O Neoiluminismo

Por outro lado, bastou um padre colocar uma folha de papel com suas idéias na porta da sua igreja que surgiu uma revolução nos hábitos e costumes de toda uma civilização. O protestantismo surgiu porque era a hora que o capitalismo precisava de expansão e o pensamento católico de condenação da usura e a sua inerente falta de ética à época não serviam mais ao mundo.
Uma segunda necessidade filosófica do capitalismo surgiu com o iluminismo. A liberdade de expressão, liberdade de contratos, o acesso de todos à justiça e a redução do paternalismo estatal se tornaram prementes com o surgimento da Revolução Industrial.
Estamos vivendo uma nova revolução, a revolução tecnológica e, portanto, podemos esperar uma nova revolução no pensamento. Ela estaria ocorrendo? Onde?
Ao meu ver, Domenico di Masi é um dos primeiros pensadores dessa nova era que promete uma certa mistura de produção de riqueza com um benefício social amplo e para uma grande maioria. Seria esta mais uma das tantas quimeras impossíveis com que a humanidade já sonhou? Aparentemente, não. De fato, tudo indica que a riqueza está mesmo cada vez mais abandonando os detentores dos meios de produção e migrando para os detentores do intelecto.
Como isso acontece na prática? As filosofias do capitalismo sempre buscam a consolidação da riqueza. A pergunta que deve ser formulada é de como um povo pode se tornar mais rico. Dessa maneira, para um cidadão do século XVI, ser rico era ser honesto. O século XVIII, por sua vez, foi o século da liberdade (e de suas caricaturas, a igualdade e a fraternidade). O que nos espera para o século XXI? O que é ser rico para nós?
Eu não gostaria de cair no lugar-comum de afirmar que este será o século da educação, porque isso não é verdade. Cuba é o exemplo que nem todos os países com bom nível de escolaridade respondem com progresso.
Ao meu ver, a ética deste neoiluminismo será a ética da criatividade e será preciso todo um sistema de pensamento para esse fim. Estão aí o Google, o Skype e os automóveis Flex para provar isso. Assim como um dia o capitalismo foi baseado na confiança e na honradez dos contratos e poucos séculos depois, na liberdade para pensar e empreender, o que vale para o nosso tempo são as idéias que possam ser transformadas em produtos.
Veja-se bem, assim como não é verdade que as idéias de honestidade foram criação dos protestantes ou que as de liberdade foram inventadas pelos enciclopedistas, a criatividade é uma qualidade humana, universal, o que vai nos diferenciar não é o fato de a valorizarmos, mas sim de estarmos nos encaminhando para criar uma nova ética.
Como valorizar alguém que cria? Como proteger a propriedade intelectual? Como distribuir a criação por entre os seus vários criadores? Como metodizar a criação? Como estabelecer parâmetros de qualidade entre uma criação e outra similar?
Parece que por essas perguntas é que no futuro vamos ser conhecidos como participantes desse momento em que vivemos.
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