam com os gregos, que brigavam com os egípcios, que brigavam com os cartagineses. E todo mundo brigava com os romanos que eram meio invocados, uma espécie de argentinos da época.
Os gregos contavam muitas histórias de família. Por exemplo, o Menelau era casado com uma gostosa chamada Helena que acabou botando chifre nele e fugindo pra Tróia. Daí, ele, com dor de corno, pegou o irmão e resolveu buscar a Helena naquela cidade que ficava no outro lado do mar. Só que não dava vento pro barco ir até lá e nem eles tinham grana pra botar óleo diesel no motor, daí ficaram na praia esperando que ventasse. Lá pelas tantas, o irmão dele, de saco cheio, falou: “Ah, já que não tem nada pra se divertir, vou matar minha filha!”. E, crau, matou a Ifigênia. Daí, a mulher dele, a Clitemnestra, que com um nome desses só podia ser braba de danar, ficou uma fera, foi lá e, crau, matou o marido. A outra irmã, que um tal de Freud contava que tinha um caso com o próprio pai, foi lá e, crau, matou a mãe. Ficou por isso mesmo, porque o irmão dela, o Orestes, era um bundão e não matava ninguém.
No mundo antigo, tudo era antigão. Não tinha TV de LCD e os carros eram umas carroças. A comunicação era tão lenta, mas tão lenta, que ao invés de fazer o upload de um e-mail, era mais fácil escrever num pergaminho e mandar a mensagem à cavalo. Só que isso tinha uma vantagem, pois não apareciam aquelas mensagens de que se executou uma operação ilegal e se será fechado.
Ali foram feitos notáveis avanços nas questões de Estado. A corrupção em Roma, por exemplo, era generalizada, quase todos os políticos eram tremendamente corruptos, com mais um pouquinho de prática, eles teriam virado uma verdadeira Brasília. A sociedade era dividida entre a classe patronal e a classe plebéia, com um monte de burocratas ganhando propina dos dois lados. Quanto a isso, devemos considerar que ainda bem que no mundo atual progredimos e nada mais é assim.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Justiça

Dizer-se ateu ou descrente pressupõe a compreensão da palavra “Deus”, assim como dizer que não se acredita em fantasmas ou em extraterrestres, pressupõe que se compreende o que sejam tais aparições.
E como se define Deus, senão como criador e onipotente? Não se define, não se pode definir algo pelas suas características, no entanto crentes e descrentes se utilizam desse conceito abstrato como princípio nas suas discussões.
É muito fácil discutir o impalpável no campo da metafísica, mas e no mundo da concretude das coisas, como é que fica? Como se define ou exemplifica a palavra “matéria”? Possuir massa e ocupar lugar no espaço não são senão as suas características. Não se vê matéria andando por aí, solta. No mundo real, existem corpos, que são porções definidas de matéria, mas de que são formados, se não podemos a definir? E os triângulos, onde estão? Conhecem-se formas triangulares, mas a geometria nos fornece apenas idéias, não realizações palpáveis. Podemos calcular com elas, podemos prever os acontecimentos dessas manifestações, mas elas continuarão pertencendo ao campo do abstrato.
Dentro da ausência de definições e exemplos, podemos ainda nos perguntar se algo é justo. Os juristas muito repetem que justiça não existe, apesar de criarem os ministérios da justiça, os tribunais de justiça e os nomearem oficiais de justiça.
A justiça para a minhoca que é devorada pelo passarinho não é a mesma do passarinho que precisa se alimentar, ponto passivo, mas isso não quer dizer que justiça não se manifeste.
É relativa? Sim. É abstrata? Sim. Existe? Com certeza não, pois ainda não existe aquilo que precisa ser feito a todo momento. No entanto, não é por isso que não ocorre uma idéia de justiça, que está dentro de nós todos a tal ponto de conseguirmos identificar inclusive o seu oposto: as flagrantes injustiças, estas sim, visíveis, palpáveis e mensuráveis.
A justiça está sempre por fazer ou, em alguns raros casos neste mundo cão, já está feita. Ela pertence aos ambientes do futuro ou do passado, portanto inalcançáveis para nossa dimensão humana que viaja sempre no vagão do presente e que é engatado a um comboio que nunca parte e nem nunca chega à estação alguma.
Justiça existe no futuro, sim, mas ela tem um outro nome, esperança. Só sabemos a identificar, falando na plenitude da idéia, quando ela já foi feita e desapareceram as mazelas que a invocaram. Assim sendo, a sua existência se prova justamente pelo seu deixar de existir, pois como algo poderia se tornar passado se nunca tivesse ocorrido? Podemos imaginar que ela continua existindo no exato e fugaz instante que ela se concretiza no mundo das lembranças.
Mas se podemos reconhecer os seus signos e indícios, sem nunca conseguirmos abraçá-la calorosamente, por onde tem andado? Será que vem de uma natureza inconstante, de um Deus, no máximo, compreensível ou de uma matéria que não é possível apalpar? Por que nem o direito da natureza, nem o direito canônico, nem o direito que se pretende objetivo, conseguem chegar a ela por completo?
Porque o direito, assim como a justiça, também pertence ao rol das palavras abstratas. Ele germina naquilo que não existe, naquilo descaracterizado e sem exemplificação.
Assim, portanto, quando os operadores do direito, dizem que sua função não é fazer justiça, mas fazer direito, trocam seis por meia-dúzia. Sua função, ainda que não seja fazer justiça, é deixar a justiça feita.
Sim, é preciso deixar a justiça feita. Sim, Justiça! Aquilo que não se define, não se mostra, não se apresenta no futuro, não ocorre nem aqui e nem agora, mas que todos sabemos o que é, e que desejamos que ela passe a ter sido executada.

sábado, 25 de abril de 2009

Por que o Relativismo Cultural está incorreto?

A vida é composta de opções que nos levam a ações.
Assim como num jogo de xadrez, pode-se escolher fazer o lance com a torre ou com o peão, mas não temos a opção de não jogar. A não ser em casos excepcionais, como o de doenças debilitantes, a opção do personagem d’O Estrangeiro, de Camus, de não fazer nada a respeito das imposições vivenciais e passar o romance inteiro repetindo “para mim é indiferente”, não é válida. Temos que escolher uma forma de ação e, obviamente, escolhemos aquela que nos traga a maior satisfação dos desejos e minimização das agruras.
O equívoco é acreditar que o mesmo ocorre com um grupo social. A sociedade, que é chamada com diferentes alcunhas dependendo da situação: mercado, massa, eleitorado, etc., é bem mais do que a soma dos indivíduos. Assim como o sal não é a simples soma de sódio com cloro, quando reunimos pessoas, ocorre um acréscimo de estados ou qualidades bastante diversos daqueles propostos por indivíduos. Ninguém de sã consciência acredita piamente que os flamenguistas ou os botafoguenses são pessoas inferiores ou que são filhos de prostitutas, no entanto quando se reúnem torcidas de futebol, a massa pensa diferente. Todos nós aprendemos que a terra gira em torno do sol, no entanto quando o pastor da igreja evangélica fala a passagem em que o sol parou no céu, as pessoas gritam “Aleluia!”. As massas reelegem políticos, as pessoas proclamam corrupções e escândalos. Os indivíduos repetem que Coca-Cola faz mal à saúde, o mercado se locupleta.
A qualidade pode surgir de duas fontes: primeiro, quando reunimos hidrogênio, oxigênio e carbono, substâncias sem gosto, obteremos açúcar, substância com gosto. A qualidade surge do nada, devido às combinações adequadas. Segundo, quando colocamos temperatura no gelo, ele se transforma em gelo mais quente, até o ponto em que muda de estado, vira água. Gelo e água são coisas diferentes, tanto é que podemos pedir num restaurante uma água com gelo, não é uma simples diferença de quantidade de calor.
A segunda falácia é negar que existem verdades absolutas. Isso até pode acontecer em nível individual, mas não em nível coletivo. Quando um político recebe a notícia que sua pesquisa eleitoral deu 45% e mais a margem de erro, isso é 45% e mais a margem de erro, não 58% e nem 23%. Essas pesquisas podem ser verificadas facilmente pelos resultados eleitorais poucos dias depois e tem sido assim desde a década de 50. Quando se afirma que duas nações democráticas nunca entraram em guerra entre si, estamos conferindo uma qualidade à democracia, o de evitar guerras. Não são valores relativos, são regras universais, válidas para todos os tempos e lugares.
O terceiro argumento retórico é o de tomar a borda do sino da curva de Gauss como verdadeira, os números pequenos das estatísticas como se fossem importantes. Isso é válido, por exemplo, quando o Ministério da Cultura financia um daqueles filmes que ninguém assiste. O mercado está apontando para uma determinada direção, mas os burocratas insistem em extorquir dinheiro dos impostos para “promover a cultura”. A pergunta é: será que vale a pena? Será que a cultura é um ser mágico que precisa ser promovido ou a verdade é que os financiamentos se dão em muitos casos para promover apaniguados políticos e produzir uma cultura absolutamente inútil? Não é verdade que o mercado seleciona apenas cultura barata, pois existe um número sem-fim de filmes de qualidade, de grande apelo às massas e que não foram financiados pelos impostos dos pobres contribuintes. As insignificâncias, em numerosos casos, podem ser simplesmente ignoradas sem que venham a fazer a menor falta.
O argumento contrário também é falacioso. Não é porque algo existe em grande quantidade que representa qualidade. Posso jogar todo o lixo do mundo num aterro que ele continuará a ser montanha de lixo, não se transformará nos Alpes suíços. Nem sempre a quantidade leva a uma mudança de qualidade. Não adianta financiarmos numerosas pesquisas em universidades, se não conseguimos produzir um único Prêmio Nobel.
Resumindo, o Relativismo Cultural se baseia em diversas premissas falsas, por isso precisamos sempre ter em mente:
- não existe a opção de não agir, por isso precisamos fazer escolhas;
- as escolhas devem ser as de melhor qualidade;
- qualidade existe e não é um valor subjetivo e nem quantitativo;
- existem verdades universais, nem tudo é relativo;
- números pequenos não nos levam ao encontro da verdade;
- acúmulos de quantidades não levam necessariamente a mudanças qualitativas.

Aonde se quer chegar com tudo isso? O argumento de que o Absolutismo Intelectual é ideológico e funciona para manter estruturas de poder já estabelecidas encontra aqui o seu oposto. O Relativismo Cultural é ideológico também, mas serve para fins diversos, fundamentalmente para extorquir riquezas produzidas pela sociedade para o desfrute de uma casta parasitária dessa riqueza. Serve para que alguns antropólogos financiem pesquisas para manter a cultura de aldeias indígenas e ao mesmo tempo para instalar computadores ligados à Internet que fatalmente irão destruir a cultura das mesmas aldeias. Serve para promover as usinas nucleares como perigosas e logo depois considerá-las ecologicamente corretas. Serve para que num momento um artista proclame a malvadeza dos capitalistas e no outro momento desfrute dos direitos autorais em dólares e da liberdade de expressão produzida pelas sociedades de capital.
Em outras palavras, o Relativismo Cultural se presta para manter ao mesmo tempo um permanente Samba do Crioulo Doido ou, num outro momento, uma Manifestação Artística de Afro-Descendente Bipolar. Depende a quem convém naquele instante.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Filósofos

O Agostinho era santo mesmo, mas o São Tomás gostava de tomá umas pingas com o Thomas Jefferson, que era outro que não tomava jeito. E ainda tomavam em jejum, não eram como o outro que era um gordão porque comia um Platão de comida pela manhã, um Platão no almoço e um Platão antes de dormir. Mas acontece que era um gordo saudável, quem tinha um colesterol altíssimo por causa da alimentação, era o Francis, pois atacava a geladeira no meio da madrugada só para comer Bacon.
Tinha um que tinha uma missão bem Espinosa: convencer o outro que estava transando Com Fucio e largado a mulher, a voltar para casa. Ficava gritando: Voltaire! Voltaire para casa, pensa nos teus filhos que vão crescer ao Deus-dará...
O Marx Weber era muito amigo dos dois russos, o Russell e o Rousseau.
O Freud era aquele tipo de pessoa que só se f... Bem..., vamos pular este.
O outro gostava de pescar. E não era só pescar, ele colecionava tampinhas de refrigerante e passava as tardes montando aeromodelos, quando não estava soltando pipa. Gostava também de esquiar no Monte Squieu e caminhar na Montaigne. Era cheio de Hobbes. Ao contrário daquele que desperdiçava tudo. Jogava fora o que lhe caía nas mãos, era o rei dos Descartes.
Diz um boato de que quando o Kierkegaard se encontrou com o Diderot, criaram o Kinder Ovo: foi achado um grande Nietzsche de mercado.
Tinham também os malucos, eram todos meio Locke. Um deles ficava contando até dez, o dia inteiro, ninguém aguentava mais o Compte. O que gostava de cantar, era doido manso, o pessoal até pedia: Kant aquela musiquinha dos Mamonas Assassinas! E ele cantava...
Aquele que era metrossexual, o Adorno, gostava de usar brinquinho na orelha, piercings e uma sacola cheia de penduricalhos. Além disso, tinha um amigo muito distraído, contam que andava por aí comendo Mosca.
No entanto, o Mosca jura que não comia ninguém.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Recado aos Primeiroanistas

O início de um curso superior em uma universidade pública é sempre difícil. Na tentativa de auxiliar você, neófito, seguem algumas informações que serão necessárias durante o seu período de permanência nessa instituição.
Ser acadêmico significa aprender a falar. Por exemplo, no ensino médio, se você chutava, agora você passará a usar o método empírico-indutivo de validação científica. No ensino médio, se você colava, agora usa um conceito informal de pesquisa bibliográfica.
Você precisa aprender duas expressões fundamentais na sua formação acadêmica: “grosso modo” (assim mesmo, sem o “a” e grifado porque não é português, é latim), que se usa quando a gente não está com saco de pesquisar alguma coisa em detalhes e “em princípio” (também sem o “a”), quando não se tem a mínima idéia do que se está falando.
Você não passa o tempo todo jogando pebolim no Centro Acadêmico, mas passa a exercer atividades de extensão sócio-recreativas.
Não é correto falar que alguns professores matam aula, mas que ocorrem ausências docentes devido a “gaps” espaço-temporais na grade curricular.
Tampouco é correto dizer que os banheiros são fedidos, mas se trata de uma incompatibilidade de uso massivo das instalações sanitárias.
E nem adianta reclamar que a comida do Restaurante Universitário é uma droga. É alimento palatável de elevado teor nutritivo.
Não é verdade que precisou de um determinado setor e deu com a cara na porta porque eles abrem em umas horas malucas, mas ocorre uma adequação horária departamental.
Não pense também que se trata de uma “pocavergonha” o fato de, por um motivo ou outro, você acabar não tendo, “grosso modo” (viu?), 40% das aulas que deveria ter e, portanto, um curso de cinco anos poder ser reduzido a três num nítido desperdício de dinheiro público. O tempo livre é necessário e dedicado a atividades extracurriculares com vistas à integração social do corpo discente (no ensino médio se chamava “bater-papo”), complemento curricular nas áreas de pesquisa (jogo de truco), além, é claro, de atividades de extensão sócio-recreativas (sinuca e pebolim, lembra?).
A palavra “universidade” pressupõe uma cidade aberta a todas as novas idéias do universo, mas assim como os padres da Idade Média não podiam negar a existência de Deus ou a supremacia da Igreja, no meio acadêmico público brasileiro é pecado negar o poder do Estado e a própria validade do estatismo. Se você ousar esboçar um pensamento liberal e contestar o desperdício do dinheiro público, em última instância a discussão vai acabar em “e o que você está fazendo aqui, mamando?” (argumentos “ad hominem” são muito usados na universidade, se não aprendeu o que são, vai aprender logo). Contra esse argumento, poucos têm honestidade intelectual de olhar nos olhos, abrir um sorriso e responder: “Sim!”. Portanto, nas muitas vezes que escutar de como o nosso governo é bom e necessário, prossiga no procedimento “input-output” auricular (isto é, entrar num ouvido e sair pelo outro).
Pelo mesmo motivo, quando disserem que a universidade pública se destaca nos escores de avaliação do Ministério da Educação, não pense que é porque é gratuita, selecionando os alunos mais estudiosos e capazes da sociedade em vestibular concorridíssimo e que conservam essas qualidades durante a vida acadêmica, mas sim porque tem instalações adequadas à excelência de ensino e competentes mestres. Em outras palavras, isso se dá à potentosa capacidade estatal, e não a talentos individuais.
Em outras palavras ainda: chamaram você de burro, mas não repare porque aqui tem um fundo de razão. Quem não aprende essas verdades muito rapidamente, pacóvio é.

terça-feira, 31 de março de 2009

A Hora do Planeta

Eu já falei por aqui, vou falar de novo, de forma bem didática.
O rio se move, o oceano, em relação a ele, está parado. Quando o rio chega no oceano, as suas águas se desaceleram, gerando calor, como acontece com um freio de um carro. Quando as suas águas passam pelas paredes formadas pelo seu canal, elas provocam atrito, gerando calor.
Isso é da natureza, em princípio, não se pode e nem se deve mudar.
Quando os engenheiros constroem uma hidrelétrica, isso é, transformam o a diferença de potencial “hidro” em energia elétrica, eles não estão aquecendo o planeta, apenas a transformando, pois na natureza nada se perde, nada se ganha, tudo se transforma. Quando acendemos uma lâmpada, em um país no qual 80% da matriz energética é de origem hídrica, praticamente não estamos contribuindo para o aquecimento do planeta. Se usarmos lâmpadas incandescentes no lugar das fluorescentes, ou ainda, ligarmos o ar condicionado, o mesmo ocorrerá, o aquecimento apenas será transferido daquele provocado pelo movimento do rio, para as nossas casas. A única diferença será no valor da conta, não no aquecimento global.
Assim, quem já viu aquele anúncio em que se propõe substituir as lâmpadas incandescentes por fluorescentes para salvar o planeta? Será que dá para entender que seria um bom conselho ao grupo publicitário que a executou, que voltasse a frequentar aulas de física do ensino médio?
Tudo bem, quando apenas uma agência de publicidade e um cliente que aprova o anúncio pisam na bola, asneiras, assim como shits, happens. Porém, o que se pode dizer quando o Poder Público desliga todas as luzes dos monumentos de diversas capitais do país e multidões acendem velinhas em praça pública?
Observe-se bem: as velas, essas sim, por queimar parafina, combustível de origem fóssil, esquentam o planeta...
Todo o potencial hidrelétrico instalado, se não for utilizado, será simplesmente perdido, pois atualmente não pode ser acumulado de maneira economicamente viável. Em outras palavras, aqui no Brasil, apagar as luzes é simplesmente desperdício das riquezas naturais ou desperdício do dinheiro público, mas não um ato de benevolência com a humanidade ou com as gerações futuras.
Se todas as horas que se passam no planeta Terra fossem dessa estupidez magistral, coitados dos terráqueos.

sábado, 28 de março de 2009

O Meu Barbeiro e a Sociologia Política

Se fosse possível definir algo pelo seu oposto, o termo “ciência” seria definido como aquilo contrário à “opinião”. Em outras palavras, sociólogos, os novos mandarins, fazem ciência, e o meu barbeiro dá palpites.
Ilustra-se com a parábola do matemático e do arqueiro. O matemático diz ao arqueiro que, teoricamente, ele jamais conseguiria acertar o alvo, pois sua flecha, a cada unidade de tempo, percorreria a metade do espaço necessário, nunca chegando ao seu destino. O arqueiro, em silêncio, retesa o seu arco e, soltando a flecha, acerta o alvo, remetendo novamente o sábio à sua dúvida atroz.
Ou ainda, perguntamo-nos se o superhomem das histórias em quadrinhos, com sua super visão telescópica de raios-X e que vê através das paredes, além da metrópole e além das estrelas não seria apenas um pobre cego, porque, aquele que vê sempre além e mais além, nada consegue ver.
Ao perguntar para o meu barbeiro o que seria política, ele me responderia, ainda que com palavras diversas do seu linguajar simples e peculiar, que é uma simples guerra de pedras e tacapes entre “yahoos” swiftianos. Política, principalmente a terceiromundista, com exceções contadas em miúdo, divide-se em políticos desonestos, os que roubam para o engorde da própria algibeira, e políticos honestos, que roubam para satisfazer o seu eleitorado e apaniguados, pois nestes confins a patifaria também pode significar sinônimo de honestidade. Qual pode ser a explicação para a ascenção ou derrubada de um presidente em um país fictício? Vontade Popular? Vontades políticas? Ética e amadurecimento da consciência da população? Não: interesses de uma emissora de TV. O meu barbeiro sabe disso, mas os cientistas, não. O que acontece na realidade não cabe nas linhas de texto, pois aqui o “paper” não muito se diferencia do papel em branco.
A sociedade é conflito, dizem os cientistas. Entre ricos e pobres, sábios e ignorantes, fortes e fracos. Perguntando ao meu barbeiro, ele só quer uma coisa, pagar menos impostos, ou, pelo menos, que os impostos que ele paga sejam mais bem empregados. Se com ele elaborássemos a questão, ele nos escancararia uma luta entre, valendo-nos dos termos elaborados pela biologia, hospedeiros, aqueles que pagam impostos, e parasitas, aqueles que deles se beneficiam. Sim, porque todos sabemos que são castas diferentes. Existem empresários, profissionais liberais e empregados do setor privado que apenas pagam, e toda uma burocracia, muitas vezes corrupta e desnecessária, que se locupleta.
E por que os cientistas se afastaram tanto dessa obviedadade? Porque se admitissem que a política é chão e imediata, não teriam motivo pelo qual justificar a sua existência, pois a prática do tiro e o treinamento de pugilismo seriam ciências mais eficientes para enumerar e estabelecer as práticas do poder. E se descobrissem que a guerra de classes não existe, porém, como oposição ao declínio de qualquer outro conflito abstrato, ocorre uma disputa de castas que se procede entre hospedeiros e parasitas, teriam que contestar a própria existência do Estado, que dá provento estrutural e financeiro para a subsistência diária de tal sapiência vazia.
Assim, por mais que a opinião do meu barbeiro, mesmo reles, plebéia e inconsistente, pareça vã, tenho certeza que ele julga os fatos de maneira tão honesta quanto corta o meu cabelo.

sábado, 21 de março de 2009

A Ideologia do Estatismo

O que é um liberal?
Uma definição simples: liberal é aquele que procura reduzir os impostos. Em última instância, reduzindo os impostos, reduz-se o tamanho do Estado e todas as suas consequências, a corrupção, a ineficiência, a troca de favores, a venda de cargos, etc.
Essa definição é a que estudamos na escola, ainda que ninguém nos diga de uma forma tão simples: a Inconfidência Mineira, uma revolução liberal, buscava reduzir impostos, a Revolta Farroupilha, outra revolução liberal, buscava reduzir impostos... Liberais buscam uma simples coisa, serem menos roubados pelo Estado.
Qual é o contrário de liberal, portanto? É aquele indivíduo que busca aumentar impostos, aumentando o tamanho do estado ou seus gastos públicos.
A dicotomia política se resume a esses dois extremos, um defedido por aquele que gera riquezas e paga a conta, outro por quem do Estado se beneficia.
Muito bem. Agora qual é o antônimo de liberal? Qual é a palavra que define essa atitude perdulária com o dinheiro dispendido pelos outros? Comunista? Não, esse não é o antônimo. Nazistas também tentavam aumentar o tamanho do estado. Populistas em geral? Sociais-democratas de modelo escandinavo? Petistas? Tucanos?
Assim, chegamos na primeira constatação, não existe uma palavra que defina um aumentador de impostos e isso faz parte da sua ideologia, evitar que se comente muito o assunto de forma direta. Portanto, combatendo esta idéia, criemos um neologismo: “ESTATISTA”.
Por estatista, não confundir com estadista, nos referiremos a todo aquele que toma atitudes públicas que visem, em última instância aumentar o tamanho do Estado e, conseqüentemente, aumentar os impostos.
Tendo essa definição em mãos, derrubamos facilmente argumentos políticos de alguns esquerdinhas que chamam, por exemplo, o governo Fernando Henrique de “neo-liberal”. Ele aumentou ou diminuiu os impostos? Ora, aumentou, e ainda criou uma série de agências reguladoras, bolsa-escola, bolsa-gás, controles mais estreitos de arrecadação e outras formas de extorquir e gastar o dinheiro público. Portanto, ainda que tenha acabado com alguns cabides de emprego como a Vale, a Embraer e as empresas de telefonia, a última coisa que podemos chamar o período FHC é de um governo liberal. Ora, foi um governo altamente estatista e dizer o contrário é apenas fazer uma cortina de fumaça sobre o cerne da discussão .
Lembremos que o governo Lula reduziu o IPI dos automóveis e produziu uma contenção dos gastos públicos após a crise econômica mundial, mas isso se deveu por uma contingência econômica, não por uma convicção ou um estilo de administrar. Atos liberais não tornam uma administração pública liberal.
Ainda no desmonte do discurso ideológico, é preciso cessar de mencionarmos tudo que se refere a pagamento de impostos, com expressões lançadas na maciota. Contribuintes, não são “contribuintes”, isso é uma mentira! Os que pagam impostos são Pagadores de Impostos e fim. Não se deve mencionar que houve um “desvio no erário público”, pois, num país de iletrados, poucos sabem o que isso significa, mas sim devemos falar que houve “roubo no tesouro nacional”, daí todos entendem. Taxas de juros? O que são, na verdade, senão “interesses”, como se diz em espanhol e em vários idiomas? Não existem “tributos”. Existem taxas e impostos. Não existe “arrecadação”, mas extorsão.
Será que dá para perceber que ocorre todo um interesse em escamotear das mais diversas maneiras o verdadeiro discurso arrecadatório (extrosivo!)? O economês brasileiro, mais especificamente o economês que trata da tributação (taxação, imposição!) é extremamente ideológico.
Ora, mas, se, em princípio, perguntarmos para qualquer passante na rua se ele gostaria de reduzir os impostos, responderá que sim. Se o fato de reduzir impostos ser um bem, é consenso entre a grande maioria dos brasileiros e uma idéia simpática à raça humana em geral, por que então eles sobem de maneira constante?
Quando há um crime, a primeira pergunta que um investigador faz é “Quem ganha com isso?” .
Perguntemos então. Quem ganha com essa ideologia?
Nomes aos bois! Façamos o rol:
- políticos na forma de distribuição de cargos, desvios do tesouro público, aumento de poder e riqueza de forma geral;
- funcionários públicos que têm interesse na manutenção e aumento de cargos e salários;
- universidades públicas, principais desenvolvedoras do discurso ideológico;
- algumas fundações, ongs, associações, sindicatos;
- empregados de empresas públicas;
- países estrangeiros, pois a grande carga tributária (taxativa, impositiva!) restringe o crescimento do país o que coloca-nos em desvantagem competitiva;
- alguns grandes empresários e apaniguados políticos que se beneficiam irregularmente do dinheiro público;
- meios de comunicação que recebem anúncios do governo e de empresas públicas;
- etc.
É claro que não podemos dizer que é uma unanimidade nesses setores citados, pois existem exceções e as metonímias são sempre perigosas. Como em todo meio humano, existem vozes discordantes, porém, falando de uma maneira geral, não são justamente os que têm um discurso estatizante? Será que existem muitos liberais nas áreas em que as pessoas ganham mais do poder público do que pagam de impostos que defendem o trabalho e a livre iniciativa, como prega a nossa constituição, ou a maioria esmagadora faz um esforço constante para que tenhamos mais órgãos públicos, mais funcionários, mais e mais gastos... consequentemente mais impostos?
Assim, para sonharmos em mudar nossa realidade, comecemos simplificando o discurso. Liberais são os que querem reduzir impostos, estatistas os que fazem força para aumentá-los. Não dificultemos as coisas em um intelectualismo acadêmico absurdo apenas com a intenção de que ninguém entenda do que se fala e assim se consiga manter as estruturas de poder.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Pecado Original

Quando Deus criou o homem e a mulher, criou-os sem o conhecimento do bem e do mal, ou seja sem responsabilidades e sem culpas pelos seus atos, apenas com dolo: se transgredissem as regras e comessem do Fruto Proibido, iriam ser punidos, sem sombra de dúvida. Eles assim o fizeram e adquiriram o pecado original para si e para todos os seus descendentes.
O que Adão e Eva fizeram? Um dolo, um ato ilícito, com a intenção de fazer, sabendo que a sua prática era proibida. E do que se trata o pecado original, aquilo que herdamos sem a mínima vontade? É a culpa, um ato praticado de forma não intencional, mas nem por isso menos danoso.
No Brasil, quando tomba um caminhão na estrada, surgem pessoas do nada, como se tivessem brotado do mato e das fendas da estrada para roubar as mercadorias. Se perguntarmos a qualquer uma delas se se julgam ladras, elas dirão que não, pois a “culpa é do camioneiro em dormir no volante, nós só estamos catando para não estragar...”. Em nosso país, a idéia de pecado original, exime a responsabilidade dos atos posteriores.
Os atos que levaram a ele também são redimidos pela catarse da culpa. Quando um motorista atropela uma criança em um bairro de periferia, precisa sair correndo, pois de outra maneira será certamente linchado pelos moradores. Será que as pessoas saem por aí com a intenção de atropelar criancinhas ou é um caso evidente de culpa e não de dolo? A população não quer nem saber da irresponsabilidade dos pais em deixar os filhos na rua ou do Poder Público em não dispor de sinalização. O motorista tem a mácula do pecado original e pronto!
Somos treinados desde crianças a malhar Judas, quando crescemos, não conseguimos agir diferente. Em cada cabeça brasileira soa o sino da sentença de um juiz cruel que exige expiação imediata para que a justiça divina se estabeleça de imediato.
Tudo isso seria apenas um curiosidade da cultura de nosso país se não impregnasse o sistema judiciário também. Depois do acidente do avião da Gol, as pessoas ficaram indignadas com a fuga dos pilotos para os Estados Unidos e com a “insensibilidade” do governo americano em acobertar tais criminosos. Afinal de contas, é deles o pecado original pela morte dos passageiros do Boeing, não só pela barbeiragem nas alturas, mas também pelo fato de serem cidadãos americanos, “porcos imperalistas que vêm nos assassinar por aqui”, na cabeça doentia de muitos de nossos concidadãos.
No entanto, a ALPA, Associação de Pilotos de Linhas Aéreas, advertiu os seus membros dos perigos de se voar no Brasil, esse país de bárbaros em que um acidente involuntário leva as pessoas à cadeia.
O acidente foi causado porque os “porcos imperalistas” não ligaram o “transponder”, foi o laudo final das investigações. Ora, uma grande porcentagem dos aviões que voam no Brasil nem sequer têm esse equipamento. Muitos só têm velocímetro, temperatura do óleo, conta-giros, altímetro e “bolinha” (um nível igual ao de pedreiro), ou seja, um painel mais espartano do que o de um automóvel, e nem por isso são equipamentos que representam perigo à segurança aérea. Pássaros, balões e outros obstáculos precisam ser monitorados e evitados, fazem parte do controle de tráfego.
Cada equipamento precisa de treinamento adequado. Assim precisamos de alguns dias para “vestir” o veículo quando trocamos de carro, os pilotos precisam de algum tempo para um total domínio de um novo avião. É preciso fazer o “ground school” (treinamento teórico) e treinamento em simulador. Horas de vôo no equipamento também ajudam.
De quem é o dolo? O acidente não foi intencional, não houve dolo, todos sabemos. De quem é a culpa? Dos pilotos, mas também dos controladores de vôo, do diretores dos órgãos administrativos, dos responsáveis por verbas, dos responsáveis pelo treinamento de controladores e do equipamento, dos políticos corruptos que no passado desviaram valores destinados à aviação, dos professores de inglês dos controladores de tráfego, dos eleitores que votaram mal... É muito fácil achar um Judas para malhar. Um acidente é sempre causado por um somatório de fatores, se formos culpar um elo, deveríamos culpar também todos os responsáveis pela cadeia de acontecimentos.
De quem é a responsabilidade? Da companhia aérea americana, isso ninguém discute, da mesma maneira que quando um carro bate no poste, não se pode responsabilizar o poste. A empresa aérea a única que precisa pagar a conta das indenizações.
O pecado original, não esqueçamos, destrói a idéia de dolo e de responsabilidades. Assim sendo, busca-se o culpado na vã esperança de nos libertarmos de nossos próprios crimes.
Assim, venerado leitor, quando perguntardes por quem os sinos da nossa justiça dobram ao procurar culpados de forma insana, não esqueçais: eles dobram por vós...

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Energia Barata

Hoje eu estava assistindo na TV um programa sobre umas “scooteres” elétricas que foram lançadas recentemente, falando das vantagens de não se precisar reabastecer o veículo.
O mito da eletricidade é das mentiras mais bem contadas para os leigos. É impressionante como as pessoas acreditam que um veículo elétrico poderia rodar praticamente sem gastos e que existe um complô internacional dos fabricantes de automóveis para que as pessoas usem carros à gasolina.
Basta um pouco de pensar para que percebamos que isso não é verdade.
Iniciando o raciocínio: por que no nosso país é preferível usar chuveiro a gás do que elétrico? Simples, além de aquecer mais, o gás (GLP, de petróleo) é mais barato, todos sabemos. Por que hotéis e outras empresas preferem usar um gerador a diesel em horários de pico do que usar a eletricidade da rua? Por que o diesel é mais barato do que eletricidade...
Está certo que é uma energia menos poluente, mas quem disse que eletricidade é barata? Comparada a outras formas, é extremamente dispendiosa, pois necessita de massivos investimentos, normalmente estatais, que nem sempre são feitos. Para controlar o consumo, os governos aumentam o preço, lei da oferta e da demanda.
Sabendo disso, as distribuidoras de petróleo simplesmente fazem os seus preços despencarem, de maneira que os investimentos em energias alternativas ou concorrenciais não compensem. Foi o caso dos recentes aumentos do petróleo, quando o barril começou a se aproximar dos duzentos dólares, os cartéis acenderam a luz vermelha, pois começaram a surgir carros com célula de combustível, o álcool brasileiro começou a se tornar viável e a caríssima exploração dos campos da Petrobrás em águas profundas começou a valer o investimento. Com 45 dólares o barril, tudo isso saiu das manchetes, ficou caro.
Isso é um fenômeno mundial. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde existe muito mais infra-estrutura e a eletricidade é bem mais barata, a ponto de praticamente não se usar gás doméstico, a gasolina também acompanha esse custo baixo, pois os produtores de petróleo sabem muito bem que se cobrarem muito, as pessoas vão procurar alternativas energéticas, o que é extremamente danoso aos negócios. O mesmo vale para o álcool: nos estados em que o custo de transporte do álcool é mais alto (RS, SC...), o preço da gasolina também é, mantendo sempre a concorrência.
A mesma lógica de custo de eletricidade vale também para outros veículos: células de combustível (hidrogênio), ar comprimido, volantes de inércia, etc. se valem da eletricidade para atuarem, sendo portanto caros.
Qual é a solução, portanto, para baixar o preço nos postos de gasolina? Investir em infra-estrutura do setor elétrico! Por esse motivo que existe tanta pressão contra usinas hidrelétricas e nucleares, pois produzir eletricidade, significa, baixar os preços praticados pelas grandes distribuidoras. Poderosos “lobbies” e alguns ambientalistas vendidos fazem de tudo para que a eletricidade continue caríssima por aqui. Como a eletricidade é fruto da ineficiência estatal e os derivados de petróleo correspondem à competência de um ágil e altamente lucrativo setor privado, este sempre levará vantagens sobre aquele.
E, os incautos argumentarão mais um pouco, os painéis solares não serão a solução? Afinal, se cada um produzir a sua própria energia a eletricidade custará menos e, baseados no raciocínio aqui exposto, o petróleo cairá até o ponto de ser eliminado. Pelo que sabemos hoje em dia, isso também não ocorrerá. A tecnologia solar está chegando no limite teórico de eficiência, o custo do quilowatt/ hora continuará sendo mais caro do que o da energia nuclear e muito mais caro do que a hidrelétrica. O mesmo vale para os ventos e as ondas: são economicamente inferiores.
Quais são as soluções? Uma delas é armazenar a energia elétrica perdida nos horários de baixo consumo, técnica que os engenheiros de Itaipu estão tentando em um trabalho discreto, mas valoroso. De que forma? Existem três tipos de acumuladores: baterias, volantes de inércia e eletrólise do hidrogênio da água. As baterias, são caras. Os volantes de inércia (rodas girando em alta velocidade que acumulam energia mecânica) geram muita manutenção, sendo também dispendiosos. A mais promissora das formas de acumulação de energia, é a produção de hidrogênio, o que também não é barato e, não esqueçamos, é altamente explosivo.
A cerâmica termelétrica (que converte calor em eletricidade) e o barateamento dos painéis solares são também formas promissoras, pois mesmo com baixa eficiência, um dia pode-se ganhar em termos de custo. Materiais esponjosos que acumulam hidrogênio de forma segura também estão vindo por aí, mas essas tecnologias ainda residem no futuro.
E quanto ao álcool de cana? Será o futuro do Brasil? Não, não será. Apesar da enorme campanha do governo para afirmar o contrário, não creio. Desde o momento que se descobriu como extrair álcool de celulose e também de algas marinhas cultiváveis, a vantagem competitiva das grandes áreas agrícolas sob um sol tropical que temos se tornou menos significativa. É só questão de tempo para outros países produzirem álcool barato que virá competir com o nosso. E no momento que isso acontecer em nível mundial, os cartéis de petróleo despencarão ainda mais os seus preços, tornando os investimentos nessa área inviáveis.
Assim sendo, em termos práticos para o nosso momento presente, como parar de queimar combustíveis fósseis? Investindo nas formas convencionais de eletricidade. Quanto mais hidrelétricas e usinas nucleares tivermos, mais barato será o litro de combustível e o nosso ar será mais limpo.
Enquanto isso, não sonhe com uma motoneta elétrica. É caro.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Embalagens de Pneus

Hoje eu estava assistindo em um canal público de TV uma daquelas intermináveis e infrutíferas discussões de como controlar os crimes de Internet. Gosto de assistir, pois sempre rio por dentro nesses programas de humor “non sense”.
“É consenso que precisamos fazer alguma coisa.”, dizia um dos participantes.
Consenso entre quem? Fazer o quê e como?
Quando iniciou a indústria de pneus, discutiu-se muito qual deveria ser a embalagem ideal do produto: sacos? Caixas? Vender em unidade, em quatro? No final das contas, chegou-se à conclusão que a atitude ideal era a de não se fazer nada. Hoje nos parece absurdo criar uma embalagem para pneus, mas à época, não.
Controlar a Internet como na China? Não. Todos são unânimes. A constituição brasileira garante a liberdade de expressão, todos concordam. E proíbe também o anonimato e isso, para o meu espanto, todos também concordam!
Fico imaginando aquelas anedotas de delegacia dos tempos da ditadura:
- “Dotô Delegado!”, fala o escrivão, “Temos um crime praticado por um anônimo!”.
- “Então prende esse tal de Anônimo e vamu batê nele até confessá!”
- “Mas Dotô, o senhor não entendeu, é anônimo.”
- “Pode sê Anônimo, sindicalista, deputado e até bispo! Na minha delegacia a gente trata todo mundo igual!”...
Até hoje, não entendi o artigo 5º/ IV da constituição. Alguém tem idéia de como pode ser vedado o anonimato? Para quem quiser praticar crimes “on line”, basta ir a um ciber café, tomando o cuidado de verificar se não existem câmeras no local, e mandar ver. Ou estacionar o carro em frente a um shopping e acessar a rede wi-fi do estabelecimento com um laptop. Ou baixar programas de anonimato, como o “Anonimyzer” e outros. Ser anônimo é a coisa mais fácil que existe e tentar combater esse fato é apenas jogar dinheiro público pelo ralo, pois, mantendo a liberdade de expressão, é impossível.
E os golpes cometidos pela Internet por bandidos sem face? E as barbáries cometidas pelos pedófilos?
Bem, o primeiro caso combate-se, desculpem-me ser chato, mas volto sempre ao assunto, acabando com o anonimato do dinheiro, conforme sempre defendo aqui. Se acabássemos com o dinheiro “cash”, terminariam os negócios ilícitos, simples.
Quanto aos pedófilos, mudar a maioridade para 15 anos, como na Dinamarca, já reduziria o problema pela metade. A idade mínima para os direitos políticos corresponde à bíblica proposição do fruto do bem e do mal. Será que para entender o que é um crime e para manter relações sexuais, 15 anos não seria já o suficiente? Para comer da Maçã do Pecado ou para receber o Fogo de Prometeu, não é preciso infantilizar tanto assim a população.
Aliás, há pouco mais de um século, as pessoas casavam-se até aos 12, 10 anos, pois esperavam morrer aos trinta e poucos. Proibir uma criança do acesso à pornografia é coisa nova também: nos castelos medievais não havia corredores e as pessoas praticavam sexo em qualquer lugar, às vistas de todos que por ali passavam, inclusive menores, e não constam nos apontamentos históricos crianças traumatizadas por esse fato. Na história da humanidade, os regulamentos de continência sexuais só apareceram na Inglaterra vitoriana para lidar com dois fatores novos, a era da produção industrial e o controle do crescimento populacional, como um dos fatores para o aumento de riqueza.
Usando a expressão de Michel Foucault, “nós, os moralistas”, precisamos aprender a fazer essa distinção. O comércio ilegal, inclusive o de fotos de crianças, pode ser combatido com uma simples mudança na Casa da Moeda, acabar com o dinheiro “cash”. Claro que para isso, basta convencer alguns juízes que são donos de prostíbulos, alguns deputados traficantes de drogas e algum ministro corrupto, que ditam a administração do planeta, a implantar tal sistema, o que não é tarefa fácil, mas é a única ação que teria efetividade nesse campo.
O outro problema, em parte, talvez não seja um problema real, mas criado por nós mesmos. Talvez tenhamos passado a infantilizar as nossas crianças além do tempo necessário.
Pode ser que as questões não sejam a liberdade de expressão, os métodos de controle ou a ineficácia governamental, mas a displicência dos pais e educadores em verificar o que as crianças em tenra idade acessam ou com quem conversam. Infelizmente, o Estado não tem condições de cumprir um papel que é de responsabilidade familiar. Intrasferível.
Por isso, tentar regular a Internet é como tentar solucionar o problema da embalagem dos pneus, ou seja, o melhor a fazer, é nada.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Nunca Houve uma Guerra entre Duas Democracias

Poucos meses após o término da Guerra das Malvinas, fui acampar em Posadas, na Argentina e, às margens do Rio Paraná, fiz amizade com o salva-vidas que havia sido sargento durante a guerra.
Estando eu naquela idade em que a psicologia ainda não conseguiu definir exatamente entre juventude airada e retardo mental, conversando sobre a experiência recente do argentino, lá pelas tantas perguntei para ele: “y entonces, usted ha matado muchos gurkas?”. Ele me olhou com cara feia e ficou quieto, mudando de assunto.
Naquele momento, percebi que, apesar de termos quase a mesma idade, ele já era um homem vivido e eu, um pirralho. Eu ainda estava naquela fase de acreditar que existia uma solidariedade sul-americana e que os mais fracos estão sempre com a razão.
Acontece que não era só eu, esse era o zeitgeist. Os jornais da época incentivavam essa visão de que a Argentina, por ser próxima, teria o “direito natural” às Malvinas e que a guerra era a opção natural. Aliás, até hoje em dia, se vê placas pelas rodovias de lá: “Malvinas son Argentinas”.
O fato histórico é que o Galtieri, um ditadorzinho de republiqueta, resolveu fazer uma bravata contra um dos países militarmente mais fortes do mundo. É possível que tenha sido a guerra mais quixotesca da história: curta, sanguinolenta, de precisão cirúrgica e extremamente estúpida. A Argentina era um rato rugindo.
Uma das maiores mentiras que as nossas esquerdas nos impingem é a de que guerras são causadas por motivos econômicos. Se fosse assim, já teriam ocorrido guerras entre duas democracias, pois os interesses econômicos valem para todos os países, mas isso não aconteceu em mais de duzentos anos da existência dos estados democráticos modernos.
A França e a Inglaterra eram inimigos históricos, quando eram dominados por autocracias ditatoriais. Deixaram de ser. O mesmo ocorreu entre a França e a Alemanha, guerreavam porque a Alemanha era uma ditadura. A Coréia do Norte é uma ditadura até hoje. O Vietnam estava sendo transformado em uma ditadura. Muitos países africanos. O Iraque e o Afeganistão...
O Brasil tinha medo de entrar em guerra com a Argentina quando éramos duas ditaduras, agora temos medo de entrar em guerra com a Venezuela. Por que o perigo se mudou do sul para o norte? Simples, porque mudou a ditadura de local!
Guerras são provocadas pelos governos. Povos têm governos que merecem.
E, também outro fato histórico, os intelectuais das respectivas épocas que sempre se auto-proclamaram pacifistas, foram metodicamente contra as democracias e a favor dos regimes ditatoriais. Na Inglaterra, a eugenia de Hitler foi aclamada por intelectuais do porte de Bernard Shaw e H.G. Wells. Nos Estados Unidos, milionários como Rockfeller financiavam ações eugenistas. Até por aqui, o “santo” comunista Jorge Amado foi colaborador nazista durante a guerra, verdade escamoteada pelos nossos esquerdinhas de plantão.
Sendo assim, fico incomodado quando me dizem que a causa da guerra na Palestina é para a família Bush desovar estoques de armas. Ou porque os judeus americanos mandam milhões para Israel promover um genocídio. Fico incomodado por uma imprensa que afirma que os palestinos só disparam mísseis caseiros (a existência de um míssel não pressupõe uma indústria – e um comércio – bélico?), quando se critica as ações desproporcionais de Israel (existe uma guerra bem proporcionada?), quando confundem israelenses com judeus, num nítido racismo, mas não confundem palestinos com muçulmanos, numa nítida atitude tendenciosa. Fico incomodado quando ditadores como Chavez, os irmãos Castro e Almadinejah se alinham com a causa palestina e ninguém levanta a voz para lembrar que eles são inimigos da liberdade.
Fico incomodado com uma imprensa que afirma que Israel joga armas de alta tecnologia contra crianças de estilingue e que tenta negar que não existem crianças-bomba. Durante a Segunda-Guerra, os nazistas treinaram cachorros para comer linguiças embaixo de tanques e os encheram de explosivos quando chegaram as tropas russas. Dessa maneira, os russos eram obrigados a disparar contra todos os cães que viam pelas ruas, pois eram um potencial torpedo. Criando crianças-bomba, os palestinos estão dando aos seus filhos a mesma consideração que os nazistas davam a seus cachorros, mas disso ninguém fala.
A verdade histórica continua valendo. Guerras são causadas por ditadores fazendo bravatas à la General Galtieri. Israel é uma democracia cercada por um mar de ditaduras. O fim da guerra não se dará com o cessar-fogo, mas apenas quando o conceito de regime do povo, pelo povo e para o povo for incorporado nesses países, o que certamente durará séculos para acontecer.
No entanto, para Israel é uma guerra já vencida, pois temos um último fato que nos consola: historicamente, as democracias sempre vencem!