quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Enquanto os Bárbaros Tomavam Alexandria

Enquanto os bárbaros tomavam Alexandria
Houve o que ficasse em casa
Tocando lira e recitando Ovídio,
E aquele que comentou nas termas
De como os bárbaros eram bárbaros.
Houve a mulher que salvou o seu cãozinho
Da turba que se aproximava com as espadas,
E aquele que reclamou do barulho.

Enquanto os bárbaros tomavam Alexandria
Houve o que preferiu acariciar
As nádegas do seu jovem escravo,
O que exibia os músculos no ginásio,
E o que aumentou a aposta no seu gladiador.

Enquanto os bárbaros tomavam Alexandria
Houve a mulher que reclamou do pó
Sobre a toga recém lavada,
E quando a biblioteca foi queimada
Houve quem dissesse que de nada serviriam aos pobres
A estatuária, os pergaminhos e os doutos jurisconsultos.

Enquanto os bárbaros tomavam Alexandria,
E enquanto os civilizados nada faziam,
Uma cruz foi erguida
Sobre o rio de sangue dos covardes.


Curitiba, 03/12/2015