quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Histórias Bizarras (5)


Eu e um amigo começamos a descida do Pico da Bandeira, na divisa entre Minas e Espírito Santo as 5 da tarde. São seis horas de caminhada por uma estrada de terra até a cidadezinha de Alto Caparaó. Estávamos confiantes em uma pequena lanterna, mas uma hora depois de anoitecer completamente a lâmpada queimou. A noite estava tão escura no Parque Nacional do Alto Caparaó que tínhamos de caminhar olhando para cima, pois não conseguíamos ver o caminho. Para sabermos que estávamos no meio da estrada, víamos a copa das árvores que havia nos dois lados se fechando sobre nós. No meio, víamos a faixa de estrelas e percebemos que podíamos caminhar muito bem apenas ficando sob a linha de encontro das duas copas. Funcionou muito bem, por incrível que pareça, em várias horas de caminhada no escuro. nenhum de nós dois sequer tropeçou.
Eu caminhava na frente e meu amigo atrás. Lá pelas tantas, na distância de um braço esticado, vi um homem baixinho e gordinho, 1,30m mais ou menos, com imensos olhos e usando um chapéu coco parado no meu caminho.
Em desenho animado, para indicar que os personagens estão apavorados, os cabelos da cabeça se arrepiam. Foi exatamente isso que aconteceu, senti meus cabelos se arrepiarem! Dei alguns passos para trás e perguntei ao meu amigo o que seria aquilo. Resolvemos contornar, nos afastamos uns dois metros para o canto da estrada e ultrapassamos aquele obstáculo assustador. Ouvimos ruídos de um animal caminhando e se afastando lentamente e chegamos à conclusão que deveria ser um terneiro desgarrado, um cavalo ou algum outro animal e que na escuridão a nossa mente cansada de um dia inteiro de caminhada criou uma imagem esquisita. Pode ter sido uma onça e levamos uma sorte danada de ela não nos atacar, mas é uma suposição que nunca vou confirmar.
Tudo teria ficado como um incidente cômico se alguns anos depois eu não tivesse feito amizade com um senhor do Centro-Oeste que tinha sido caminhoneiro e participado de um número sem-fim de pescarias no Pantanal mato-grossense e na Amazônia. Contei essa história para ele e ele sem vacilar falou: “- Ah, é o Rei-do-Mato!”. “- O quê?”, perguntei. “- O Rei-do-Mato, bem isso que você falou: um sujeito baixinho, de chapéu e de olhos grandes que vive no meio do mato. Sorte vocês não mexerem com ele senão teriam levado uma surra de entortar!”
Interessante. Eu vi uma figura do folclore brasileiro! Parece que mais gente se encontrou com uma vaca no escuro e criou imagens na sua cabeça...

Vi o Boitatá também.
Estava viajando de ônibus à noite, na BR116, se não me falha a memória no trecho de Santa Catarina. Perdi o sono lá por uma, duas da manhã e abri um pouco a cortina. De repente, ao lado da estrada vi uma luz verde, do mesmo tom de interruptores domésticos de luz fluorescentes. Era muito forte, como se um poste de luz estivesse aceso e no centro desta luz havia uma rês morta. Algum tipo de reação química havia feito o bicho brilhar no escuro. O ônibus prosseguiu e infelizmente não consegui ver detalhes, mas a luz se espalhava em um círculo de uns 50 cm para fora do animal.
Algum tempo depois li em algum lugar que se trata de um fenômeno natural, fungos fluorescentes ou qualquer coisa parecida, mas que deu origem à lenda do Boitatá.

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