terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A Arte da Gerência 2 – The Cargo Cult

Durante a segunda guerra mundial, a marinha americana tomou diversas ilhas do pacífico que tinham posição estratégica, o que interferiu enormemente no meio de vida nas populações de selvagens que ali viviam. Para minimizar o impacto de sua presença, traziam bens e suprimentos para os indígenas em constantes carregamentos aéreos.
Ao final da guerra, os americanos pararam de prover esses carregamentos. Alguns anos mais tarde, os antropólogos verificaram o surgimento de uma nova religião em diversas ilhas do pacífico que nunca tiveram contato entre si, o “cargo cult” (culto ao cargueiro). Os selvagens, tentando imitar as ações dos brancos construíam choupanas com estacas no alto imitando antenas de rádio, criavam descampados para imitar as pistas de pouso e falavam contra caixotes de madeira, tentando fazer com que os deuses mandassem do céu aquela mesma abundância de comida que já tinham presenciado.
Em qualquer empresa existe muito de “cargo cult”, as pessoas têm a tendência de executar coisas inúteis e sem sentido apenas porque sempre viram fazer e já observaram funcionar outras vezes. Das coisas mais difíceis para um administrador é identificar e transformar esses cultos infrutíferos em atividade produtiva.
Atitudes simples, como convencer as recepcionistas a cumprimentarem as pessoas que entram no prédio é uma tarefa árdua, pois afinal “nas outras empresas ninguém faz isso” ou “nunca cumprimentei e sempre funcionou...”
As folhas de ramais telefônicos normalmente são outro “cargo cult”. Normalmente são uma lista com os ramais dos diretores acima e os demais ramais a seguir. Cada vez que se precisa de um telefone, é preciso ficar procurando em uma lista enorme, sem qualquer grafismo mais inteligente que permita achar rapidamente o número desejado. Sugestão: eu organizo os ramais da empresa em que trabalho pela sua posição no prédio, subsolo abaixo último andar acima, quem senta mais à direita aparece mais à direita na lista e assim por diante, de modo que a procura fica mais intuitiva.
Eu nunca encontrei um comércio que investisse no visual do estacionamento. A gente chega de carro no supermercado, cheio de vontade de comprar e se depara com aquele verdadeiro calabouço medieval que são as garagens. Nada de plantas, nada de cores, nada de televisores anunciando ofertas e nem atendentes para nos entregar jornais de oportunidades. Imagine-se quanto as lojas perdem apenas porque repetem o que todos os outros fazem.
A lista de exemplos possíveis é enorme. A identificação e correção dos atos sem sentido é uma das principais tarefas de um profissional da administração, pois todos os “cargo cult” geram problemas que vão interferir no bom andamento da empresa e não adianta nada estarem ali, pois com certeza os deuses dos negócios não vão ter a sua ira aplacada com tais procedimentos.

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