Telefonema
Ontem me telefonou o Ricardo, um amigo carioca que mora em Fort Myers, na Flórida.
Lembrei dos meus tempos de saudosista do Brasil. Eu sempre dizia por lá que na América é tudo “oroméric”: os carros são “automatic”, as portas são “automatic”, as pessoas são “autometic” (may I take your order?/ may I take your order?/ may I take your order?...)... A comida é meio artificial. Quando se dirige tem que parar em tudo que é sinal de “Pare”, o que é um saco (e na minha visão de brasuca, perfeitamente dispensável). Não tem atendimento gratuito em hospitais. As pessoas não se reúnem para almoço de domingo. A higiene por aqui é melhor. O americano médio é grosseiro e pouco instruído. Enfim, tem um monte de coisas que a gente sente falta do Brasil no dia-a-dia, apesar de que falando assim parecerem bobagens.
Daí comecei a indagar as queixas do meu amigo que um dia quer voltar prá nossa terrinha. “A gasolina por aqui está uma fortuna! US$4,40 o galão!” Calculei rapidamente – menos de R$1,60 o litro. E ninguém vai reeleger o presidente com preço tão absurdo. E o salário-mínimo por lá é mais de três vezes o nosso.
Então ele reclamou do preço dos imóveis que caíram, pois a crise tá braba por lá. Perguntei sobre o apartamento que ele havia comprado: ele já vendeu e, aproveitando o preço baixo, financiou uma casa de 160 mil dólares. Diga-se de passagem, não conheci o imóvel, mas uma casa americana normal tem garagem ampla, ar condicionado central, carteiro que traz – e leva também - correspondência na caixinha em frente ao gramado impecável, polícia que dispersa qualquer bagunça de adolescentes, carrocinha que recolhe cachorros vadios, ruas sem buracos, enfim, não é só a casa, mas toda a estrutura que o país oferece.
Amigo milionário na Flórida? Antes que o leitor interprete mal: ele é zelador de um campo de golfe e a esposa, enfermeira, aqui a renda familiar seria o quê? Uns R$1.500,00?
O que vai acontecer dentro de dez anos? A crise vai passar, os Estados Unidos continuarão sendo o maior mercado consumidor do mundo, a maior potência militar, o maior produtor de patentes e royalties. Tudo isso se baseando em idéias simples: respeito à livre iniciativa e interferência mínima do estado no cotidiano do cidadão, manutenção da lei e da ordem que são para todos e não para poucos, previsão de acontecimentos e provisão de infra-estrutura.
E dentro de dez anos, o que será do Brasil? A violência continuará crescendo. Os cachorros vadios continuarão pelas ruas. Adolescentes continuarão bebendo e atropelando pedestres nas calçadas e não respondendo por isso. Escândalos políticos ainda predominarão nos jornais. Os direitos básicos do indivíduo continuarão sendo desrespeitados de todas as maneiras.
E a economia, afinal, não entramos num ciclo virtuoso? Não creio, essa prosperidade alardeada na mídia é só vôo de galinha. O que é básico não está sendo resolvido. A carga tributária das empresas é cada vez maior. A infra-estrutura continua precária. A qualidade do ensino é muito baixa, sem entrarmos no mérito da educação como um todo. A desonestidade e o jeitinho brasileiro continuam predominando.
Assim, quando o Ricardo me perguntou o que eu achava de eles voltarem para o Brasil, o que eu poderia dizer, como amigo? Disse para ele ficar por lá, ora. Que ele e a esposa venham uma vez por ano matar a saudade de comer paçoca de amendoim e visitar os parentes, tudo bem, mas construir um futuro por aqui, podendo viver em um lugar melhor, pra quê?
Lembrei dos meus tempos de saudosista do Brasil. Eu sempre dizia por lá que na América é tudo “oroméric”: os carros são “automatic”, as portas são “automatic”, as pessoas são “autometic” (may I take your order?/ may I take your order?/ may I take your order?...)... A comida é meio artificial. Quando se dirige tem que parar em tudo que é sinal de “Pare”, o que é um saco (e na minha visão de brasuca, perfeitamente dispensável). Não tem atendimento gratuito em hospitais. As pessoas não se reúnem para almoço de domingo. A higiene por aqui é melhor. O americano médio é grosseiro e pouco instruído. Enfim, tem um monte de coisas que a gente sente falta do Brasil no dia-a-dia, apesar de que falando assim parecerem bobagens.
Daí comecei a indagar as queixas do meu amigo que um dia quer voltar prá nossa terrinha. “A gasolina por aqui está uma fortuna! US$4,40 o galão!” Calculei rapidamente – menos de R$1,60 o litro. E ninguém vai reeleger o presidente com preço tão absurdo. E o salário-mínimo por lá é mais de três vezes o nosso.
Então ele reclamou do preço dos imóveis que caíram, pois a crise tá braba por lá. Perguntei sobre o apartamento que ele havia comprado: ele já vendeu e, aproveitando o preço baixo, financiou uma casa de 160 mil dólares. Diga-se de passagem, não conheci o imóvel, mas uma casa americana normal tem garagem ampla, ar condicionado central, carteiro que traz – e leva também - correspondência na caixinha em frente ao gramado impecável, polícia que dispersa qualquer bagunça de adolescentes, carrocinha que recolhe cachorros vadios, ruas sem buracos, enfim, não é só a casa, mas toda a estrutura que o país oferece.
Amigo milionário na Flórida? Antes que o leitor interprete mal: ele é zelador de um campo de golfe e a esposa, enfermeira, aqui a renda familiar seria o quê? Uns R$1.500,00?
O que vai acontecer dentro de dez anos? A crise vai passar, os Estados Unidos continuarão sendo o maior mercado consumidor do mundo, a maior potência militar, o maior produtor de patentes e royalties. Tudo isso se baseando em idéias simples: respeito à livre iniciativa e interferência mínima do estado no cotidiano do cidadão, manutenção da lei e da ordem que são para todos e não para poucos, previsão de acontecimentos e provisão de infra-estrutura.
E dentro de dez anos, o que será do Brasil? A violência continuará crescendo. Os cachorros vadios continuarão pelas ruas. Adolescentes continuarão bebendo e atropelando pedestres nas calçadas e não respondendo por isso. Escândalos políticos ainda predominarão nos jornais. Os direitos básicos do indivíduo continuarão sendo desrespeitados de todas as maneiras.
E a economia, afinal, não entramos num ciclo virtuoso? Não creio, essa prosperidade alardeada na mídia é só vôo de galinha. O que é básico não está sendo resolvido. A carga tributária das empresas é cada vez maior. A infra-estrutura continua precária. A qualidade do ensino é muito baixa, sem entrarmos no mérito da educação como um todo. A desonestidade e o jeitinho brasileiro continuam predominando.
Assim, quando o Ricardo me perguntou o que eu achava de eles voltarem para o Brasil, o que eu poderia dizer, como amigo? Disse para ele ficar por lá, ora. Que ele e a esposa venham uma vez por ano matar a saudade de comer paçoca de amendoim e visitar os parentes, tudo bem, mas construir um futuro por aqui, podendo viver em um lugar melhor, pra quê?
Um comentário:
O disco "Automatic for The People" do R.E.M. tem esse nome em homenagem a um restaurante de Athens, GA, cujo lema é esse. É que o proprietário do restaurante trabalhou num McDonald's da vida e foi instruído assim: "Quem quer ser bem atendido vai a um restaurante. Aqui você tem que ser automático para as pessoas." Ele achou curioso e acabou adotando como lema. Conheci o restaurante (simples, mas muito bom) em fevereiro de 2002. Virou atração entre os fãs do R.E.M.
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