Pecado Original
Quando Deus criou o homem e a mulher, criou-os sem o conhecimento do bem e do mal, ou seja sem responsabilidades e sem culpas pelos seus atos, apenas com dolo: se transgredissem as regras e comessem do Fruto Proibido, iriam ser punidos, sem sombra de dúvida. Eles assim o fizeram e adquiriram o pecado original para si e para todos os seus descendentes.
O que Adão e Eva fizeram? Um dolo, um ato ilícito, com a intenção de fazer, sabendo que a sua prática era proibida. E do que se trata o pecado original, aquilo que herdamos sem a mínima vontade? É a culpa, um ato praticado de forma não intencional, mas nem por isso menos danoso.
No Brasil, quando tomba um caminhão na estrada, surgem pessoas do nada, como se tivessem brotado do mato e das fendas da estrada para roubar as mercadorias. Se perguntarmos a qualquer uma delas se se julgam ladras, elas dirão que não, pois a “culpa é do camioneiro em dormir no volante, nós só estamos catando para não estragar...”. Em nosso país, a idéia de pecado original, exime a responsabilidade dos atos posteriores.
Os atos que levaram a ele também são redimidos pela catarse da culpa. Quando um motorista atropela uma criança em um bairro de periferia, precisa sair correndo, pois de outra maneira será certamente linchado pelos moradores. Será que as pessoas saem por aí com a intenção de atropelar criancinhas ou é um caso evidente de culpa e não de dolo? A população não quer nem saber da irresponsabilidade dos pais em deixar os filhos na rua ou do Poder Público em não dispor de sinalização. O motorista tem a mácula do pecado original e pronto!
Somos treinados desde crianças a malhar Judas, quando crescemos, não conseguimos agir diferente. Em cada cabeça brasileira soa o sino da sentença de um juiz cruel que exige expiação imediata para que a justiça divina se estabeleça de imediato.
Tudo isso seria apenas um curiosidade da cultura de nosso país se não impregnasse o sistema judiciário também. Depois do acidente do avião da Gol, as pessoas ficaram indignadas com a fuga dos pilotos para os Estados Unidos e com a “insensibilidade” do governo americano em acobertar tais criminosos. Afinal de contas, é deles o pecado original pela morte dos passageiros do Boeing, não só pela barbeiragem nas alturas, mas também pelo fato de serem cidadãos americanos, “porcos imperalistas que vêm nos assassinar por aqui”, na cabeça doentia de muitos de nossos concidadãos.
No entanto, a ALPA, Associação de Pilotos de Linhas Aéreas, advertiu os seus membros dos perigos de se voar no Brasil, esse país de bárbaros em que um acidente involuntário leva as pessoas à cadeia.
O acidente foi causado porque os “porcos imperalistas” não ligaram o “transponder”, foi o laudo final das investigações. Ora, uma grande porcentagem dos aviões que voam no Brasil nem sequer têm esse equipamento. Muitos só têm velocímetro, temperatura do óleo, conta-giros, altímetro e “bolinha” (um nível igual ao de pedreiro), ou seja, um painel mais espartano do que o de um automóvel, e nem por isso são equipamentos que representam perigo à segurança aérea. Pássaros, balões e outros obstáculos precisam ser monitorados e evitados, fazem parte do controle de tráfego.
Cada equipamento precisa de treinamento adequado. Assim precisamos de alguns dias para “vestir” o veículo quando trocamos de carro, os pilotos precisam de algum tempo para um total domínio de um novo avião. É preciso fazer o “ground school” (treinamento teórico) e treinamento em simulador. Horas de vôo no equipamento também ajudam.
De quem é o dolo? O acidente não foi intencional, não houve dolo, todos sabemos. De quem é a culpa? Dos pilotos, mas também dos controladores de vôo, do diretores dos órgãos administrativos, dos responsáveis por verbas, dos responsáveis pelo treinamento de controladores e do equipamento, dos políticos corruptos que no passado desviaram valores destinados à aviação, dos professores de inglês dos controladores de tráfego, dos eleitores que votaram mal... É muito fácil achar um Judas para malhar. Um acidente é sempre causado por um somatório de fatores, se formos culpar um elo, deveríamos culpar também todos os responsáveis pela cadeia de acontecimentos.
De quem é a responsabilidade? Da companhia aérea americana, isso ninguém discute, da mesma maneira que quando um carro bate no poste, não se pode responsabilizar o poste. A empresa aérea a única que precisa pagar a conta das indenizações.
O pecado original, não esqueçamos, destrói a idéia de dolo e de responsabilidades. Assim sendo, busca-se o culpado na vã esperança de nos libertarmos de nossos próprios crimes.
Assim, venerado leitor, quando perguntardes por quem os sinos da nossa justiça dobram ao procurar culpados de forma insana, não esqueçais: eles dobram por vós...
O que Adão e Eva fizeram? Um dolo, um ato ilícito, com a intenção de fazer, sabendo que a sua prática era proibida. E do que se trata o pecado original, aquilo que herdamos sem a mínima vontade? É a culpa, um ato praticado de forma não intencional, mas nem por isso menos danoso.
No Brasil, quando tomba um caminhão na estrada, surgem pessoas do nada, como se tivessem brotado do mato e das fendas da estrada para roubar as mercadorias. Se perguntarmos a qualquer uma delas se se julgam ladras, elas dirão que não, pois a “culpa é do camioneiro em dormir no volante, nós só estamos catando para não estragar...”. Em nosso país, a idéia de pecado original, exime a responsabilidade dos atos posteriores.
Os atos que levaram a ele também são redimidos pela catarse da culpa. Quando um motorista atropela uma criança em um bairro de periferia, precisa sair correndo, pois de outra maneira será certamente linchado pelos moradores. Será que as pessoas saem por aí com a intenção de atropelar criancinhas ou é um caso evidente de culpa e não de dolo? A população não quer nem saber da irresponsabilidade dos pais em deixar os filhos na rua ou do Poder Público em não dispor de sinalização. O motorista tem a mácula do pecado original e pronto!
Somos treinados desde crianças a malhar Judas, quando crescemos, não conseguimos agir diferente. Em cada cabeça brasileira soa o sino da sentença de um juiz cruel que exige expiação imediata para que a justiça divina se estabeleça de imediato.
Tudo isso seria apenas um curiosidade da cultura de nosso país se não impregnasse o sistema judiciário também. Depois do acidente do avião da Gol, as pessoas ficaram indignadas com a fuga dos pilotos para os Estados Unidos e com a “insensibilidade” do governo americano em acobertar tais criminosos. Afinal de contas, é deles o pecado original pela morte dos passageiros do Boeing, não só pela barbeiragem nas alturas, mas também pelo fato de serem cidadãos americanos, “porcos imperalistas que vêm nos assassinar por aqui”, na cabeça doentia de muitos de nossos concidadãos.
No entanto, a ALPA, Associação de Pilotos de Linhas Aéreas, advertiu os seus membros dos perigos de se voar no Brasil, esse país de bárbaros em que um acidente involuntário leva as pessoas à cadeia.
O acidente foi causado porque os “porcos imperalistas” não ligaram o “transponder”, foi o laudo final das investigações. Ora, uma grande porcentagem dos aviões que voam no Brasil nem sequer têm esse equipamento. Muitos só têm velocímetro, temperatura do óleo, conta-giros, altímetro e “bolinha” (um nível igual ao de pedreiro), ou seja, um painel mais espartano do que o de um automóvel, e nem por isso são equipamentos que representam perigo à segurança aérea. Pássaros, balões e outros obstáculos precisam ser monitorados e evitados, fazem parte do controle de tráfego.
Cada equipamento precisa de treinamento adequado. Assim precisamos de alguns dias para “vestir” o veículo quando trocamos de carro, os pilotos precisam de algum tempo para um total domínio de um novo avião. É preciso fazer o “ground school” (treinamento teórico) e treinamento em simulador. Horas de vôo no equipamento também ajudam.
De quem é o dolo? O acidente não foi intencional, não houve dolo, todos sabemos. De quem é a culpa? Dos pilotos, mas também dos controladores de vôo, do diretores dos órgãos administrativos, dos responsáveis por verbas, dos responsáveis pelo treinamento de controladores e do equipamento, dos políticos corruptos que no passado desviaram valores destinados à aviação, dos professores de inglês dos controladores de tráfego, dos eleitores que votaram mal... É muito fácil achar um Judas para malhar. Um acidente é sempre causado por um somatório de fatores, se formos culpar um elo, deveríamos culpar também todos os responsáveis pela cadeia de acontecimentos.
De quem é a responsabilidade? Da companhia aérea americana, isso ninguém discute, da mesma maneira que quando um carro bate no poste, não se pode responsabilizar o poste. A empresa aérea a única que precisa pagar a conta das indenizações.
O pecado original, não esqueçamos, destrói a idéia de dolo e de responsabilidades. Assim sendo, busca-se o culpado na vã esperança de nos libertarmos de nossos próprios crimes.
Assim, venerado leitor, quando perguntardes por quem os sinos da nossa justiça dobram ao procurar culpados de forma insana, não esqueçais: eles dobram por vós...
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