sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Mais Histórias de Aviação.


Devido ao sucesso entre os amigos que fez o texto sobre os meus tempos de piloto que pode ser lido clicando aqui, aqui está o Segurança Aérea II – O Retorno.
Os prefixos dos aviões brasileiros são designados por três letras, antecedidas de PP, para aeronaves públicas e PT, para as privadas. Assim, os aviões recebem apelidos dos mais diversos, como o GSW (Gersow), o NSD (o Nérso), o HOV, que tinha pintura verde e por isso se chamava HO Verde e assim por diante. Depois que quebrei o trem de pouso no incidente que eu relatei na postagem anterior, o HBK passou a ser chamado mui carinhosamente de “Hoje o Bonow Kai”.
O Aeroclube do Rio Grande do Sul tinha na década de oitenta um planador emprestado do antigo Dep. de Aviação Civil, o PP-PAU. Pela manhã, quem ia chegando no aeroclube, tinha que ajudar a empurrar os aviões para fora do hangar e, juro que já ouvi um aluno gritando pro outro: “Ô, Fulano! Vem aqui me ajudar a tirar o PAU prá fora!”.
Quando um motor pára em vôo, a expressão a ser usada é de “perda” do motor. Conta-se que um dia um co-piloto falou para o comandante:
- Comandante, perdemos a turbina 2!
- Afirmativo. Tente novamente acionar!
- Comandante, o senhor não entendeu: PERDEMOS a turbina 2!
A turbina havia caído no mar...
E tem também o diálogo daquele comandante experiente, para o co-piloto novato, pousando em Foz do Iguaçu:
Comandante: “- Já viu a catarata?”
Co-piloto (olhando prá fora): “- Onde? Onde?”
Comandante (abrindo o olho com as mãos): “- Aqui, ó!”
Lembra daquele cara que soltava uma galinha pela janela? Pois é, pelo que eu sei, voava DC-3, nos tempos da aviação heróica. Naquela época, cada aeroporto tinha um cachorro como mascote. Uma das diversões dele era roubar os cachorros e largar em outros aeroportos... Certa vez, tinha um passageiro freqüente, um matuto, que queria porque queria pilotar o avião. Um dia ele amarrou duas cordinhas e passou por baixo da porta da cabine com a seguinte recomendação: “Pronto, agora você pilota o avião, com esta corda sobe e com esta desce.” e, enquanto lá dentro, o co-piloto sacudia o avião de todas as maneiras, o capiau desesperado, sentado no meio do corredor, lutava com as cordinhas para controlar a possante aeronave!
Esta, foi-me contada por um mecânico da FAB: eles estavam pousados com um Avro na Amazônia, carregando caixas de cobras vivas para o Instituto Butantã nos fundos da cabine de passageiros. Quando ele voltou com mais uma caixa, havia uma passageira grávida, encostada nas cobras. Ele, com jeito, tirou a senhora dali e a conduziu para o assento. A senhora então perguntou por que não poderia ficar por ali e ele disse a verdade sobre as cobras. Daí, a senhora desmaiou...
Mais uma de grávida: peguei um avião do Rio para Florianópolis e sentei naquele banco da frente, de cara com a parede da cabine, no assento do meio com um cara sentado no corredor e uma senhora grávida na janela, a minha direita. Na escala em Curitiba, não tinha teto e o avião ficou um tempão voando em “órbita”. Comecei a conversar com o cara e descobri que ele era mecânico de aviação. Conversa vai, conversa vem, lá pelas tantas, começamos a conversar sobre acidentes aéreos: “- Lembra daquele VARIG, na África?” “- E daquele Transbrasil em Florianópolis...?”. E o nosso avião só sobrevoando o Paraná, no meio das nuvens... Lá pelas tantas, olho para o lado e a mulher grávida estava grudada na cadeira, segurando os dois braços da poltrona firmemente, com os pés na parede em frente, dedos dos pés fendidos e olhos esbugalhados... Achamos melhor mudar de conversa.
E naquela reunião de pilotos em que eu estava, todos já meio bêbados naquela altura da noite em que alguém inventou de tocar o disco com o Hino do Aviador que diz: “Contato, companheiro/ Ao vento sobranceiro...”. “- O que que é vento sobranceiro?”, pergunta um. “- É que quando liga a hélice vem aquele vento nas sobrancelhas...”, responde o outro.

Na aviação, noite é considerada a partir do minuto em que o sol se põe, tem um horário fixo, a partir do qual quem estiver em operação diurna corre o risco de levar multa, mesmo que pouse com visibilidade no lusco-fusco do dia. Por isso, quando o congestionado Campo de Marte, de São Paulo, operava só visualmente e diurno, conta-se que volta e meia se ouvia pelo rádio algum piloto pedindo para o controlador: “- Torre Marte, aqui é o PT- qualquer coisa. Devido a um vento de proa, solicito atraso no horário do pôr-do-sol...”

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