terça-feira, 27 de março de 2007

Opinião: Volta, Voltaire!


Parece que a cada semana a imprensa brasileira se cala com mais uma arbitrariedade da justiça. E não falo dessas que deixam os criminosos nas ruas e os políticos rindo do povo, estou falando das que dizem respeito à liberdade da própria imprensa, valor que deveria ser inatacável e que se não for defendido compromete a democracia e dispara tiros no pé da imprensa em si.
Desta vez o Poder Judiciário atentou contra o blog Imprensa Marrom , decidindo em primeira instância que os comentários postados são de responsabilidade do blogueiro.
Baseados nessa mesma jurisprudência, devemos supor que se escreverem “Governo Ladrão” no muro da sua casa, você deve ser considerado um terrorista perigoso. Se alguém ofender outra pessoa em um chat, este deve ser fechado e se você repassar um e-mail ofensivo, você e todos seus amigos e amigos deles serão incriminados.
Quase que ao mesmo tempo no Amapá, a Justiça Eleitoral intimou outra blogueira, Alcinéa Cavalcanti a remover ofensas contra o senador José Sarney. Tudo bem, isso acontece, afinal, quem é que acredita que juízes e senadores precisem seguir o Artigo 5o, parágrafo IX de nossa constituição federal que diz textualmente “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”?
O filósofo francês Voltaire já falava “Não concordo com o que dizes,mas defenderei até a morte o teu direito de os dizeres”.
Tola afirmação para o Brasil.
Cada vez que se fala de coisas positivas de outros países nos acusam de xenomaníaco ou entreguista, mas vou correr o risco só para provar que estes não são fatos isolados ou do momento.
Por que nos Estados Unidos pode-se comprar a revista High Times que ensina a plantar maconha no armário da cozinha e por aqui a banda Planeta Hemp é presa por fazer apologia às drogas?
Por que já há 40 anos os hippies da Inglaterra podiam dizer que os policiais eram repressores e a rainha era uma vaca e ainda oferecerem flores para os zangados policiais “repressores” sem que nada fosse feito? Por que motivo não se pode mostrar um simples dedo para um policial brasileiro?
E falando ainda de há quase meio século, por que os jovens deste lado do Atlântico podiam queimar a bandeira americana em protesto contra a guerra do Vietnam, sem conseqüência alguma?
E por que os americanos podem fazer um filme em que Jesus desce da cruz para se casar e nós não podemos chutar uma santa católica na TV?
E por que eles podem organizar grupos neonazistas e aqui não se pode fazer comunidades de ódio racial?
Veja-se bem, não prego o ódio racial, uso de drogas ou o fanatismo religioso, pessoalmente, acho simples idiotices, mas o fato de não concordar, com o que os outros pensam, não quer dizer que eles não tenham o direito de falar o que bem entenderem, senão, como diria o Millôr Fernandes, aqui no Brasil o livre-pensar será para sempre apenas pensar.
E muito mais, a Constituição poderá ser usada como papel higiênico e a sociedade brasileira poderá voltar às trevas da barbárie sem o menor esforço.