quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Enquanto os Bárbaros Tomavam Alexandria

Enquanto os bárbaros tomavam Alexandria
Houve o que ficasse em casa
Tocando lira e recitando Ovídio,
E aquele que comentou nas termas
De como os bárbaros eram bárbaros.
Houve a mulher que salvou o seu cãozinho
Da turba que se aproximava com as espadas,
E aquele que reclamou do barulho.

Enquanto os bárbaros tomavam Alexandria
Houve o que preferiu acariciar
As nádegas do seu jovem escravo,
O que exibia os músculos no ginásio,
E o que aumentou a aposta no seu gladiador.

Enquanto os bárbaros tomavam Alexandria
Houve a mulher que reclamou do pó
Sobre a toga recém lavada,
E quando a biblioteca foi queimada
Houve quem dissesse que de nada serviriam aos pobres
A estatuária, os pergaminhos e os doutos jurisconsultos.

Enquanto os bárbaros tomavam Alexandria,
E enquanto os civilizados nada faziam,
Uma cruz foi erguida
Sobre o rio de sangue dos covardes.


Curitiba, 03/12/2015

sábado, 14 de novembro de 2015

Como demonstrar para amigos e familiares que se é um grandessíssimo canalha?


A tragédia de Paris tem trazido à tona muito daquilo que há de bom no ser humano, mas também aquilo que há de mais odioso.  
Ficou famoso no Facebook o detestável artigo de uma famosa revista de esquerda brasileira, financiada pelo governo, culpando, poucos instantes após os atentados do 11º Distrito, os males do capitalismo pela ação dos pobres povos oprimidos contra os maldosos imperialistas, mas não foi a única manifestação de estupidez, apenas a menos sutil.
Rapidamente, a nossa imprensa vendida adiantou-se a informar que os atentados aconteceram na zona leste porque eram lugares de jovens que saíram para se divertirem à noite. Por que não aconteceram na Torre Eifell ou na Notre Dame, isso não será jamais falado. Mas eu digo, simplesmente porque esses locais são permanentemente guardados por inúmeros soldados do exército francês, patrulhando as regiões com coletes de guerra e fuzis pesados. Admitir isso seria o mesmo que afirmar que armas trazem segurança e as forças de segurança públicas devem ser incentivadas, e não tomadas como bandidas, o que muitos dos repórteres de esquerda não têm capacidade moral para dizer.
Muitos também se adiantaram para lembrar que muitos muçulmanos não apoiam essa iniciativa, aliás, muitos povos que falam árabe são inclusive vítimas do Estado Islâmico, e não agressores.
Ora, apenas 40% dos alemães votaram em Hitler, mas não houve uma guerra contra a política alemã, mas contra aquela nação, simplesmente porque eram indistinguíveis os nazistas dos alemães de bem. O tristemente engraçado disso tudo é que os judeus e os norteamericanos não são tomados por indivíduos pelos seus inimigos, como eles pedem para si, mas, pelos esquerdistas, pela jihad e pelos palestinos, como oriundos das terras de moradia dos demônios.
Veio à tona também o argumento que o número de mortos em Paris é insignificante perante aos ataques dos aliados ocidentais com drones no Afeganistão, na Síria e no Iraque, com imensos danos colaterais a civis. O que nunca é mencionado é que jamais na história existiu uma guerra envolvendo duas democracias entre si. O que as potências mundiais estão fazendo é tentarem cessar agressões produzidas por ditaduras e que, se não o fizerem, certamente o problema será em breve muito maior, com muitos maiores custos financeiros e de vidas em um futuro próximo.

Portanto, o que se tem visto no dia de hoje no Facebook é um imenso número de canalhas tentando justificar o injustificável. A única coisa positiva é que os seus amigos e familiares ficarão, ao lerem esse tipo de postagem, devidamente atentos para evitarem comprar mais adiante um automóvel usado desses patifes.

sábado, 1 de agosto de 2015

O que merece o dentista que matou covardemente o leão a flechadas?

Fonte da Imagem: Reprodução/Facebook/Zimparks

O que merece o dentista que matou covardemente o leão a flechadas? Que tenha seus olhos furados e depois amarrado a quatro cavalos e seus membros arrancados? Que o seu tronco, ainda vivo, seja queimado em uma fogueira de achas de cedro e as cinzas jogadas em latrinas pelos quatro cantos da África para que venha então a sua clínica a ser dizimada pela multidão ensandecida, o terreno em que ela se encontra salgado para que nele nada mais nasça e os seus descendentes amaldiçoados até a quinta geração?
A narrativa tem todos os elementos que motivam um discurso de ódio facilmente assimilado pelos incautos: o maldoso imperialista norteamericano branco, provavelmente heterossexual, adepto do sangue e da violência, chega sem qualquer provocação para corromper uma sociedade intrinsecamente boa, desprovendo-a de sua riqueza natural mais preciosa, de maneira que um futuro de brilho e graça que já se avizinhava, torne-se impossível para o país impoluto sem que esta mácula seja extirpada.
Imagine-se se o ator fosse outro. Um pequeno e pobre pastor africano negro mata a flechadas, por não ter dinheiro para comprar uma espingarda, o leão que devorava as ovelhas que garantiam o seu sustento. Se o leitor possuir ao mesmo tempo ambas das raras qualidades humanas da honestidade e da inteligência, há de convir que a mídia internacional ficaria inerte e nada seria compartilhado ao redor do mundo nas Linhas de Tempo do Facebook.
A repercussão deste crime, portanto, diz respeito, principalmente, ao autor, não ao ato em si.
 “O fascismo pode começar pela caça aos tarados.”, dizia o cineasta Bernardo Bertolucci. Não se está discutindo aqui a covardia e a violência do caso em tela, mas a milenar batalha entre civilização e barbárie.
Foi exagero o recurso narrativo dos suplícios medievais na introdução deste artigo? Pois até ontem, 200 mil americanos já tinham assinado uma petição pedindo pela pena... de degredo! Que ele seja entregue para o Zimbábue, pediam os neoselvagens de Minnesota. Ainda que tal ação seja prevista no ordenamento jurídico norteamericano, caso exista reciprocidade entre os dois países, será que aquele país africano conseguiria manter a integridade física do criminoso nas atuais condições em que se encontra a comoção produzida pela mídia mundial?
É nesses momentos de comoção que os oportunistas aproveitam para levarem vantagem pessoal através da relativização dos direitos do indivíduo. Será que se devem entregar as nossas liberdades e garantias contra os desmandos do Estado, apenas com a finalidade de punir um idiota?

terça-feira, 28 de julho de 2015

Fundamentos para Começar a Conversar


Existem dois tipos de homens, os que tentam adaptar o mundo as suas ideias, os Idealistas, e os que tentam adaptar as suas ideias às realidades do mundo, os Pragmáticos.
Os pragmáticos construíram países como os Estados Unidos ou a Inglaterra. Contribuíram para a humanidade com o direito romano, com o método cartesiano e com a divisão de poderes das democracias, pois todas essas aquisições são simples ideias surgidas do mundo prático.
Os idealistas geraram a Alemanha nazista e o stalinismo. Os idealistas transformaram o mundo clássico na ditadura medieval promovida pela Igreja Católica, pois irremediavelmente eles tentam aplicar o que pensam, muitas vezes com as melhores intenções do mundo, mas infelizmente o mundo não é um quadro passível de encaixe na sua moldura.
Existem outros dois tipos de homens. Os que utilizam argumentos de verdade e os que utilizam argumentos de validade. Para a ciência do direito, os argumentos de validade são necessários para deter o poder do Estado sobre o indivíduo. Em todas as outras ciências, os argumentos de validade são maneiras de mentir.
Quando um indivíduo fala que “o socialismo que eu penso não é o que já existiu e não deu certo”, ou “a igreja de Cristo não é esta que está aí”, está utilizando argumentos de validade, pois não é possível conferir a veracidade de uma informação que se localiza em um futuro utópico. Em qualquer discussão que não ocorra dentro de um tribunal, quem usa argumentos de validade é desinformado ou, mais provavelmente, desonesto mesmo.
Existem alguns outros parâmetros absolutos para se começar a conversar.
Nunca existiu na história uma guerra entre duas democracias, o que coloca por terra a ideia que estas acontecem por questões econômicas. Dessa maneira, a democracia é um valor em si, pragmático, e não um valor idealizado e abstrato como a paz. Quem fala em paz per se é idealista, desinformado e sem conexão com a realidade do mundo ao redor, ou está mentindo. Ou ambos.
Países com maior Índice de Desenvolvimento Humano possuem maior qualidade de vida que os países com menor IDH. Portanto este é um valor absoluto, e não abstrato, como o Índice de Felicidade Bruta, que coloca o Butão como melhor país do mundo. Pessoas que defendam a pobreza são idealistas, desinformadas e sem conexão com a realidade do mundo ao redor, ou estão mentindo. Ou ambos.
IDH é um valor positivo, mas não diz tudo sobre um país. Mesmo não sendo os maiores IDHs do mundo, as pessoas sonham em emigrarem para os Estados Unidos e para a Austrália, e não para a Áustria ou para Singapura. Por quê? Por que esses países possuem a melhor relação entre IDH e baixos impostos, garantindo, portanto, maior liberdade econômica para os indivíduos. De nada vale ter boas escolas e hospitais, pois, dizia Cristo, nem só de pão vive o homem. Um Porsche e uma casa com piscina também são importantes na vida e desejados por todos. Assim, além de melhor qualidade de vida, deve-se lutar também pelos menores impostos possíveis.
Qualidade de vida e riqueza da maior quantidade possível de indivíduos, tampouco é suficiente. É por isso que as pessoas preferem viver em Nova Iorque ou em Paris a morar em Dubai. É da natureza humana sonhar em ser livre para tomar uma cerveja ou beijar a namorada. Dessa maneira, a liberdade, seja de expressão, locomoção e de atitudes que não avancem sobre os direitos alheios também é um valor absoluto.
Para começar a conversar, portanto, é preciso que o interlocutor tenha uma maneira pragmática de ver o mundo e utilize argumentos de verdade sobre os de validade. É preciso que ele defenda a democracia, a liberdade, a riqueza e a qualidade de vida.
Com os demais não vale a pena abrir a boca. Pérolas aos porcos, como dizia, de novo, Cristo, pois são indivíduos desinformados e sem conexão com a realidade do mundo ao redor.
Ou estão mentindo.
Ou ambos.


Luiz de W. Bonow, Curitiba, 28/07/2015