terça-feira, 24 de julho de 2007

Números Pequeninos

Certa vez perguntaram a Pablo Picasso se ele não se sentia desconfortável em vender um quadro pintado em cinco minutos por uma pequena fortuna e ele respondeu algo como “...não são pintados em cinco minutos, são 54 anos e cinco minutos!”
Daí fico assistindo às pessoas se lamentando pelas derrotas no Pan... “são só três décimos, quase conseguimos o ouro...”. Acontece que para o vencedor não são três décimos, são décadas, séculos até, de aprimoramento técnico, milhões de dólares investidos, horas e horas treinando ao invés de uma cervejinha no bar. Não são apenas três décimos, mas um enorme esforço nacional e pessoal para minimizar as probabilidades de derrota. O mais engraçado é que quando temos vencedores, ninguém fica dizendo “... grande coisa, foram apenas três décimos...”
Os Estados Unidos conquistam mais de duas vezes o nosso total de medalhas, não por serem craques, mas por terem topado enfrentar esse desafio de superação nacional.
Por que a ginástica teve tanto avanço nesses últimos anos? Porque se construiu um centro de excelência no Paraná, simples. Fazer acrobacias no sinal de trânsito pode até fazer surgir uma sumidade, mas é muito, muito mais provável que os talentos surjam quando metodicamente organizados.
O esporte é apenas onde esse pensamento brasileiro mais aflora, mas está presente em toda nossa vida cotidiana. Por que não se pode ganhar na loteria? Por que haveria de cair um avião logo agora? Por que vai haver um assaltante esperando logo na minha esquina? A estatística é uma lei cósmica, imperativa, e por isso precisamos reger as nossas vidas com probabilidades, não com as exceções.
Até no dicionário, o esforço vem antes do sucesso, mas muitos preferem não acreditar nisso. Números pequeninos representam muito mais do que aparentam.

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