terça-feira, 28 de agosto de 2007

Histórias Bizarras nº 1

Eu nunca acreditei em fantasmas. Eles não existem, certo? Fruto da imaginação! Deixem eu contar algumas histórias, então.

Eu tive uma infância que poderia ter sido narrada por um Monteiro Lobato. Minha avó, Francisca, que todos chamavam de “Dona Chiquita”, era uma senhora gorda de cabelos brancos, que fazia todos os tipos de bolos e quitutes na sua chácara. Vivia só, com uma empregada, um velho agregado no sítio e um caseiro com sua família. No verão, meus pais alugavam duas cabines de vagão-leito do trem e íamos todos, eu, minha irmã e eles, viajando durante a noite inteira até a casa de minha vó na cidadezinha do interior. Ao chegar por lá íamos da estação ferroviária até a chácara em uma charrete puxada por um cavalo marrom e branco. As roupas eram lavadas na “sanga” (riacho) e não havia energia elétrica. Para tomar um banho era preciso girar a roda d’água manual para encher a caixa e depois acender o fogo no aquecedor à lenha. A água para beber era de poço que era trazida para casa em dois grandes baldes de alumínio. À noite, meu pai, sentado na rede, ouvia o “Repórter Esso” no rádio de pilhas e depois todos jogávamos canastra sob a luz de um velho lampião a querosene.
Em outras palavras, nas minhas férias de infância, só faltou mesmo o Visconde de Sabugosa e a boneca Emília.
A casa da chácara era antiga, década de 30 ou 40, não sei, em formato de L, com um longo corredor. De vez em quando aparecia uma raposa andando pelo teto e todos na casa acordavam no meio da noite para matar o bicho, pois naquela época isso ainda não era politicamente incorreto.
Como ainda não havia capela mortuária na cidadezinha, muitos foram velados na sala da casa. Não sei se coincidência ou não, mas fatos estranhos aconteceram e acontecem até hoje por ali.
Essas histórias foram meu batismo no mundo do bizarro.

Por exemplo, na sala, tinha uma lareira com um relógio de pêndulo pendurado na chaminé, marcando com seu ritmo um tempo que passava devagar. Duas pessoas, em ocasiões diferentes, já viram uma velhinha curvada olhando para dentro dessa lareira, de modo que quando eu era criança, sempre que tinha que passar pela sala em direção aos quartos, ficava com medo que a tal velhinha aparecesse para mim, mas isso nunca aconteceu.
O que aconteceu, isso sim, anos mais tarde, foi com o meu pai, ateu convicto e que fazia zombaria de crenças e supertições. Todos tinham ido à cidade e ele tinha ficado sozinho na chácara naquele dia e estava com o neto no colo, caminhando no pátio, quando olhou para dentro da casa e viu uma mulher por lá. Então, pensou para ele mesmo em não falar nada para não assustar o menino, mas logo, meu sobrinho pequeno perguntou: “vô, quem é aquela mulher lá dentro de casa...?”
E não é só isso. A chácara, no momento em que escrevo, pertence a uma ex-cunhada que, seguindo a tradição de minha avó, mora sozinha por ali. Ela conta que levou uma prima para pernoitar na casa e durante toda a noite algo puxava as cobertas, deixando a visita descoberta continuamente. E mais uma. Meu pai sempre sentava em uma cadeira de balanço antiga, uma daquelas de madeira vergada, que tem por lá. Diz a minha ex-cunhada que já viu a cadeira balançar sozinha...

Uma amiga relatou histórias parecidas que se passaram com ela. K., tinha alugado uma casa em Fortaleza e durante a mudança fez amizade com a vizinha de muro. No dia seguinte, a vizinha perguntou:
- E então, K.? Gostou da casa?
- Gostei, só que tem muitos ratos.
- Não, são ratos, não. Você vai ver.
Na noite seguinte, o irmão de K. foi dormir na casa dela, cada um no seu quarto, na sua rede. De manhã, ela reclamou com o irmão:
- Olha! Eu quase me levantei para reclamar com você de tanto barulho. Por que não parou de caminhar a noite toda?
- Eu? – protestou o irmão – Eu pensei que fosse você caminhado.
No período que ela morou ali, conta que todos os dias ouvia ruídos de todo o tipo na casa.
Para finalizar, recebeu a visita de uma amiga e sua filhinha. Em um momento, a criança ficou olhando para uma parede. Quando os adultos perguntaram o que ela tanto olhava, ela respondeu que era para a menininha que estava ali. Conversando com a vizinha depois, K. recebeu mais uma informação chocante: naquela casa havia mesmo morrido uma menininha.
(continua nas próximas semanas)

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