terça-feira, 31 de julho de 2007

Não Sê

Não sê malthusiano.
Malthus afirmava que iriam faltar alimentos no mundo e cada vez temos mais comida, apesar de pior distribuição. Agora os neo-malthusianos falam que irão faltar água, energia e minérios. Não vão, porque quando maior a escassez, mais os empresários investem recursos esperando aumentar os seus lucros. Os recursos do planeta não só não estão chegando perto do limite como também novas formas de uso desses recursos serão inventadas.
Não sê ludita.
Ludd pregava que as novas tecnologias deveriam ser destruídas.
Assim como hoje em dia ninguém imagina que jogar um tamanco dentro de uma máquina de tecelagem, irá deter o progresso, no futuro as pessoas vão rir daqueles que fazem passeatas contra os produtos transgênicos ou as pesquisas com células-tronco. O conhecimento humano e a tecnologia são inexoráveis, podemos apenas tentar usá-los para o bem, mas jamais impedir que eles passem a fazer parte das nossas vidas.
Não sê anarquista.
Um estado mínimo é necessário porque quem vai cuidar dos loucos, dos desvalidos, da honradez de contratos, punir os criminosos ou estabelecer o que é certo ou errado? Isso não quer dizer que devamos incentivar um estado que interfira nos mínimos detalhes de nossas vidas. O meio termo entre um Estado inexistente e um outro onipresente, deve ser buscado.
Não sê comunista.
Em primeiro lugar, pelo motivo de que as experiências comunistas fracassaram e conduziram a ditaduras sanguinárias e miséria do povo. Em segundo lugar, pelo bom senso: use os serviços de uma empresa privada, depois de uma repartição pública e decida qual você prefere: um local que você, cliente, é tratado como um rei, ou um local onde você é humilhado? Comunismo é isso: querer transformar todas as pessoas do mundo em funcionárias públicas e todos os bens e serviços em ineficiência estatal.
Não sê positivista.
O positivismo pregava que um grupo de pessoas esclarecidas deveria dominar e decidir o destino dos menos capazes. Esse pensamento leva ao surgimento de ditadores e caudilhos que acabam extorquindo da população as suas riquezas e surrupiando o seu livre-arbítrio.
Não sê fascista.
Fascismo é quando um pequeno grupo de canalhas mistura todas essas idéias estúpidas e fracassadas em um só lugar: prega um domínio do Estado onipresente, mas não faz com que o Estado cumpra as suas funções básicas. Eles pregam o atraso tecnológico e preferem reduzir os serviços oferecidos a melhorar a sua qualidade, inventam a bobagem de que os recursos disponíveis são limitados e usam isso como desculpa por sua incompetência e ainda apregoam que são os Donos da Moral e que ninguém é mais capaz do que eles para governar o povo sobre o qual se acham superiores e soberanos.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Novilíngua

Com as recentes mudanças de comportamento em nosso país, segue uma pequena lista de expressões usadas antigamente e de como elas devem ser pronunciadas nos dias de hoje.
Samba do Crioulo Doido - Samba do afro-descendente maníaco-depressivo;
Pirata da perna-de-pau – indivíduo acusado de falsificação de CDs e software ainda não condenado em última instância e com deficiência física;
Pega ladrão! – tome o suspeito para que possa prestar esclarecimentos;
Nega do cabelo duro – afro-descendente com cabelos danificados;
Obra em madeira de Aleijadinho – conjunto de peças de valor artístico e cultural, com técnica de reaproveitamento florestal, executado por indivíduo de baixa estatura e fisicamente desvalido;
Mate a cobra e mostre o pau – Proibidas a caça de animais silvestres e a derrubada da vegetação nativa;
Não há, oh gente, oh não, luar como esse do sertão – meus amigos e minhas amigas: não existe na história desse país e nem na França, nem na Inglaterra e no Canadá, em nenhum dos (mostrando os quatro dedos) cinco continentes - e nem na lua! - um luar como esse do agreste de Pernambuco;
Vou para o campo de pouso embarcar no aeroplano para o meu destino – vou telefonar para ver se posso ir para o aeroporto e depois ir até lá ver se irão me embarcar no avião ou não e se vou chegar ou não ao meu destino.
É... a vida está ficando complicada por aqui...

domingo, 29 de julho de 2007

A Longa Espera

Tanto vai o cântaro à fonte
Que um dia quebra,
Que um dia quebra...
Tanto bate a água na pedra
Que um dia seca,
Que um dia seca...
Tanto vivemos provisoriamente
Que permanecemos permanentemente provisoriamente,
Tanto esperamos o dia de amanhã
Que esquecemos o agora por viver,
O agora por viver,
O agora por viver...

sábado, 28 de julho de 2007

Broward's Sky




sexta-feira, 27 de julho de 2007

Dez Filmes Nota Dez... e mais Dez


Na minha lista dos dez melhores, não colocaria os lugares-comuns: nem Casablanca e nem Cidadão Kane. Nem clássicos, como o 2001.
Do tempo do cinema preto e branco, Jules et Jim é dos meus preferidos, mesmo considerando a difícil tarefa de selecionar o melhor dos melhores na brilhante obra de Truffaut. No Tempo das Diligências anda correndo perto, mesmo com a difícil tarefa de escolher o melhor na obra de John Ford. Ao meu ver, nunca se fez uma comédia melhor do que Safety Last! , de Harold Lloyd (desculpe, não lembro como se chamou em português).
A Família , de Ettore Scola, é uma maravilha que poucos assistiram. Blade Runner . Janela Indiscreta . Irma La Douce . Lawrence da Arábia . Match Point , esse filme do Woody Allen me tirou da cabeça a idéia estúpida de que todos os grandes filmes já foram feitos, acho que foi a primeira obra-prima do século XXI. Paris, Texas . Pronto, foram dez filmes imperdíveis. Dez obras-primas.
Acontece que não é deles que eu mais quero falar, mas de dez pequenos filmes, daqueles que ficaram à margem do grande cinema, daqueles que se viam em pequenas cinematecas em sessões da meia-noite e que não devem ser esquecidos. Alguns até viraram cult. Aqui está uma lista de rara beleza, bem garimpada, assista que não irá se arrepender:
O Menino Selvagem , de François Truffaut é um filme que faz chorar, não de tristeza, mas de beleza.
Amigos para Sempre . Filme tocante.
Un Dimanche à la Campagne .
Verão de 42 .
Conta Comigo .
Ensina-me a Viver .
Momentos Inesquecíveis .
Encontros com Homens Notáveis .
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain . Filme cult, nem precisava estar aqui porque todo mundo que gosta de cinema já sabe que é sensacional.
A Princesa Prometida . É um filmezinho infantil que passa sempre nas sessões da tarde, mas que tem uma direção impecável e vale a pena assistir.
Certos filmes me deixam com uma sensação de tristeza pelo fato de saber que nunca mais terei a oportunidade de os assistir pela primeira vez. Essa lista é assim, nostálgica...
Imprima e vá riscando aqueles que já viu. São as minhas dicas.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Maniqueísmo

Por esses dias, li no blog de um amigo, um texto de Luiz Fernando Veríssimo com que parece ser o pensamento do brasileiro médio: se não é Lula, você é PSDB! Pelo fato de alguém criticar alguém e estar participando do coro dos seus opositores, não quer dizer que acredite nas propostas do inimigo do inimigo, a vida é cheia de nuanças e diferenças que devem ser levadas em conta.
O nacional-socialismo alemão não foi apenas apoiado pela aristocracia européia, como LFV afirmou, mas também pela Rússia comunista que depois tentou invadir. E também apoiou Franco que foi quem deteve o avanço comunista no oeste europeu e talvez no mundo. Impossível afirmar, mas talvez sem Hitler, hoje fôssemos uma imensa Cuba. E Hitler não cresceu por ser um gênio louco que cativava multidões, mas porque recebeu apoio de empresas alemãs, muitas das quais hoje são grandes multinacionais e que se sedimentaram com a venda de armamentos e o uso de mão-de-obra escrava. E intelectuais ingleses como Bernard Shaw, HG Wells ou Oscar Wilde eram eugenistas. Hitler era vegetariano, fiel à namorada e, ainda que de péssimo gosto, amante das artes. O mal está contido no bem e o bem no mal, é impossível discernir os limites.
E, apesar de ter uma matriz original bolchevique, o nosso governo se tornou muito mais próximo de um nacional-socialismo do que de um soviete supremo, pois tem o fundo populista permeado pelas benesses concedidas a grandes empresas.
Que fique bem claro: Lula não está reinventando a roda, está apenas seguindo o pensamento de Dom João VI que quando fugiu covardemente para o Brasil com a sua corte precisou inventar cargos públicos desnecessários para os nobres que o acompanhavam e todos os governantes, sem exceção, seguiram essa tendência. Foi assim com Dom Pedro II, com Getúlio, com JK e com Médici.
E o que é a real oposição a Lula? É todo aquele que tentar reduzir o tamanho e a voracidade do nosso Estado-Monstro, acabar com os imensos privilégios do funcionalismo público, pagos por aqueles que produzem riqueza. Quem foi o único que fez isso? FHC com as privatizações do seu governo, ou seja, foi o único que teve a coragem de se desfazer das jóias da coroa, os cabides de emprego.
Já Alckmin disse com todas as letras que não iria privatizar coisa alguma. Para mim, isso o liga muito mais a Lula do que a FHC, apesar de ser do mesmo partido.
Portanto, a questão é muito mais complexa, a única grande luta maniqueísta que existe no país é a dos privatizantes contra os estatizantes, ou seja dos que pagam a conta contra aqueles que desfrutam o banquete, o resto são brigas do poder apenas pelo poder em si.
E digo mais, falta um Partido Republicano no Brasil, com os moldes do americano. 90% da população sustenta os 10% que lucram com o Estado. Se alguém defendesse as idéias privatizantes, tenho razoável certeza que tomaria o poder num piscar de olhos, pois a população está cansada de votar em farinha do mesmo saco. Coro contra Lula? Não. Não personalizemos e nem partidarizemos. O coro é contra a grande teta pública, da qual Lula é um dos tantos defensores. Simples assim.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Carta a um Jovem Poeta

(com sua benção, Rilke...)
Mário Quintana falava que um poeta que se preze não gosta de ler poesia dos outros. Concordo plenamente, ler poesia é das coisas mais chatas do mundo, no entanto, é onde a arte de escrever se manifesta na sua maior grandeza.
Gostaria de compartilhar o que já aprendi nesse assunto.
Minha definição: poesia é uma longa idéia contida em um curto espaço. Esse curto espaço pode ser um calhamaço, mas se fôssemos colocar a Ilíada em prosa, necessitaríamos uma biblioteca.
Quanto ao tempo, trata-se de um presente eterno, atemporal.
Quanto à pessoa, está sempre na primeira. Fala-se sempre do “eu” (o romance trata do “ele” e o teatro do “tu”).
Quanto ao tema, só existem dois, amor e morte. Todos os outros assuntos não são pertinentes. Eu diria que existe mais um subtema, relacionado a esses dois: deus ou deuses. Veja bem a nuança, religião não é o tema da grande poesia, mas deus, o conflito do ser humano com forças incompreensíveis e maiores do que ele.
Pelo motivo acima, toda a poesia social ou socialista, sem exceção, é uma bosta, poesia religiosa é uma merda e poesia regionalista é cocô no seu estado mais puro.
Quando existe a rima, esta deve ser organizada na razão inversa da obviedade. Exemplifico, quais são os melhores versos: “Eu tenho uma fé/ Que é a de tomar café” ou “Tomar café/ Essa é a minha fé”? A primeira. Café rima com fé, mas fé não combina com café porque é uma palavra mais rara, menos usual, dá a impressão que foi incrustada ali só para enfeitar, vira pedantismo. A regra é a de que a palavra mais óbvia venha sempre depois da mais metida a besta.
Como ler poesia: todo e qualquer bom poema tem um ritmo regular, de metrônomo. O tempo de leitura deve ser estudado com esse aparelho para que se tenha domínio do texto. O próprio autor do texto é o melhor declamador que existe porque ele tem a intuição desse ritmo. Poesia é uma literatura de característica oral, na escrita, ela perde a alma. É por esse motivo que muitos dizem que não gostam de poesia, mas sabem de cor as letras de músicas.
A poesia brasileira não é lá grande coisa porque ficamos quase três séculos sem noções de classicismo. Enquanto o período barroco durou trinta anos em diversos países, por aqui durou duzentos, e depois pulamos direto para os romantismos rousseauísta (estilo Peri e outras bobagens) e schopenauriano (mal-de-siècle, deprê). A mente da moderna poesia brasileira nunca teve um padrão estrutural. A nossa própria maneira de falar é barroca, a ordem na oração não importa. Por esse motivo, tendo maior população nós geramos muitos mais poetas que Portugal, mas o grande totem da nossa língua é o português Fernando Pessoa. Se não leu, jovem poeta, leia, que o cara era bom.
Acho que é isso. O resto é prática.




terça-feira, 24 de julho de 2007

Números Pequeninos

Certa vez perguntaram a Pablo Picasso se ele não se sentia desconfortável em vender um quadro pintado em cinco minutos por uma pequena fortuna e ele respondeu algo como “...não são pintados em cinco minutos, são 54 anos e cinco minutos!”
Daí fico assistindo às pessoas se lamentando pelas derrotas no Pan... “são só três décimos, quase conseguimos o ouro...”. Acontece que para o vencedor não são três décimos, são décadas, séculos até, de aprimoramento técnico, milhões de dólares investidos, horas e horas treinando ao invés de uma cervejinha no bar. Não são apenas três décimos, mas um enorme esforço nacional e pessoal para minimizar as probabilidades de derrota. O mais engraçado é que quando temos vencedores, ninguém fica dizendo “... grande coisa, foram apenas três décimos...”
Os Estados Unidos conquistam mais de duas vezes o nosso total de medalhas, não por serem craques, mas por terem topado enfrentar esse desafio de superação nacional.
Por que a ginástica teve tanto avanço nesses últimos anos? Porque se construiu um centro de excelência no Paraná, simples. Fazer acrobacias no sinal de trânsito pode até fazer surgir uma sumidade, mas é muito, muito mais provável que os talentos surjam quando metodicamente organizados.
O esporte é apenas onde esse pensamento brasileiro mais aflora, mas está presente em toda nossa vida cotidiana. Por que não se pode ganhar na loteria? Por que haveria de cair um avião logo agora? Por que vai haver um assaltante esperando logo na minha esquina? A estatística é uma lei cósmica, imperativa, e por isso precisamos reger as nossas vidas com probabilidades, não com as exceções.
Até no dicionário, o esforço vem antes do sucesso, mas muitos preferem não acreditar nisso. Números pequeninos representam muito mais do que aparentam.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Se Mulheres Fossem Automóveis


Se mulheres fossem automóveis, como seriam?
Existiriam aquelas mulheres fora-de-estrada, com ótima suspensão e resistência, mas que com as quais não poderíamos ir a uma festa black-tie e também aquelas que seriam sedans de luxo com as quais não poderíamos fazer trilha. Nós, homens, teríamos que escolher de acordo com nossas necessidades e bolso.
Existiriam as mulheres com motor mil, sim, boas e econômicas, mas que poderiam nos colocar em risco no caso de ultrapassagens de fases importantes na vida e também as super esportivas que chamariam a atenção por onde passássemos, mas um tanto quanto incômodas porque não se poderia as deixar estacionadas em qualquer lugar.
Se mulheres fossem automóveis, no período das revisões teríamos que discutir o relacionamento, calibrar os pneus e também trocar o óleo de vez em quando.
Existiriam as mulheres compactas e as vans que teriam a capacidade de trazer toda a família junto. E aquelas com modelos completos e aquelas que só trariam acessórios básicos. E aquelas zerinho, mas que logo seríamos chamados para um “recall”.
Existiriam aquelas mulheres tunadas, com grandes faróis e labaredas saindo da lataria. Existiriam as de modelos antigos, muito bem conservadas, e também aquelas sem cuidado algum, tristes, atrapalhando o trânsito. E também as de parar o trânsito!
Movidas à gasolina. Movidas à álcool. Soltando fumaça. Nacionais e importadas. Revisadas e garantidas. Novas e usadas. De único dono e de aluguel. As de praça. De empresas. Particulares...
Ufa!
Vamos deixar para lá porque se mulheres fossem automóveis teríamos que as dirigir e como isso é muito, mas muito difícil, é melhor continuar deixando que elas nos guiem, porque afinal quando estamos com elas é sempre tanque cheio, ladeira abaixo e pista livre.

domingo, 22 de julho de 2007

Catarse

Ele me mostrou os braços do poder,
Ele me mostrou as preocupações,
Ele me mostrou o vazio de viver,
A minha vida vazia e as desilusões.

Ele me mostrou o caminho do nada
Enquanto tomava café no intervalo,
Ele me mostrou o suor que exalo,
Com o terno limpinho e a gravata apertada.

Levou-me correndo pro apartamento.
Ligando a TV, vacilei um momento.
As hertzianas rasgaram o espaço
E eu mergulhou as cabeças nos braços.

Ela entrou na sala sorridente
Olhou-o, abaixou-se e me deu um beijo,
Perguntou-lhe se eu estava doente,
Pois na noite anterior ele perdi meu desejo.

Eu levantou a cabeça quente
E a arma era um programa diferente,
Mirou o olhar de surpresa e brilho
Eu vacilou um segundo e ele puxei o gatilho.

Eu a vi tombar num movimento lento
Tingindo em sangue o chão do apartamento,
As hertzianas cruzavam o espaço
E eu mergulhei a cabeça nos braços.

(Este poema dramático foi encenado no Departamento de Artes Cênicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1984)

sábado, 21 de julho de 2007

Parabéns

Gostaria de felicitar os dirigentes da TAM por tão corajoso gesto. Não é todo dia que se vê um vice-presidente técnico de uma grande empresa indo à TV, em um momento de comoção nacional, no qual as ações da companhia caíram vertiginosamente e ninguém sabia bulhufas dos detalhes do ocorrido, para assumir aquele tom de “mea culpa”.
Verdade é que foi, desculpem o neologismo, um “meia culpa”, pois não serviu em nada para esclarecer as causas do acidente, mas serviu enormemente para tirar o foco dos olhares sobre as acusações de responsabilidade do governo, ao ponto dos dois assessores diretos do presidente que estavam fazendo serão, terem sido flagrados em tresloucados gestos de felicidade. Fiquei com a impressão de que eles já esperavam por aquele pronunciamento, mas obviamente estou errado, pois como poderiam, se a iniciativa partiu da TAM? Muito provavelmente, depois de o próprio Presidente da República ter afirmado tantas vezes que não sabia de nada, deve ter ordenado aos seus assessores para ficarem até mais tarde trabalhando, assistindo ao Jornal Nacional para começarem a se informar...
É claro que em uma empresa que gira um capital de bilhões e que depende de uma estatal poderosíssima para conceder rotas e horários, um mínimo de pressões ou promessas por parte de altos dirigentes do governo poderiam até ter gerado esse comentário que afinal não compromete ninguém e, do meu ponto de vista, até melhora a imagem da empresa, mas não acredito que tenha sido isso que aconteceu. Prefiro acreditar na bondade humana, afinal, não é isso que ensinamos as nossas crianças quando eles quebram os seus brinquedos: a dizer a verdade ao invés de colocar a culpa no Amiguinho Imaginário? Verdade é sempre bom.
Por isso, a todos os dirigentes da empresa que se anteciparam às investigações, meus parabéns diante de gesto tão inesperado e incomum. Do fundo do coração, por terem sido tão bons este ano, espero que o Bom Velhinho traga muitos presentes no natal, porque muitas vezes na vida até tenho um certo descrédito com o gênero humano, mas em Papai Noel, ah!, eu acredito!

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Moto Perpétuo

Como pode ser visto clicando aqui, mais uma vez alguém tentou criar energia a partir do nada sem sucesso. No rol das idéias estúpidas da humanidade, acho que o moto perpétuo é a grande vencedora, deixando até o comunismo com uma humilhante segunda posição.
Volta e meia alguém tenta criar novos moto-contínuos nas suas mais diversas formas, eu próprio, confesso, já tentei. Parece óbvio que funciona, certo? Por exemplo, ao largarmos uma bola na piscina, ela vem à superfície e, ao lado da piscina, cairá ao chão, então por que não ligar com um canal a água com o ar provocando um movimento incessante da bola? Porque não funciona sem colocar energia no sistema...”na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”, lembra?
Variações dos moto perpétuos aparecem nas mais diversas formas e, se não fossem idéias tolas, seriam brilhantes. As mais novas são as dos carros movidos à eletricidade e todas as teorias da conspiração que daí germinam.
O que é um carro a hidrogênio? Um carro que usa eletricidade para produzir H2. O que é um carro a ar comprimido? Um carro que usa eletricidade para comprimir o ar. O que é um carro magnético? Um carro que usa eletricidade para magnetizar ímãs. Claro que funcionariam se não fosse por um pequeno detalhe: eletricidade é mais cara do que combustível! Não me pergunte por quê: o petróleo precisa ser prospectado, extraído, transportado, refinado, distribuído, altamente taxado e mesmo assim consegue preço melhor do que o da energia elétrica que é só água passando no rio, ao ponto das empresas possuírem gerador a diesel para os horários de pico de consumo, mas o fato é esse, por enquanto nada que dependa de eletricidade vai conseguir superar o petróleo e os biocombustíveis.
Ao invés das teorias conspiratórias, prefiro acreditar nas limitações das tecnologias e na incompetência das empresas públicas. Eletricidade é cara porque o serviço é sem concorrência e subdimensionado para as necessidades do país, mas como isso não vai mudar, precisamos pensar em outras soluções.
Existem maneiras de acumular energia nos horários de baixo consumo. A própria produção de hidrogênio para mover automóveis é uma delas. Rodas girando em alta velocidade (volantes de inércia ou flywheels), também. Acho que a tecnologia mais promissora e que acabou de ser inventada é a cerâmica termelétrica: gera eletricidade a partir do calor. Um radiador de carro com tal tecnologia teria um aproveitamento de quase cem por cento enquanto que atualmente só se aproveita trinta por cento da energia do combustível, o resto se perde em calor, ou seja, um carro que faz 15 quilômetros por litro, no futuro fará 50.
Enquanto esses conhecimentos não saem dos laboratórios das universidades do mundo para o grande público, só nos resta esperar, mas enquanto isso, sob o risco de virarmos piada, não queiramos criar algo do nada.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Deus

Tente uma experiência que simula os oceanos da terra. Em uma bacia com água coloque um vibrador de modo a produzir ondas com freqüência constante. Estude as ondas estacionárias (aquelas que voltam ao bater na parede) de modo a ajustar o sistema para que cada ponto da bacia receba o mesmo número de ondas. Acrescente peças de plástico simulando praias, encostas e outros acidentes geográficos. Jogue pedras de gelo simulando as estações do ano e coloque tudo na carroceria em movimento de uma camionete para simular o movimento de coriolis do planeta. Agora tente manter a freqüência constante: ondas devem atingir cada ponto da bacia em uma razão de 26 ondas por minuto. Impossível? Acontece que é isso que acontece em todas as praias do mundo. Como pode?
Os canários chocam em 14 dias. A galinha em 21. Patos e gansos em 28. Gansos silvestres em 35. Papagaios e avestruzes em 42. Por que sempre em múltiplos de 7? E por que são sete as notas musicais, os planetas visíveis a olho nu e as cores do arco-íris? Coincidência?
O canguru pula, para que ele precisa de duas pernas? E, se a natureza sempre tende ao minimalismo, por que não temos a cabeça incrustrada no tronco, não ficaria mais protegida? Por que os animais superiores sempre possuem 5 extremidades? E cinco dedos? Quatro ou três não bastariam?
Falando ainda no número 5, por que a razão entre o pentagrama (estrela de cinco pontas) e o lado do pentágono em que ele se inscreve é de 1:1,618. E por que essa proporção é a mesma da falanges menores para as maiores dos nossos dedos e dos dedos para o pulso e da mão para o antebraço? E por que essa proporção está presente nas agulhas do abacaxi, nas cascas do pinheiro e na curva exponencial? E por que conchas de moluscos se curvam conforme a curva exponencial?
A laranja possui número par de gomos. A espiga de milho possui número par de grãos. O cacho de bananas tem número par de bananas na última fila, depois ímpar, depois par novamente e assim por diante. Para quê? Qual é a lógica?
O oxigênio, o hidrogênio e a grafite não possuem gosto. Se misturarmos os três, formaremos açúcar. De onde saiu o gosto? Como algo pode ser criado de nada?
E como, se sabemos todos os componentes químicos da vida, como ela se originou na atmosfera primitiva, por que não conseguimos criar uma mísera bactéria num laboratório? E por que morremos, se somos uma simples máquina sofisticada?
E por que na vida nunca recebemos um fardo que não possamos carregar?
Por que não conseguimos perceber outras dimensões, se elas existem matematicamente? E por que não é possível voltar no tempo? E por que em um sistema fechado, a energia é constante?
Tenho formação atéia e já defendi todos os argumentos para não se crer em um deus, mas para mim é cada vez mais difícil de negar que existe uma inteligência por trás de tudo no mundo.
A realidade dessa inteligência não quer dizer que devamos extirpar o clitóris de meninas, nem amarrar bombas ao corpo, promover genocídios, reprimir adolescentes sexualmente, subir escadarias de joelhos, doar nossos salários, banhar em rios poluídos... deus não tem nada a ver com religião. E nem com pastores, padres, bonzos, dervixes ou médiuns, pois não entender algo não quer dizer que devemos seguir o primeiro que nos diga que tem a resposta.
Estabelecer regras, tentar entender os obscuros desejos dessa inteligência e o pior: impor isso ao próximo, é o que há de mais contrário aos desígnios cósmicos. É um afastamento dessa sabedoria profunda presente em todas as coisas. Na prática, portanto, deus não existe, está fora de nosso mundo visível. A crença e a descrença não são idéias opostas, mas de planos diferentes.
Por isso, se hoje em dia me perguntam se sou ateu ou crente, só tenho numa resposta:
“- Depende...”

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Assassinos. Assassinos!

Começaram matando uns índios para tomarem as suas terras. Depois, uns retirantes nordestinos de fome. Mais tarde começaram a deixar que arrombassem residências. Daí para começarem a agredir transeuntes foi um passo. Agora estão arrastando crianças pelas ruas, dando tiros de fuzis em meninas adolescentes e queimando famílias vivas.
E com a tragédia de ontem, de quem é a culpa? Duas centenas de inocentes carbonizados! Certamente vão arrumar um bode expiatório: o piloto, o controlador, o mecânico, o engenheiro da pista... quem será a vítima do governo brasileiro dessa vez?
Que fique bem claro, ainda não se sabe se o avião veio rápido, se falhou o reverso, os freios... o fato é que a pista andava com problemas, o aeroporto saturado, deixaram a exploração imobiliária e as ocupações tomarem conta das cabeceiras, faltou auxílio na aproximação da pista 35, não construíram caixas de brita no final das pistas, pilotos e controladores estão estressados pelo excesso de trabalho, enfim, antes mesmo de ocorrer o acidente o poder público já vinha metodicamente levando o avião ao desastre.
Quem é o verdadeiro culpado nessa seqüência de crimes bárbaros? É o ladrão do dinheiro público. É o incompetente. É o juiz que inocenta canalhas. É aquele político que não vota leis que não sejam de seu interesse pessoal. Não são apenas uns ladrõezinhos do dinheiro público, não: são assassinos. Assassinos!
Roubam, e não fazem. Matam pelos dois lados, pela ação e pela omissão. De tocaia, de traição daqueles que confiaram neles. Será isso mesmo progresso, senhor ministro? E qual é a solução, conforme eles? Que relaxemos e deixemos que gozem de nossa cara!
Em um acidente pode até ser alegado acaso, dois acidentes já é um total desprezo pelas vidas dos cidadãos por parte daqueles que deveriam zelar por elas.
Assassinos. Assassinos!

terça-feira, 17 de julho de 2007

O Capitalista Utópico

Acho que uma das cenas mais patéticas da história humana aconteceu quando o socialista utópico Charles Fourier inventou um sistema de cooperativas, anunciou que o seu projeto necessitaria de financiamento e por isso acreditava que não faltariam almas boas com o capital necessário para colocar as suas idéias em prática. Anunciou que ficaria todos os dias esperando que batessem a sua porta com o dinheiro para o projeto. Desistiu depois de dez anos de espera...
É até fácil de entender porque as suas idéias não receberam apoio: ninguém iria investir um centavo se não esperasse um retorno, é a lei do capitalismo.
O problema é que mesmo lucrando as pessoas não investem e isso até hoje não consegui entender. O que o velcro, o xerox e o telefone têm em comum? Foram todas idéias geniais, mas que os inventores não conseguiram vender.
Idéias novas têm risco? Bem, para isso que existem planos de negócios, para minimizar e quantizar os riscos dos investimentos. Assim como um investidor faz um mix entre poupança, fundos de renda fixa e ações, porque não colocar, sei lá, digamos: dez por cento do seu investimento em novas idéias?
“Como é que eu não pensei nisso antes?”, as pessoas falam quando um negócio prospera, mas parecem desprezar o fato de existirem 20 milhões de depósitos de patentes no Brasil. Quantas dessas idéias não poderiam dar certo? O único “defeito” delas é a de serem novas.
A única empresa que eu conheço especializada na inovação é a 3M e não é à toa que essa é a firma de sucesso que todos conhecemos. Para a maioria das companhias, inovar significa copiar o que já existe, não existe a cultura de mudança de paradigmas.
O capitalismo cresce indefinidamente justamente porque ocorrem inovações e conseqüentemente novas necessidades de mercado. O que há de tão obscuro e misterioso nessa afirmação?
Por tudo isso, acho que sou uma espécie de “capitalista utópico”. Penso que isso que falo é de uma obviedade ululante, mas esse raciocínio está nitidamente errado, pois ele não se verifica na prática.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Pobre Nobre


Pobre Nobre - O Ralé Tichou -
Roteiro de Programa do Tipo “Reality Show”

Introdução
Tendo em vista o sucesso recente dos programas de televisão do tipo “Reality Show”, e do conteúdo de humor e identificação do público na questão da pobreza brasileira, presentes em diversos programas como “Sai de Baixo”, “A Diarista” (Rede Globo de Televisão) ou “Praça é Nossa – Filomena -” (SBT), além de muitos outros, criou-se a presente estrutura de programa que, ainda que não esgote todas as possibilidades, presta-se para a compreensão de um roteiro básico para ser utilizado em futuros programas de televisão.

Cenário Básico
Uma residência de luxo, decorada de forma clássica e ostensiva.
Este será o local de hospedagem e planejamento de tarefas e os participantes ficarão confinados na casa, a não ser em provas específicas em que necessitem sair.
Quando estiverem na mansão, serão vistoriados por câmeras o tempo todo, na rua serão o tempo todo seguidos pelas equipes de filmagem.

Escolha dos Participantes
Um grupo de pessoas de classe social baixa, com boas condições físicas e que saibam nadar.
O nome é importante, pessoas com nomes normalmente associados a pessoas pobres serão preferidos.
Pessoas com sinais de decadência econômica, tais como cortes de cabelo feitos de forma tosca ou amadora, óculos remendados, magreza ou gordura excessiva, pele queimada em excesso ou de forma desigual, etc. são interessantes ao show.
Enfim, os participantes não só deverão ser realmente pobres na vida real, como têm que aparentar sinais normalmente associados à pobreza, além de possuírem condições físicas exigidas ao cumprimento das provas.


Extras
Poderão ser contratados auxiliares para determinadas provas, tais como modelos de desfiles, motoristas, mordomo, etc., mas estes não poderão se comunicar de forma verbal com os participantes do programa, de modo a não trazer informações do mundo exterior.
Existirá um mordomo sempre mudo na casa. Ele será um ator de meia-idade, de aparência austera e irá ser responsável por servir as refeições, abrir cortinas, servir drinques, etc.

Figurino
Roupas simples e bastante surradas, sapatos furados, adereços velhos, etc.
Devem ser fornecidos pela produção do programa.

Cotidiano
Os participantes não devem trabalhar na casa. A rotina se dará em jogos, jantares luxuosos, leituras na biblioteca, banhos na piscina, cultivo de flores, etc.

Prêmios
Os prêmios parciais, de cada etapa, deverão contribuir para a melhora física e cultural dos participantes, tais como uma limpeza dentária, um dia em um spa, compra de roupas em uma loja, turismo, conhecer um museu, etc.
O prêmio final é em dinheiro e de grande volume (algo em torno a um milhão de reais em dinheiro atual).

Estilo das Provas
Toda semana será eliminado um participante até que se chegue ao grande vencedor.
O grande grupo de participantes remanescentes no programa será a cada semana dividido em dois, por sorteio, e estes dois grupos competem entre si. Dessa forma, teremos duas equipes que variam a cada semana, isto é, um participante poderá pertencer a uma equipe em uma semana e a outra na semana seguinte.
A escolha da equipe vencedora se dará por um júri formado por socialites, especialistas em elegância, ricos famosos, colunistas sociais, etc.
Em cada semana, dois participantes do grupo derrotado deverão ir para a escolha do público, em sorteio por telefone, sendo que o mais votado permanecerá no programa e o derrotado será o eliminado. Os próprios participantes do grupo derrotado escolherão dentre eles os dois que devem ir para a escolha do público.
Os participantes deverão cumprir tarefas normalmente relacionadas a classes sociais abastadas.Alguns exemplos de provas:
- Organização de um desfile de moda, sendo que as equipes deverão organizar desde o corte das peças até a organização do desfile;
- Caça à raposa – com cavalos e pompa, cada participante recebe uma arma de tinta (para prática de paint ball) e um cachorro farejador, sendo o grupo que localizar e caçar (pintar) a raposa primeiro, é o vencedor;
- Organização de um jantar de luxo, com o preparo de ingredientes como escargot, trufas, alcachofras, ninho de andorinha e outros pratos exóticos ou requintados;
- Gincana de compras – os dois grupos são largados no meio de uma cidade em um país de língua estrangeira para procurar por uma lista de compras como patê de foie gras, bolsa Louis Vuiton, caneta Mont Blanc, etc.
- Avaliação do obras de arte – os dois grupos devem dar valores a diversas obras de arte, os que mais se aproximarem dos valores reais, vencem.
Enfim, os exemplos, ainda que não esgotem todas as possibilidades, mostram de como os participantes deverão realizar tarefas muito distantes do seu ambiente social e cultural.

Regras do Programa
Os participantes deverão seguir certas regras para um bom andamento do programa.
- Não agressão – qualquer forma de agressão física eliminará o participante.
- Nenhuma forma de comunicação com o mundo exterior, a não ser aquelas necessárias ao cumprimento das provas.
- Um check up médico deverá ser efetuado antes dos participantes entrarem à mansão.
- Salvo no uso do banheiro, nenhum participante deverá ficar em uma sala vazia, deverá buscar sempre a companhia dos outros.

Conclusão
Ainda que o presente roteiro não esgote todas as possibilidades, ilustra uma maneira de execução do programa de televisão, com título provisório de “Pobre Nobre – o Ralé Tichou” que procura colocar pessoas de classes sociais desfavorecidas em procedimentos e ações relacionadas aos ricos, buscando com isso um certo grau de comicidade e de identificação com o público.

domingo, 15 de julho de 2007

O Meu Amor

O meu amor é como sebo de vela
Que escorre, seca, quebra, e não ilumina,
É uma essência de terebentina
Com a tinta que não foi para a tela.

Meu amor é como papel que amarela,
Contendo um belo poema apagado,
É pedaço de um navio naufragado,
É o gemido depois de uma procela.

O meu amor é velho e posto de lado,
Tijolo de um canto escuro de cela,
É jato forte de vento gelado,

É uma parede sem porta ou janela.
O meu amor está sem teto e pelado,
Na totalidade e em cada parcela.

sábado, 14 de julho de 2007

Pelicano




sexta-feira, 13 de julho de 2007

Pan... et Circencis


Hoje começa o Pan do Brasil com todo o glamour e alegria que a ocasião exige: representa o florescimento do esporte brasileiro e a glória do nosso país. Saúde e disciplina para todos!
Será?
Quando eu era criança, programas de esportes eram sinônimo de programa futebolístico, mas hoje não, as outras modalidades ganharam espaço na mídia. Crianças são cada vez mais incentivadas à atividade física e o Brasil é campeoníssimo em muitos torneios. Por quê? Como tudo que acontece por aqui, qual é a sacanagem por detrás?
A resposta mais óbvia é a de promoção do governo pelo esporte. Isso nem sequer é novo: Hitler, Mussolini, Stalin, Fidel, Mao e muitos outros ditadores já o fizeram. Os imperadores romanos já sabiam que ao povo basta o pão e o circo, a nossa inovação foi só a de abolir o pão, pois acima dos trópicos um bom circo já basta aos esfaimados.
Um pouco mais de raciocínio nos leva a perceber que muita grana é gerada com o esporte. Até aí nada de mais, ganhar dinheiro é sempre bom para os indivíduos e para a sociedade, mas a questão é que o esporte brasileiro é totalmente chapa-branca e está sujeito a todos os desvios e desmandos que vemos diariamente nos telejornais e mais, com todos esses desvios e desmandos, o esporte que funciona mesmo é aquele que depende do talento, esforço e, principalmente, profundidade do bolso dos próprios atletas e não da estrutura do país: times de futebol, equitação, vela, fórmula 1, natação... o grande esporte brasileiro depende de patrocínios e de “paitrocínios” porque nos esportes que dependeriam de financiamento público, somos um verdadeiro fiasco, sempre tem um americano ou canadense para nos deixar no segundo degrau do pódio. Onde estão nossos recordes mundiais? Lembram do Guga, comendo sanduíches e dormindo em muquifos de Paris para depois ganhar em Roland Garros? Para onde vai toda a dinheirama do financiamento público ao esporte? Adivinhe, querido leitor!
Por que os argentinos são nossos inimigos? Eles não são! São parceiros de negócios, um povo maravilhoso, país lindíssimo, altamente educado, com grandes gênios mundiais da literatura, comida fabulosa... essa rivalidade só faz parte da nossa ideologia do esporte, existe aí uma perfídia, um interesse por trás, dá prá perceber?
E o que estamos dizendo aos nossos jovens pobres? Estudem, tornem-se médicos, engenheiros e professores porque esse é o caminho do seu futuro? Não! O nosso sistema está informando que se eles se esforçarem o suficiente eles certamente serão campeões do mundo e vão ter uma Ferrari como a do jogador de futebol. Essa é a semiologia, a entrelinha do discurso oficial. Ninguém diz ao menino que apenas 11 vão para a seleção e são milhões tentando. Se ele perder o tempo precioso da vida com essa quimera de improvável realização, muito provavelmente vai agravar a sua situação de pobreza.
Por tudo isso, devemos olhar com muito cuidado para o dia de hoje. Estará começando a grande festa de congregação das Américas ou esse lustro todo é simplesmente a cera que faz brilhar uma maçã podre?

quinta-feira, 12 de julho de 2007

O Que Presenciei nos Estados Unidos?


Passei um longo tempo no sul da Flórida e gostaria de compartilhar essa experiência de vida e apontar para detalhes que muitas vezes passam despercebidos ao turista.
As pessoas que viajam para lá ficam chocadas: primeiro mundo é isso!? ônibus não chegam no horário, pontos só têm um banquinho quando muito e, em locais onde não neva, não têm nem teto, atravessa-se fora do sinal, pisa-se na grama e se formam “carreirinhos” de tanta gente pisar que nem aqui, há muito mais fumantes, as pessoas são muito mais grosseiras e bregas, a gente vê muito mais desdentados, a higiene das lanchonetes é precária: luvas e máscaras? Nem pensar! Existem mendigos, pedintes, gente revirando latas de lixo, prostituição, racismo, crimes são cometidos, inclusive com balas perdidas (verdade que é meio raro, mas acontece), arrombamentos de residências, praias fechadas por coliformes fecais, educação deficiente, longas esperas em hospitais, enchentes urbanas com automóveis submersos, acidentes de trânsito terríveis, o atendimento por telefone é muito, mas muito, pior do que aqui, os telefones públicos comem a moeda e não chegaram nem na tecnologia do cartão, os caixas automáticos ainda têm aquelas telas verdes...
Lembro do dia em que cheguei, a minha amiga C., gaúcha que vive há mais de vinte anos por lá foi me mostrar as maravilhas da cidade de Fort Lauderdale: olha essa estrada! No Brasil tem. Olha essa livraria! No Brasil tem melhor. Olha esse shopping center! Chinelão, os do Brasil são muito melhores. Restaurante? No Brasil é muito melhor. Gente bonita? Por lá só tem jaburu! No início, por educação não falei para ela, mas nada me surpreendeu.
Portanto, demorei para entender por que lá é primeiro mundo se tem tanta coisa igual ou bem pior do que a nossa tão amada Pindorama. Explico.
Quando se deixa algumas horas o carro ao lado de um gramado, pode-se estar certo que ele vai ser pintado de branco, pois os irrigadores automáticos vão dar um banho nele. Por que pintado de branco? Por que é uma água não potável, de baixa qualidade. Surpresa: eles têm duas linhas d’água, uma potável e outra para irrigação e limpeza de calçadas, muito mais barata. Quando vai ter isso por aqui? Nunca.
Um amigo carioca, A., foi camioneiro. Quando chegava em um paradouro, bastava abrir a porta do caminhão e no chão havia saída para TV a cabo, telefone e Internet. Quando vai ter isso por aqui? Nunca.
Pelo Map Quest (ou Yahoo Maps) se imprime mapas e roteiros pelo computador. O interessante é que lá pelas tantas está escrito “obras na rua tal de 15 a 27 de julho”. O país é tão organizado que uma empresa privada de software pode saber em todo o país (e Canadá!) onde e quando vão existir buracos na pista. Quando vai ter isso por aqui? Nunca!
O passado influencia o presente. Se você sempre pagou as suas dívidas, por que não emprestar dinheiro? Por lá, você tem crédito se for honesto e deixa de ter se fizer sacanagem. Portanto, as pessoas honestas são mais ricas por lá, têm crédito. Quando vai ter isso por aqui? Nunca!
Eu ia comprar um computador à crédito. Para checar se eu era eu mesmo, o vendedor mostrou-me a tela do computador e fez algumas perguntas: qual desses carros você tem? O meu carro era uma das quatro opções. Em qual dessas ruas você já morou? Uma rua que eu já havia morado era uma das quatro opções! Em resumo, eles sabem TUDO sobre o cidadão, se pisar na bola, você pode estar certo que vai se dar mal. Quando vai ter isso por aqui? Nunca!
Presenciei: uma prostituta estava abordando os hóspedes de um hotel. O recepcionista chamou a polícia e o policial reuniu os dois. – Você não quer que ela apareça mais aqui no hotel? – Não, não quero, respondeu o recepcionista! – Então diga para ela na minha frente. (ele disse) – Muito bem, moça, respondeu o policial, a partir de agora se você pisar sequer no estacionamento, você será presa, entendido? Simples assim, sem ordem de juiz ou qualquer burocracia. Imaginemos quantos crimes isso evita! Quando vai ter isso por aqui? Nunca!
Tenho vários amigos que são corretores de imóveis e avaliadores por lá. Existe um programa que informa por quanto foi vendida cada casa de uma vizinhança. Essa rede de informações permite dizer o valor de uma casa de um milhão de dólares com um erro de um avaliador para outro de... 300 dólares! Erro de 0,03%, sabe-se praticamente o valor exato do investimento! Quando vai ter isso por aqui? Nunca!
Se você comprar um carro por lá e voltar cinco minutos depois para devolver, o vendedor terá que aceitar. Por quê? – Não gostei da cor... O.K., man, vou devolver o dinheiro, responderá o vendedor, obviamente com uma cara enfezada! Ninguém precisa ir ao PROCON de lá. Quando vai ter isso por aqui? Nunca!
Não se usa subterfúgios para se falar de dinheiro: contribuinte é “pagador de impostos”, erário é “tesouro”, juros são “interesses”. As pessoas perguntam direto: quanto você ganha? Impostos não são embutidos no preço final do produto, paga-se à parte: se algo custar 10 dólares na etiqueta, você pagará no caixa US$10,60, 6% é para o governo. Dá para entender a sutileza? Roubar do erário é muito menos grave do que roubar do tesouro. Ser contribuinte é muito mais na maciota do que ser pagador de impostos. Altas taxas de juros ninguém sabe o que é, mas de interesses... Quando vai ter isso por aqui? Nunca!
O correio é eficiente. Você precisa de uma peça para o carro. Entra na internet, procura (em um único site) todos os ferro-velhos do país e descobre o que precisa. No dia seguinte, a encomenda está chegando na sua porta. Isso vale para qualquer coisa. Já comprei até pneus pela Internet! Quando vai ter isso por aqui? Nunca!
Ruas são abertas apenas nos sentidos Norte, Sul, Leste e Oeste, o que evita cruzamentos diagonais, melhorando muito o tráfego. Quando vai ter isso por aqui? Nunca!
Uma vez me perdi em Homestead, uma área rural bem ao sul de Miami. Dirigindo pelas estradas de terra daquele cafundó, uma planura, fui pensando comigo que parecia que estava na grande Porto Alegre, no interior de Viamão, e imaginando como iria me orientar. Só para dar uma idéia, cruzei com uns caras se divertindo com quadriciclos, parei o grupo para pedir informação e eles me responderam que também estavam perdidos! Lá pelas tantas, no meio do areial, no nada, encontro uma placa marcando o cruzamento das duas ruas. Não havia nem indício de civilização, tive que dirigir uns quinze minutos para encontrar uma casa, mas as ruas já estavam demarcadas E SINALIZADAS! Daí percebi que não estava em Viamão... Quando vai ter isso por aqui? Nunca!
Não existe contrato de trabalho. Trabalhou, pagou. Não pagou, não trabalha mais. Simples assim. Aliás, não existe nem justiça do trabalho, pois qualquer pessoa de um mínimo bom senso entende que justiça é uma só, não pode ser segmentada. Quando vai ter isso por aqui? Nunca!
Recebi uma moeda com data de 1942 ainda em circulação. Comentei com um amigo sobre a estabilidade da moeda e ele me disse que já havia recebido uma de 1886...
Veja-se bem, isso tudo se aplica a 300 milhões de habitantes, e em uma área pouco maior do que a do Brasil. Em cada centímetro do país existe a mesma infra-estrutura, não existem buracos negros e nem áreas com populações desassistidas. O mesmo brasão indicando o número das estradas usado na década de 30 se usa hoje, as mesmas caixas de correio, quando se lê “Lolita”, de Nabokov, ou “On The Road”, de Kerouac, clássicos escritos na década de 50, tem-se a impressão que é o mesmo país com carros antigos: por outro lado ao lermos autores bossa-nova por aqui, temos a impressão que tudo piorou muito, que a qualidade de vida era muito melhor antigamente..
E os nossos esquerdinhas ainda falam que os americanos têm tudo isso porque são ricos. Muito pelo contrário, os Estados Unidos são um país rico porque têm tudo isso, não confundamos causa com efeito.
Por todos esses motivos, não se pode avaliar os Estados Unidos apenas pela superfície, pois aquilo que interessa está enterrado, está nas entranhas, é estrutural. E quando vai ter isso por aqui? Nunca!

quarta-feira, 11 de julho de 2007

O Deusinho de Gesso


Em uma tenda de mafuá
Comprei um deusinho de gesso
Que me deu um sorriso gagá
E falou que ele era o fim e o começo.

Perguntei-lhe da injustiça que vejo
E quem é que ele quer que eu seja,
Ele apenas deu um bocejo
E falou para eu ir à igreja.

Falei-lhe dos que sofrem rendidos
E que são mais do que gotas num mar,
Perguntei-lhe qual era o sentido
E ele me disse apenas prá orar.

Perguntei como ficar ao seu lado,
Falou que bastava uma grana,
Reclamei que estava sendo explorado
E ele mostrou-me o seu punho em banana.

Analisei o seu valor e o seu preço
E vi-me com um deus meio mixu,
Apanhei aquela farsa de gesso
E joguei meu deusinho no lixo.

terça-feira, 10 de julho de 2007

Previsões do Futuro


Prever o futuro é sempre uma tarefa árdua e inglória. O presidente do escritório de patentes americano falou que nada mais havia para ser inventado... no século XIX. O presidente da IBM disse que o mundo não precisaria de mais do que cinco computadores e os executivos da Kodak não compraram a patente das fotocopiadoras porque achavam que ninguém iria se interessar por uma foto em papel comum de baixa qualidade... Para o século vinte foi previsto que iria se atravessar da Europa para a América em fabulosos seis dias e as mulheres seriam tão ousadas que teriam os vestidos mostrando os tornozelos. Nenhum escritor de ficção científica previu a Internet.
De qualquer forma, vou arriscar. Quero prever o futuro para que daqui a cinqüenta anos alguém confira o que acertei e errei. Aqui está a minha visão:
Energia:
As casas terão os telhados preto-brilhantes e gerarão a própria energia que consumirem. A rede pública de eletricidade será ligada apenas em prédios e em casas pobres. Essas casas de telhado preto não serão cobertas de painéis solares como os modernos, mas de cerâmica termelétrica, que gera eletricidade a partir do calor, não da luz solar. Cada telha terá um contato que a ligará à telha seguinte, produzindo assim uma enorme área.
O álcool e o biodiesel não serão mais grandes riquezas e, como o ciclo do ouro, da borracha e do café, deixarão enormes áreas empobrecidas no nosso país, além de terras debilitadas. A tecnologia da célula de hidrogênio vai prevalecer, não pelo simples fato de ser mais eficiente, mas porque a eletricidade vai se tornar muito mais barata, viabilizando a eletrólise da água. O hidrogênio será estocado em esponjas e não mais em tanques.
A eletricidade não será acumulada em baterias, mas na forma de hidrogênio e, nas indústrias, em volantes de inércia (flywheels): um rolo que gira em alta velocidade no vácuo e que transforma energia elétrica em cinética e vice-versa. Será também desenvolvido um acumulador de calor muito mais eficiente do que um tambor de água que permitirá guardar grandes quantidades de calor em pequenos espaços para depois transformá-lo em eletricidade.
Segurança:
As tecnologias bancárias avançarão tanto que o dinheiro cash será abolido. Primeiro, a Casa da Moeda anunciará o fim das notas de valor mais alto, até acabar com o dinheiro miúdo.
Os telefones celulares não terão mais carregador, pois a bateria não precisará ser trocada, alguns usarão a tecnologia “witricity”, eletricidade transmitida sem fio. No entanto, existirá uma conexão que pode ser plugada em um outro celular para efetuar pagamentos direto de uma conta bancária para outra, com identificação biométrica e sem a mínima possibilidade de fraude.
Com o fim do dinheiro, acabará a corrupção policial e de funcionários públicos. As cidades serão muito mais seguras.
Ecologia:
O mar subirá pouco, mas não ao ponto de provocar grandes êxodos populacionais. O que hoje são medidas para não poluir, se transformarão em medidas para reverter os efeitos do homem sobre o clima, como por exemplo substituir florestas equatoriais por plantas com maior albedo para refletir melhor a luz solar.
A tecnologia de plasma para incinerar o lixo não vai prosperar. O lixo continuará a ser acumulado em aterros sanitários. Transformar o lixo em energia não terá viabilidade econômica. O Brasil deixará de ser o país campeão de reciclagem no mundo. O ar das grandes cidades será menos poluído do que hoje.
Não faltará água, nem alimentos e nem minérios.
Ninguém dará a mínima para a extinção de espécies, pois existirá tecnologia para reviver animais extintos, como no filme Parque dos Dinossauros.
Trabalho:
O “home office” será muito mais evoluído do que hoje, pois será todo em 3D. As telas dos computadores, os scanneres e as impressoras conseguirão representar, transmitir e criar cópias de objetos à distância, no entanto as pessoas continuarão a se deslocar para o trabalho, mais ou menos como hoje o fazem.
Arte:
Daqui uns quarenta anos vai ocorrer um fato que vai passar praticamente despercebido, mas que vai mudar o mundo: o lançamento comercial do primeiro robô humanóide artesão, que vai ter a capacidade de transformar o corrimão da sua casa em uma obra de arte. Esse invento vai possibilitar uma inversão na tendência de design que vem desde o início da revolução industrial, o da simplicidade. No futuro as casas parecerão muito mais com um castelo europeu do século XVIII misturado com um templo indiano do que com uma casa japonesa. Isso vai se aplicar a quaulquer coisa, inclusive os automóveis e cabines de avião terão o estilo "neo-rococó".
Religião:
Ao contrário do que muitos pensam, as missas em latim farão com que o catolicismo dê a volta por cima, revertendo a atual tendência de queda sobre as religiões evangélicas, voltará a ser muito mais freqüentado do que é hoje. A oposição medieval entre muçulmanos e católicos voltará a ocorrer, gerando uma nova forma de racismo no ocidente.
Política:
O Brasil continuará a ser considerado o país do futuro e continuará a ser um país periférico na comunidade mundial. Os Estados Unidos continuarão sendo o país mais rico e poderoso do mundo. No entanto, já se começará a falar em abolir os estados nacionais, o que acontecerá daqui uns cento e cinqüenta anos.
Saúde:
A expectativa média de vida será de (bem) mais de cem anos. Um scanner do corpo inteiro (como o de uma tomografia) será muito mais barato e usual. Quando formos a um médico, o diagnóstico será feito com o uso dessas máquinas que posteriormente irão evoluir para um pequeno sensor, como o do seriado Jornada nas Estrelas.
Geral:
Os carros não voarão. A máquina do tempo não terá sido inventada, não se inventará uma maneira de viajar para outra galáxia. Não haverá a terceira guerra mundial. Os homens continuarão usando terno e gravata. No entanto, conforme o sonho dos alquimistas medievais, metais poderão se transformar em outros metais e por causa disso o ouro não valerá quase nada, vão ser bem comuns torneiras, rodas de automóveis ou revestimento de prédios de ouro maciço. As pessoas vão sair à rua com roupas de invisibilidade, parecendo que só têm a cabeça flutuando no ar, e também anônimas, com verdadeiras “burkas” eletrônicas, mas vão ser modas passageiras. Famosos vão usar bastante esses recursos.
As favelas dos bairros da zona sul do Rio não serão mais locais violentos, pelo contrário, serão bairros charmosos, habitados por intelectuais e estudantes.
Animais serão misturados por engenharia genética e ocorrerão muitos protestos, principalmente de grupos de fanáticos religiosos. Por essa tecnologia não se obterá apenas vacas que dão mais leite, mas seres dignos da Ilha do Dr. Moreau.
Viajar ao espaço ainda vai ser coisa de rico em cinqüenta anos, mas não mais de multimilionários, como é hoje.
Os cientistas já terão conseguido teletransportar (desmaterializar em um lugar e fazer aparecer em outro) gases e não apenas partículas subatômicas como hoje e essa tecnologia estará sendo muito estudada como promissora no transporte do futuro-do-futuro.
A Google vai dominar a informática. Tudo vai ser online, wireless e gratuito. Os arquivos pessoais serão guardados na Internet e não no computador. Computador será uma máquina sem sistema operacional e nem HD. E de uso coletivo. E sem ventilador e sem botão de ligar. Para usar qualquer computador do mundo, já personalizado para o usuário, bastará passar um cartão pela frente e usar a máquina normalmente. O teclado continuará igualzinho ao de hoje, os PC Tablets vão ser esquecidos, mas todo laptop vai ter tecnologia de mesa digitalizadora na tela.
A inteligência não será mais privilégio humano, criar-se-ão animais inteligentes e também computadores que raciocinam. Em cinqüenta anos, computadores já serão mais inteligentes do que cachorros e estarão se encaminhando para superar a inteligência humana.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Quem Acredita na Física?

Agora os cientistas estão achando que buracos negros não existem. Que coisa, hein? Depois de tantos filmes e de tanta imaginação. Como vamos conseguir viver sem eles?
Na trilha da desinformação, uma empresa de lâmpadas está com uma propaganda aqui no Brasil, linda por sinal, para vender lâmpadas que poupam energia, evitando o aquecimento do planeta. Ora, em um país onde 80% da energia é hidrelétrica, mostra que eles também não acreditam na lei de Lavoisier. Lembra das aulas de física? Quando um rio vai para o mar, ele perde potencial gravitacional (altura) e gera potencial cinético (velocidade). Quando chega ao mar ele é freiado. O atrito para parar o fluxo de água gera calor no planeta, como no freio de um carro. Portanto, conforme os físicos, não interessa se o calor de Itaipu é transferido para as nossas casas ou para a foz do Rio da Prata, o planeta vai aquecer do mesmo jeito, mas vá explicar isso... ninguém acredita mesmo.
Já notaram que as pessoas não acreditam que a água ferve a 100 graus e gela a zero? Quantas e quantas vezes eu já ouvi de pessoas instruídas que devemos ferver a comida no fogão em fogo alto para “cozinhar mais rápido”: se está fervendo é porque está a cem graus, não vai esquentar mais do que isso, mas ninguém acredita! E encher o copo de refrigerante de gelo para “gelar mais”. Se estivesse a menos de zero, o refrigerante congelaria, né, oh Poço de Sabedoria?
Dessa maneira, fico me perguntando. Como convencer as pessoas que o bolsa-família é lesivo ao país? Ninguém acredita. Como convencer que empresas públicas são lesivas ao país? Ninguém acredita. Como convencer que os Estados Unidos não querem o nosso mal, aliás, somos um país periférico na comunidade mundial, não dão a mínima para nós. Ninguém acredita. Como convencer que é mais importante votar naquele que enterra um cano do que naquele que constrói um monumento? Ninguém acredita. Como convencer que não devemos reeleger um político se ninguém acredita que existe roubo no congresso?

Se as pessoas não acreditam no físico, no natural, na obviedade, como acreditar naquilo que é mais sutil?

domingo, 8 de julho de 2007

Onde está a grama?

Essa foto, eu tirei na usina do Gasômetro, em Porto Alegre.
Além do serviço público (grama) não ser oferecido, ainda querem regular a liberdade do usuário: bem Brasil!


sábado, 7 de julho de 2007

Análise da Arte

Publiquei no Anexo do Bonowblog um texto explicando como compreender e analisar arte nas diversas correntes. Para ler o texto, clique aqui.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Dicas de Auto-Ajuda

Algumas coisas que aprendi com muito esforço e que eu gostaria de compartilhar com os meus leitores. Não são idéias minhas, mas que fui coletando pela vida e muitas delas não lembro a fonte: os autores das idéias, que aceitem a minha desculpa e admiração .
- Torne-se simples. Sabe de onde vem a palavra “sofisticar”? É de quando os cervejeiros ingleses queriam acelerar a fermentação de seu produto adicionando açúcar (to soft). Originalmente sofisticar significava falsificar, adulterar (cerveja). O difícil na vida não é ser sofisticado, mas ser simples. Se tivermos duas escolhas, ambas éticas e de mesmo peso, qual é a correta e verdadeira? É a mais simples, acredite.
- Todos são importantes. No filme “Ensaio de Orquestra”, Felini entrevistava vários membros de uma orquestra perguntando a todos qual seria o instrumento mais importante. É claro que todos os músicos defendiam o seu próprio: o violinista argumentava que sem a melodia não existiria música, o do tambor defendia o ritmo e assim por diante. Como via de regra, não confie muito em pessoas que tratem você melhor do que tratam o garçom, elas acham que o instrumento delas é o mais importante na orquestra.
- Saiba esperar. Na mitologia indiana, o paraíso é visto como um local cheio de árvores com frutos dos desejos. Para realizar um desejo, basta apanhar um desses frutos e ele se realizará sem um intervalo entre a vontade e o acontecimento. Enquanto não vivermos no paraíso indiano, tudo tem um tempo para acontecer, aprenda a esperar.
- Quem não faz e nem ensina, critica. É fácil falar quando as coisas deram errado, mas será que alguém elogia as milhares de vezes que as coisas dão certo? O mundo está longe de ser um local perfeito, é preciso uma certa complacência com as falhas das pessoas.
- Só existem três tipos de problemas. Os que não têm solução, os que passam com o tempo e os que podemos agir para solucionar. Nos dois primeiros tipos, só nos resta lamentar e esperar. Quanto àqueles que podemos corrigir, mãos à obra!
- Só existem dois tipos de atos dignos, criar algo que dure mais do que o seu tempo de vida e buscar prazer. Tudo o mais é vazio e sem sentido.
- “Só existe uma maneira de abrir uma porta, é caminhar até ela e a abrir”. “Na prática a teoria é outra”. Não pense muito, faça!
- E, a dica suprema: não espere nada de nenhum governo.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Plano de Negócios: Os Totozinhos do Prefeito

Introdução
É totalmente absurda a quantidade de cães que existe nas ruas da minha cidade. A solução recomendada pelos especialistas seria esterilizar os animais para que esse número não aumentasse, mas se telefonarmos para a prefeitura pedindo o recolhimento dos bichos, receberemos um outro telefonema, dois meses depois, dizendo que foram recolhidos dois cachorros, quando em qualquer passeio pelas ruas se percebe bandos de sete, dez por vizinhança.
Por outro lado, é crime matar cachorros, mais do que matar gente, pois o advogado não conseguirá encontrar atenuantes. Ao cidadão só resta esperar ser atacado, observar doenças sendo transmitidas e agüentar sujeira e ruído.
Pensando-se nisso, criou-se o presente plano de negócios que propõe deslocar cachorros de toda a cidade para a frente da garagem do prédio onde mora o prefeito, pois isso não é crime nenhum e livra os moradores dos diversos bairros da cidade de problema tão incômodo.
Quando um cidadão se sentir molestado por cachorros vadios na rua, telefona para a empresa de recolhimento e esta captura o animal e manda por e-mail uma foto, largando o totozinho na frente do prédio do verdadeiro responsável por ele, o prefeito. Negócio simples assim, sem grandes custos, sem funcionários, baixos impostos...

Custos Mensais
Prestação de uma motocicleta – R$200,00 mensais
Gasolina – R$100,00/ mês
Computador e Internet – R$100,00/ mês
Celular a cartão, apenas para receber chamadas – R$20,00/ mês
Confecção de uma gaiola, cordas e rede para a captura: R$150,00
Confecção e distribuição de folderes e propagandas: R$500,00/ mês

Ganhos
Imagina-se que em uma cidade de uns 2.000.000 de habitantes, exista mercado para, no mínimo, duas chamadas por dia, a um custo de R$25,00 cada, ou seja, o lucro dos primeiros meses deverá ser de uns dois salários mínimos, podendo chegar (com 10 recolhimentos por dia) a um faturamento de uns R$6.500,00 mensais, isso sem a contratação de funcionário. Em uma cidade maior, dá para ficar milionário!

Funcionamento
Imagina-se que colocando dois cachorros por dia em frente ao prédio do prefeito, em três meses, já teremos uns 180 cães andando pela sua vizinhança, com eles se reproduzindo rapidamente, no período de um ano, talvez tenhamos uns 2000 cães latindo à noite sob a janela do prefeito. Já pensaram que paz canina irá se estabelecer no restante da cidade? O bairro dele viraria até ponto turístico.

Quem se anima a montar um negócio como esse? Tem um monte de gente que pagaria para se livrar do problema e ainda mandar o seu totozinho para quem é de direito!
Veja bem, não é um negócio antipático como uma carrocinha normal, pelo contrário, esse moto-empreendedor seria tratado como herói podendo até... se candidatar a prefeito!
Empreendedor: pode me telefonar que quero ser o seu primeiro cliente!

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Gramado


terça-feira, 3 de julho de 2007

Canção do Amigo Ausente

Para onde quer que vás
Eu não te esquecerei, amigo.
Sei que onde quer que estejas
Lá será o meu lugar,
E é assim que eu consigo
Ver partir sem ver quebrar.
Não há distância no universo
Que apague o teu olhar,
Nem recanto sobre a terra
Em que eu não tente te achar.
Que desapareças, que envelheças,
Ou que a vida te comprima
Minha alma a ti se engasta,
A distância que afasta é a mesma que aproxima,
Assim, nesse sentido, estaremos reunidos,
Teu sorriso é meu assunto,
Teus segredos, meu sonhar,
Amigo, estaremos sempre juntos
Porque estou a te esperar.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Mas Bah!


Quando falo que sou gaúcho em outros estados brasileiros, logo escuto expressões de admiração: povo trabalhador, honesto, hospitaleiro... Por isso, é melhor explicar o que é um gaúcho na verdade, pois percebo que na cabeça dos demais brasileiros existe um preconceito, ora para o caráter anedótico, histriônico, ora em uma idealização que também não existe de verdade.
O primeiro fator que devemos considerar é que o Rio Grande do Sul nunca possuiu uma economia que necessitasse de mão-de-obra escrava, não havendo o conflito entre casa grande e senzala como no restante do país. Pelo contrário, o estancieiro até há pouco tempo, acordava de madrugada e ia “matear” com os peões no galpão para depois sair para a lida do campo. Por isso, existe por lá uma idéia de igualdade que não existe, talvez, em local nenhum do mundo: status, esnobação e pedantismo são valores bem pouco prestigiados pelos pampas.
Segundo, existe um conservadorismo reacionário tremendo. O governo do estado simplesmente fecha parques (como o do Lami e do Itaimbezinho) para que ninguém apareça por lá e pise nas flores! E os parques ficam por anos fechados até surgir dinheiro para reabrir. Por outro lado, os parques urbanos de Porto Alegre não possuem calçamento, pois na mente rousseauísta do gaúcho a natureza é boa, não pode ser mudada e o ser humano está por lá apenas para atrapalhar.
No entanto, a característica mais marcante no pensamento gaudério é mesmo o positivismo. Porto Alegre, junto com o Rio, Curitiba e Paris, possui um dos únicos 4 templos positivistas do mundo. As ruas da cidade recebem o nome de positivistas: Demétrio Ribeiro, Benjamim Constant, Floriano Peixoto, Carlos Von Konzeritz... Os principais colégios públicos têm nome de líderes positivistas: Júlio de Castilhos e Parobé. Até a esquerda gaúcha recebe influência positivista (o pai de Luís Carlos Prestes era positivista).
Na mente do gaúcho é preciso manter as tradições (os primeiros CTGs foram criados por positivistas), tomar posição de forma maniqueísta: ou você é chimango ou maragato, gremista ou colorado, unionista ou sogipano (são clubes de Porto Alegre), petista ou anti-petista, não existe meio termo. O déspota esclarecido, o sábio salvador da pátria é o supra-sumo do político gaúcho e não é mera coincidência que os ditadores brasileiros sempre saíram do extremo sul: Getúlio, Jango, Médici, Geisel... e a ala mais xiita do PT. O positivismo não é uma idéia absurda do século XIX, não, ela continua por aí, agindo no cotidiano, travestida dos mais diversos populismos.
O Rio Grande até seria insignificante, uma Lilipute do paralelo 30, se não fosse por um pequeno detalhe: nós, os gaúchos, temos índole imperialista. Com avanços em tecnologias do campo, dominamos todo o oeste do Brasil, até a Amazônia. Existe CTG até no Japão. A república do Catete e depois a do Alvorada, desde que acabou a política café-com-leite, vem sofrendo mais ou menos influência da política churrasco-com-chimarrão. Observem: em todas essas merdanças que temos assistido na política nacional, sempre tem um dedinho de gaúcho e não estou falando em corrupção (diante do panorama nacional, o político gaúcho é até que razoavelmente honesto), mas no apoio a ditadores de republiqueta, seja no papel de caudilho, de eminência parda ou em altos cargos de judiciário.
Uma outra confusão muito comum para o turista que visita aquele estado é não perceber que existem vários Rio Grandes: o açoriano, o imigrante e o pampeano. A parte onde existe infra-estrutura hoteleira e turística é a dos imigrantes, é onde existem cidades sem analfabetos, indústrias de ponta e pensamento conectado com a modernidade. É o mesmo fenômeno que acontece no Vale do Itajaí, na serra carioca e na cidade de São Paulo, progresso trazido por mentes diferentes daquelas encontradas por aqui. Nas regiões onde se encontra o gauchão, pilchado e falando espanholado, existe um subdesenvolvimento gritante, nível alto de analfabetismo, contratos não são honrados, atraso em todos os aspectos de análise social.
Mas bah! Para nós, os gaúchos, todos são iguais nas diferenças. Até os pobres são iguais aos ricos... desde que não se metam onde não foram chamados!

domingo, 1 de julho de 2007

História de Pescador

Há muitos e muitos anos nasceu na ilha aquele que seria conhecido por Pescador.
Muitas circunstâncias marcaram a sua chegada ao mundo. Sua mãe foi pega pelas dores do parto em pleno Sambaqui, em uma época que por ali ainda vagavam os espíritos dos guerreiros índios saídos sorrateiramente das suas urnas funerárias. O próprio sangue que ela devolveu à terra sob o facho inclemente da lua cheia, um dia havia sido corpo daqueles guerreiros.
Quando a criança deu o seu primeiro suspiro, uma chuva de estrelas caiu ao mar e apressadamente surgiram atrasadas as três parteiras guiadas pelos gritos e pela luminosidade súbita. O cordão foi cortado, o menino limpo, enrolado na renda recém acabada, o seu primeiro presente. Bebeu o seu primeiro leite com a mãe sentada em um trono de pedra à beira do caminho.
Em posição de reverência, a primeira parteira exclamou:
"Bem-vindo ao mundo, infeliz e aventurado filho do Pai da Terra e da Mãe do Mar Profundo!"
E as outras disseram: bem-vindo.
A segunda disse:
"Bem vindo, alma imortal, corpo que não pode ser morto pelo ódio, nem pela força da natureza e nem pela mão de homem algum!"
"Bem-vindo, bem-vindo", as outras repetiram.
E a terceira:
"Bem-vindo aquele que traz a felicidade, que é o lampejo das estrelas e o elemento dos sonhos."
A mãe chorou, apertou-o contra o peito e sussurrou o bem-vindo.


Pouco se soube da sua meninice. Só sabe-se que era o melhor em tudo. Quando se escondia ninguém achava. Quando corria ninguém pegava. E de todos foi o que cresceu mais rápido.
Quando ia para a armação, conseguia ver os cardumes que ninguém via. Na praia a sua tarrafa sempre saía da água pulando de peixes. No Mar de Dentro, o seu barco voltava carregado, no Mar de Fora, nunca virava.
Bebia o suficiente para tornar-se a melhor companhia, nunca em excesso. No jogo, perdia quase sempre, não que não tivesse sorte: ele deixava ganhar.
Era o rapaz mais lindo. As senhoras elogiavam-no, as mulheres cobiçavam e as meninas almejavam. No entanto ele era alheio. Ele era do mundo como o mar, o vento ou a gaivota que passa. A sua abundância não era furtada, mas devolvida. Ele dava-se.
Um dia, um velho cego que via com os olhos da alma, veio até a vila e falou:
"Pescador, cego és tu que está fora do mundo. Tens saúde, fartura e cavalgas a alegria, no entanto não tens a felicidade porque és filho da morte. Tu não passarás porque não descobriste a força que move a vida."
Intrigado, ele tocou o rosto do cego que, para a surpresa geral, passou a ver. Este lhe beijou e se foi.
Depois disso uma menina picada mortalmente por cobra cuspiu o veneno quando foi posta em seus braços. Agradeceu e se foi. Um aleijado andou e sua presença e se foi. Um cão de estimação morto acordou, viveu alguns anos e depois morreu para sempre.
Para o pescador os cardumes de tainhas eram cada vez maiores e a natureza cada vez mais o proclamava. Quando ele via mortes, percebia que elas eram serenas como a velhice e suaves como o tempo. O mar batia nas rochas. Passavam os barcos e os navios ao longe. As luas sucediam-se ao sol. As figueiras cresciam.
Tudo o que era fugaz passou por ele até o fastio. Passou a sua família, os seus companheiros de pesca. Lutou em muitas guerras até ao ponto de esquecer as suas glórias. Muitos barcos viraram tábuas, pedras viraram praias e praias viraram mar.
Ele era um fantasma da eternidade. Atirou-se em ondas profundas, mas foi dar em terra. Enterrou-se na areia, mas o vento o descobriu. Lutou, mas nunca houve bala ou espada certeira.


Em uma certa noite vagou pela ilha, miseravelmente infeliz, só com a natureza horrivelmente exuberante e vazia ao seu redor. Um tapete de flores cheirosas acolhia os seus passos e uma soberana lua cheia iluminava o seu caminho. O pescador chegou na praia, bem próximo ao sambaqui em que nascera.
Surgiu uma mulher que se banhava no mar. Era bela e de aspecto feroz. Não era ninguém da vila. Parecia ter atravessado todo o oceano para vir a ter com ele.
Os seus cabelos eram algas, seus olhos inchados, a sua pele escamosa e o seus pés planos. Sem uma palavra, atirou-se sobre ele e se amaram, fundindo com a areia e sumindo, virando areia da praia. Caiu uma chuva de estrelas no mar.

Uma luz passou a brilhar sempre que alguém se amava no local em que o Pescador e a Mulher do Mar desapareceram, por isso aquela ponta de praia foi chamada de Ponta da Luz.
Conta-se também que os amantes, no silêncio profundo dos seus gozos, podem ouvir o eco das vozes das três parteiras, que desde sempre andaram por ali: "Vão, Pescador e Morte, sábia regente do amor, passem como tudo tem que passar!"