segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Carros Versus Ônibus


Vou escrever uma coisa que ninguém, mas ninguém mesmo, concorda comigo, mas nem por isso, deixo de acreditar que seja verdade: transporte coletivo é anti-democrático!
Em primeiro lugar o argumento mais grosseiro: apenas um imbecil defende a idéia de que andar de ônibus é melhor do que andar de carro. Ponto final. Se andar de ônibus fosse bom, os senhores vereadores que aprovam leis, andariam de ônibus, mas não, eles andam de automóvel. Se metrô fosse bom, os juízes do supremo, o ministro dos transportes e os nossos embaixadores de carreira, andariam de metrô, mas não. Eles andam de carro. Só por isso, já podemos perceber que existe alguma coisa errada na idéia de defender que uma parcela da população viaje espremida e outros poucos privilegiados trafeguem ouvindo música e sob ar-condicionado. Os que defendem o ônibus, o defendem só para os outros, para eles próprios, não.
Adianta o metrô para a população pobre? Como, se o simples ato de divulgar o projeto, já cria uma especulação imobiliária em volta da área que expulsa para bem longe todos os pobres que seriam beneficiados?
É óbvio, além do conforto do carro, existe a liberdade de rotas e horários. Menos doenças contagiosas. Menos perda de tempo. Menos risco de furtos. Menos dependência de funcionários que podem entrar em greve. Menos frio, calor e chuva. Mais possibilidade de carregar objetos e crianças. Menos caminhadas nas conexões...
Existe ainda a questão de logística para o país. O transporte privado é como uma espécie de Internet viária: não pode ser detido, pois está distribuído em infindos usuários. Não seria qualquer grevezinha que pararia a cidade. Os impostos não precisariam ser drenados em um custo que deveria ser individual. As seguranças econômica e de infraestrutura seriam muito maiores para o país.
Ora, direis, “mas as cidades já estão no limite de tráfego, como então fazer?”. Bem, Curitiba é a capital brasileira com mais carros per capita, chegando perto de um por habitante. Em primeiro lugar, é justamente uma das cidades brasileiras onde o tráfego melhor flui, colocando por terra o argumento de que o problema é o número de automóveis. O problema é falta de investimentos em vias e falta de viadutos, revisões de tráfego, estacionamentos, coordenação de semáforos, educação no trânsito, etc. Só para comparar, no sul da Flórida, local onde existem mais de dois carros por habitante, ou seja, quase três vezes mais do que na cidade brasileira mais motorizada, os engarrafamentos não são maiores do que por aqui. E olhe que por lá o trânsito é formado por gigantescos Hummeres e Cadillacs.
Uma vez, li no Janer Cristaldo (link ao lado) que essa é a diferença do pensamento americano para o do latino. Quando um latino vê alguém dirigindo um carrão, ele pensa: “preciso fazer algo para que esse privilegiado também caminhe, como eu!”, mas quando um americano vê alguém com um carrão, ele pensa: “preciso pensar em algo para que todos possam ter um carrão também!”.
Esse é o cerne da questão. Quando um político se vangloria que melhorou o transporte público, ele está simplesmente sendo um cínico, um canalha classista. Ele não quer o melhor para todos, mas sim dividir ainda mais a sociedade entre os que têm e os que não têm.
E, falando de Curitiba novamente, veja só que interessante: o atual prefeito daqui privilegiou enormemente o transporte individual. Em três anos, criou vários dos aqui chamados “binários” (vias rápidas de sentido único), reservou grandes áreas de estacionamento nas novas construções, abriu novas ruas em pontos embolados de trânsito, acabou com o estacionamento em uma rua do centro que vivia engarrafada sob protestos dos lojistas... e está com 78% de aprovação do eleitor para o próximo ano.
Será que a imagem de felicidade que a população tem em sua cabeça é mesmo a de andar de ônibus e metrô, como propagam os nossos políticos elitistas ou, como dizia aquela propaganda de carro, precisamos rever os nossos conceitos?

Nenhum comentário: