sábado, 28 de março de 2009

O Meu Barbeiro e a Sociologia Política

Se fosse possível definir algo pelo seu oposto, o termo “ciência” seria definido como aquilo contrário à “opinião”. Em outras palavras, sociólogos, os novos mandarins, fazem ciência, e o meu barbeiro dá palpites.
Ilustra-se com a parábola do matemático e do arqueiro. O matemático diz ao arqueiro que, teoricamente, ele jamais conseguiria acertar o alvo, pois sua flecha, a cada unidade de tempo, percorreria a metade do espaço necessário, nunca chegando ao seu destino. O arqueiro, em silêncio, retesa o seu arco e, soltando a flecha, acerta o alvo, remetendo novamente o sábio à sua dúvida atroz.
Ou ainda, perguntamo-nos se o superhomem das histórias em quadrinhos, com sua super visão telescópica de raios-X e que vê através das paredes, além da metrópole e além das estrelas não seria apenas um pobre cego, porque, aquele que vê sempre além e mais além, nada consegue ver.
Ao perguntar para o meu barbeiro o que seria política, ele me responderia, ainda que com palavras diversas do seu linguajar simples e peculiar, que é uma simples guerra de pedras e tacapes entre “yahoos” swiftianos. Política, principalmente a terceiromundista, com exceções contadas em miúdo, divide-se em políticos desonestos, os que roubam para o engorde da própria algibeira, e políticos honestos, que roubam para satisfazer o seu eleitorado e apaniguados, pois nestes confins a patifaria também pode significar sinônimo de honestidade. Qual pode ser a explicação para a ascenção ou derrubada de um presidente em um país fictício? Vontade Popular? Vontades políticas? Ética e amadurecimento da consciência da população? Não: interesses de uma emissora de TV. O meu barbeiro sabe disso, mas os cientistas, não. O que acontece na realidade não cabe nas linhas de texto, pois aqui o “paper” não muito se diferencia do papel em branco.
A sociedade é conflito, dizem os cientistas. Entre ricos e pobres, sábios e ignorantes, fortes e fracos. Perguntando ao meu barbeiro, ele só quer uma coisa, pagar menos impostos, ou, pelo menos, que os impostos que ele paga sejam mais bem empregados. Se com ele elaborássemos a questão, ele nos escancararia uma luta entre, valendo-nos dos termos elaborados pela biologia, hospedeiros, aqueles que pagam impostos, e parasitas, aqueles que deles se beneficiam. Sim, porque todos sabemos que são castas diferentes. Existem empresários, profissionais liberais e empregados do setor privado que apenas pagam, e toda uma burocracia, muitas vezes corrupta e desnecessária, que se locupleta.
E por que os cientistas se afastaram tanto dessa obviedadade? Porque se admitissem que a política é chão e imediata, não teriam motivo pelo qual justificar a sua existência, pois a prática do tiro e o treinamento de pugilismo seriam ciências mais eficientes para enumerar e estabelecer as práticas do poder. E se descobrissem que a guerra de classes não existe, porém, como oposição ao declínio de qualquer outro conflito abstrato, ocorre uma disputa de castas que se procede entre hospedeiros e parasitas, teriam que contestar a própria existência do Estado, que dá provento estrutural e financeiro para a subsistência diária de tal sapiência vazia.
Assim, por mais que a opinião do meu barbeiro, mesmo reles, plebéia e inconsistente, pareça vã, tenho certeza que ele julga os fatos de maneira tão honesta quanto corta o meu cabelo.

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