Por que o Relativismo Cultural está incorreto?
A vida é composta de opções que nos levam a ações.
Assim como num jogo de xadrez, pode-se escolher fazer o lance com a torre ou com o peão, mas não temos a opção de não jogar. A não ser em casos excepcionais, como o de doenças debilitantes, a opção do personagem d’O Estrangeiro, de Camus, de não fazer nada a respeito das imposições vivenciais e passar o romance inteiro repetindo “para mim é indiferente”, não é válida. Temos que escolher uma forma de ação e, obviamente, escolhemos aquela que nos traga a maior satisfação dos desejos e minimização das agruras.
O equívoco é acreditar que o mesmo ocorre com um grupo social. A sociedade, que é chamada com diferentes alcunhas dependendo da situação: mercado, massa, eleitorado, etc., é bem mais do que a soma dos indivíduos. Assim como o sal não é a simples soma de sódio com cloro, quando reunimos pessoas, ocorre um acréscimo de estados ou qualidades bastante diversos daqueles propostos por indivíduos. Ninguém de sã consciência acredita piamente que os flamenguistas ou os botafoguenses são pessoas inferiores ou que são filhos de prostitutas, no entanto quando se reúnem torcidas de futebol, a massa pensa diferente. Todos nós aprendemos que a terra gira em torno do sol, no entanto quando o pastor da igreja evangélica fala a passagem em que o sol parou no céu, as pessoas gritam “Aleluia!”. As massas reelegem políticos, as pessoas proclamam corrupções e escândalos. Os indivíduos repetem que Coca-Cola faz mal à saúde, o mercado se locupleta.
A qualidade pode surgir de duas fontes: primeiro, quando reunimos hidrogênio, oxigênio e carbono, substâncias sem gosto, obteremos açúcar, substância com gosto. A qualidade surge do nada, devido às combinações adequadas. Segundo, quando colocamos temperatura no gelo, ele se transforma em gelo mais quente, até o ponto em que muda de estado, vira água. Gelo e água são coisas diferentes, tanto é que podemos pedir num restaurante uma água com gelo, não é uma simples diferença de quantidade de calor.
A segunda falácia é negar que existem verdades absolutas. Isso até pode acontecer em nível individual, mas não em nível coletivo. Quando um político recebe a notícia que sua pesquisa eleitoral deu 45% e mais a margem de erro, isso é 45% e mais a margem de erro, não 58% e nem 23%. Essas pesquisas podem ser verificadas facilmente pelos resultados eleitorais poucos dias depois e tem sido assim desde a década de 50. Quando se afirma que duas nações democráticas nunca entraram em guerra entre si, estamos conferindo uma qualidade à democracia, o de evitar guerras. Não são valores relativos, são regras universais, válidas para todos os tempos e lugares.
O terceiro argumento retórico é o de tomar a borda do sino da curva de Gauss como verdadeira, os números pequenos das estatísticas como se fossem importantes. Isso é válido, por exemplo, quando o Ministério da Cultura financia um daqueles filmes que ninguém assiste. O mercado está apontando para uma determinada direção, mas os burocratas insistem em extorquir dinheiro dos impostos para “promover a cultura”. A pergunta é: será que vale a pena? Será que a cultura é um ser mágico que precisa ser promovido ou a verdade é que os financiamentos se dão em muitos casos para promover apaniguados políticos e produzir uma cultura absolutamente inútil? Não é verdade que o mercado seleciona apenas cultura barata, pois existe um número sem-fim de filmes de qualidade, de grande apelo às massas e que não foram financiados pelos impostos dos pobres contribuintes. As insignificâncias, em numerosos casos, podem ser simplesmente ignoradas sem que venham a fazer a menor falta.
O argumento contrário também é falacioso. Não é porque algo existe em grande quantidade que representa qualidade. Posso jogar todo o lixo do mundo num aterro que ele continuará a ser montanha de lixo, não se transformará nos Alpes suíços. Nem sempre a quantidade leva a uma mudança de qualidade. Não adianta financiarmos numerosas pesquisas em universidades, se não conseguimos produzir um único Prêmio Nobel.
Resumindo, o Relativismo Cultural se baseia em diversas premissas falsas, por isso precisamos sempre ter em mente:
- não existe a opção de não agir, por isso precisamos fazer escolhas;
- as escolhas devem ser as de melhor qualidade;
- qualidade existe e não é um valor subjetivo e nem quantitativo;
- existem verdades universais, nem tudo é relativo;
- números pequenos não nos levam ao encontro da verdade;
- acúmulos de quantidades não levam necessariamente a mudanças qualitativas.
Aonde se quer chegar com tudo isso? O argumento de que o Absolutismo Intelectual é ideológico e funciona para manter estruturas de poder já estabelecidas encontra aqui o seu oposto. O Relativismo Cultural é ideológico também, mas serve para fins diversos, fundamentalmente para extorquir riquezas produzidas pela sociedade para o desfrute de uma casta parasitária dessa riqueza. Serve para que alguns antropólogos financiem pesquisas para manter a cultura de aldeias indígenas e ao mesmo tempo para instalar computadores ligados à Internet que fatalmente irão destruir a cultura das mesmas aldeias. Serve para promover as usinas nucleares como perigosas e logo depois considerá-las ecologicamente corretas. Serve para que num momento um artista proclame a malvadeza dos capitalistas e no outro momento desfrute dos direitos autorais em dólares e da liberdade de expressão produzida pelas sociedades de capital.
Em outras palavras, o Relativismo Cultural se presta para manter ao mesmo tempo um permanente Samba do Crioulo Doido ou, num outro momento, uma Manifestação Artística de Afro-Descendente Bipolar. Depende a quem convém naquele instante.
Assim como num jogo de xadrez, pode-se escolher fazer o lance com a torre ou com o peão, mas não temos a opção de não jogar. A não ser em casos excepcionais, como o de doenças debilitantes, a opção do personagem d’O Estrangeiro, de Camus, de não fazer nada a respeito das imposições vivenciais e passar o romance inteiro repetindo “para mim é indiferente”, não é válida. Temos que escolher uma forma de ação e, obviamente, escolhemos aquela que nos traga a maior satisfação dos desejos e minimização das agruras.
O equívoco é acreditar que o mesmo ocorre com um grupo social. A sociedade, que é chamada com diferentes alcunhas dependendo da situação: mercado, massa, eleitorado, etc., é bem mais do que a soma dos indivíduos. Assim como o sal não é a simples soma de sódio com cloro, quando reunimos pessoas, ocorre um acréscimo de estados ou qualidades bastante diversos daqueles propostos por indivíduos. Ninguém de sã consciência acredita piamente que os flamenguistas ou os botafoguenses são pessoas inferiores ou que são filhos de prostitutas, no entanto quando se reúnem torcidas de futebol, a massa pensa diferente. Todos nós aprendemos que a terra gira em torno do sol, no entanto quando o pastor da igreja evangélica fala a passagem em que o sol parou no céu, as pessoas gritam “Aleluia!”. As massas reelegem políticos, as pessoas proclamam corrupções e escândalos. Os indivíduos repetem que Coca-Cola faz mal à saúde, o mercado se locupleta.
A qualidade pode surgir de duas fontes: primeiro, quando reunimos hidrogênio, oxigênio e carbono, substâncias sem gosto, obteremos açúcar, substância com gosto. A qualidade surge do nada, devido às combinações adequadas. Segundo, quando colocamos temperatura no gelo, ele se transforma em gelo mais quente, até o ponto em que muda de estado, vira água. Gelo e água são coisas diferentes, tanto é que podemos pedir num restaurante uma água com gelo, não é uma simples diferença de quantidade de calor.
A segunda falácia é negar que existem verdades absolutas. Isso até pode acontecer em nível individual, mas não em nível coletivo. Quando um político recebe a notícia que sua pesquisa eleitoral deu 45% e mais a margem de erro, isso é 45% e mais a margem de erro, não 58% e nem 23%. Essas pesquisas podem ser verificadas facilmente pelos resultados eleitorais poucos dias depois e tem sido assim desde a década de 50. Quando se afirma que duas nações democráticas nunca entraram em guerra entre si, estamos conferindo uma qualidade à democracia, o de evitar guerras. Não são valores relativos, são regras universais, válidas para todos os tempos e lugares.
O terceiro argumento retórico é o de tomar a borda do sino da curva de Gauss como verdadeira, os números pequenos das estatísticas como se fossem importantes. Isso é válido, por exemplo, quando o Ministério da Cultura financia um daqueles filmes que ninguém assiste. O mercado está apontando para uma determinada direção, mas os burocratas insistem em extorquir dinheiro dos impostos para “promover a cultura”. A pergunta é: será que vale a pena? Será que a cultura é um ser mágico que precisa ser promovido ou a verdade é que os financiamentos se dão em muitos casos para promover apaniguados políticos e produzir uma cultura absolutamente inútil? Não é verdade que o mercado seleciona apenas cultura barata, pois existe um número sem-fim de filmes de qualidade, de grande apelo às massas e que não foram financiados pelos impostos dos pobres contribuintes. As insignificâncias, em numerosos casos, podem ser simplesmente ignoradas sem que venham a fazer a menor falta.
O argumento contrário também é falacioso. Não é porque algo existe em grande quantidade que representa qualidade. Posso jogar todo o lixo do mundo num aterro que ele continuará a ser montanha de lixo, não se transformará nos Alpes suíços. Nem sempre a quantidade leva a uma mudança de qualidade. Não adianta financiarmos numerosas pesquisas em universidades, se não conseguimos produzir um único Prêmio Nobel.
Resumindo, o Relativismo Cultural se baseia em diversas premissas falsas, por isso precisamos sempre ter em mente:
- não existe a opção de não agir, por isso precisamos fazer escolhas;
- as escolhas devem ser as de melhor qualidade;
- qualidade existe e não é um valor subjetivo e nem quantitativo;
- existem verdades universais, nem tudo é relativo;
- números pequenos não nos levam ao encontro da verdade;
- acúmulos de quantidades não levam necessariamente a mudanças qualitativas.
Aonde se quer chegar com tudo isso? O argumento de que o Absolutismo Intelectual é ideológico e funciona para manter estruturas de poder já estabelecidas encontra aqui o seu oposto. O Relativismo Cultural é ideológico também, mas serve para fins diversos, fundamentalmente para extorquir riquezas produzidas pela sociedade para o desfrute de uma casta parasitária dessa riqueza. Serve para que alguns antropólogos financiem pesquisas para manter a cultura de aldeias indígenas e ao mesmo tempo para instalar computadores ligados à Internet que fatalmente irão destruir a cultura das mesmas aldeias. Serve para promover as usinas nucleares como perigosas e logo depois considerá-las ecologicamente corretas. Serve para que num momento um artista proclame a malvadeza dos capitalistas e no outro momento desfrute dos direitos autorais em dólares e da liberdade de expressão produzida pelas sociedades de capital.
Em outras palavras, o Relativismo Cultural se presta para manter ao mesmo tempo um permanente Samba do Crioulo Doido ou, num outro momento, uma Manifestação Artística de Afro-Descendente Bipolar. Depende a quem convém naquele instante.
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