terça-feira, 4 de setembro de 2007

Histórias Bizarras (2)


Fiquei craque em reconhecer o tipo de casa mal-assombrado na época em que trabalhei como auxiliar de um avaliador de imóveis no sul do estado da Flórida. No período de um ano, devo ter fotografado a fachada de umas mil casas e entrado em pelo menos umas trezentas, fazendo também medições e croquis. Visitava desde apartamentos de 1,5 milhão de dólares, até cortiços dos bairros pobres de Miami. Com esta minha larga experiência em visitar imóveis, posso arriscar um palpite: uns dois, três por cento têm alguma coisa de estranho.
Fui visitar uma casa que estavam por vender em Miami. Como eu não tinha a chave, pulei a cerca de madeira e fiz medições externas, fotografando também alguns cômodos por fora das janelas. Era uma casa bonita, de esquina, com piscina, bem típica da região. Sentei-me na varanda para rabiscar melhor a planta-baixa. Quando estou concentrado fazendo isso, levo um susto: a veneziana bateu com violência, como se alguém tivesse dado um chute. “O vento”, pensei na hora. Em menos de meio minuto, comecei a ouvir um choro de bebê vindo de dentro da casa abandonada. Novamente tentando racionalizar, pensei comigo mesmo “é no vizinho”. Saí pelo portãozinho, virei a esquina e fui olhar a casa ao lado. Estava para alugar! Vazia também. O que eu fiz? Peguei o meu material de trabalho, entrei no carro e fui terminar o croqui uma quadra adiante... Ficar lá sozinho? Nem a pau!

Nos filmes de fantasmas, as pessoas ficam com frio quando estão perto das entidades, mas não é assim que acontece, a sensação é diferente, na verdade são os cabelos da nuca que vão ficando arrepiados, junto com os pêlos do antebraço e da parte de trás das pernas. É uma sensação de pele, mas não de frio. Por outro lado, como nos filmes, casas mal-assombradas são casas bonitas e decadentes. Isso é verdade, em via de regra, ainda que existam exceções.

A literatura sobre assombrações (sim, existe literatura sobre o assunto!) fala que elas aparecem em três tipos distintos: seres humanos, seres não-humanos e reconstituições históricas. Os seres não-humanos são aquelas criaturas que parecem saídas dos filmes do Harry Potter, pequenos demônios e outros seres assustadores.
Muitas pessoas relatam que viram cenas antigas passando diante dos seus olhos, uma batalha, por exemplo, como se fosse a reprodução de um vídeo. No entanto, o mais comum, e o primeiro que pensamos quando falamos em fantasmas, parecem ser as entidades com aparência humana.
Os estudiosos também nos informam dos locais mais comuns de se encontrarem assombrações: teatros, hospitais, cemitérios hotéis e escolas. Na Internet, existem webcams em locais famosos por seus fantasmas, muitas dessas páginas possuem galerias de fotos bem aterradoras.

B., Um amigo carioca que morava na Flórida conseguiu um emprego maravilhoso, vigia noturno de uma escola. Como o nível de violência e vandalismo por lá é muito baixo, o trabalho dele consistia em pegar um carrinho de golfe e de vez em quando fazer rondas pelo terreno. Emprego ideal para o adolescente que ele era na época. Uma bela noite ele convenceu um outro amigo a se divertir com ele: ficaram contando piadas, pegavam o carrinho, manobravam perigosamente pelas ruas desertas e assim por diante. Lá pelas tantas da madrugada, viram um arbusto se mexer. Os dois estavam absolutamente sozinhos na escola, mas quando começaram a se aproximar ouviram um bando de crianças gargalhar. O visitante olhou para o vigia e disse: “Meu amigo, vou para minha casa dormir...” e ambos saíram correndo. No dia seguinte, B. pediu demissão. Eu conheci os dois protagonistas do evento e ambos me contaram a mesma história, com todos os detalhes e em ocasiões diferentes, de modo que me pareceu um relato verdadeiro.

Cotejando ainda a teoria de os hotéis serem locais sinistros, presenciei um fato interessante quando trabalhava como recepcionista noturno em um hotel na cidade de Fort Lauderdale. Estava trabalhando sozinho quando um hóspede chegou até a recepção e disse que queria mudar do quarto 114. Perguntei qual era o problema e ele falou da maneira mais séria do mundo: “- É que aquele quarto está amaldiçoado!”. Tive de me segurar para não rir, mas como eu tinha uma certa prática em lidar com hóspedes malucos e como o hotel estava lotado, convenci-o a ficar por ali mesmo.
Uns 10 dias depois, chegou um outro hóspede na recepção e me falou que estava no quarto 114 e que queria mudar de quarto. “- Por quê?”, perguntei. “Porque tem um poltergeist por lá!”. Desta vez, não achei engraçado, simplesmente dei a chave de um outro quarto.
Interessante, não? Dois hóspedes que não se conheciam fizeram reclamações similares e totalmente amalucadas sobre o mesmo quarto. E não parou por aí!
O 114 ficava ao lado da salinha de “break” dos funcionários, onde tinha uma mesa e uma pequena cozinha. Normalmente eu levava um lanche para esquentar no microondas. Algumas semanas depois desses relatos acima, o rapaz da manutenção pegou uma TV de um dos quartos que estava sendo reformado e colocou naquela salinha. De repente, quando estava ajeitando a minha janta, a TV ligou sozinha! E isso, para o meu terror, se repetiu vários dias seguidos. Dá para imaginar? Eu era o único empregado do hotel naquele horário, entrei em uma cozinha e de repente a TV começou a funcionar sem qualquer comando da minha parte. O fenômeno só parou depois de vários dias, quando fechei o buraco do sensor do controle remoto com papel, o que afastou a possibilidade de maus espíritos. Imagino que era ação das lâmpadas fluorescentes da sala que interferiam com o controle, mas que assustou bastante, ah, isso sim assustou. Serviu, no entanto, para que eu conhecesse um pouco mais de mim mesmo: eu prefiro enfrentar fantasmas a ficar sem jantar!

Leia também Histórias Bizarras (1),
clicando aqui.

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