B-25
O avião estava bem próximo à costa e tivemos a sorte de ser os primeiros a achá-lo, já que era muito grande a probabilidade de alguém o avistar, desde os tempos da segunda guerra, naquela praia de águas límpidas e cheia de turistas.
No primeiro mergulho já percebemos que o aparelho estava coberto de cracas, o que tornava difícil de vê-lo. Largamos o balão localizador para o pessoal da lancha e limpamos a sujeira do estabilizador vertical para lermos o prefixo. Era um bombardeiro B-25 que devia estar ter caído ali em alguma missão de treinamento ou defesa da costa, pois éramos aliados dos americanos e a guerra acontecera longe, na Europa.
A porta ainda abria. A fuselagem havia tornado-se moradia de inúmeros crustáceos e peixes coloridos, que fugiram em cardume quando nós entramos. Um pouco do sol chegava ao fundo do mar e penetrava pelas janelas sujas de algas, o que dava uma certa claridade no interior do aparelho. Pudemos ver um esqueleto usando o cinto de segurança, ainda sentado no seu posto de telegrafia e com o crânio quebrado. Os ossos estavam ainda empilhados, como se tivessem sido grudados um ao outro, provavelmente por algum tipo de calcificação. Ademais ninguém mais à bordo. Encontramos o avião praticamente intacto, com as portas fechadas, pousado de barriga com razoável precisão no fundo do mar e sem pilotos, navegador ou operadores das metralhadoras. Não encontramos nenhum buraco grande nos vidros ou na fuselagem que permitisse a passagem de algum peixe grande que poderia ter devorado os cadáveres, portanto os ossos deviam estar por ali, só que não estavam.
Demos uma boa olhada, mas não quisemos tocar em nada antes de avisar o consulado. Fechamos novamente a porta e comunicamos o achado à imprensa e ao governo norte-americano.
Ninguém sabia de nada. Aliás, durante a guerra os B-25 estavam ocupados em missões de bombardeio na Europa e na Ásia e não operavam naquela região. Não tinha-se registro de qualquer missão secreta na época envolvendo aqueles aparelhos e era muito pouco provável um desvio tão grande de rota, pois não teriam tido combustível para atravessar o Atlântico. Não havia nem sequer registro do prefixo do avião.
No mergulho seguinte, a estranheza foi maior ainda. Foi enviado um senhor com um forte sotaque, especialista em resgates subaquáticos, uma pessoa totalmente idônea, para mergulhar conosco. Quando entramos no avião, e isso ele poderá confirmar, o telegrafista havia sumido, mas no assento de pilotagem esquerdo estava sentado um outro esqueleto vestido com farrapos do que outrora fora uma jaqueta de couro. Alguma brincadeira macabra, certamente. Procuramos em volta do avião e não encontramos o paradeiro do telegrafista. Resolvemos colocar um lacre na porta para sabermos de futuras entradas no aparelho e subimos para comunicar à polícia a ocultação dos cadáveres.
Nessa altura, a imaginação popular dos moradores das redondezas já havia dado mil e uma explicações sobre o caso. Falava-se de um grupo de homens estrangeiros, com uniforme militar, que nas noites de lua cheia entravam nas festas e dançavam com as moças de uma forma antiga, mais para swing do que para rock e depois se iam, sem conversar com ninguém. Falava-se também que nas noites de tempestade se ouvia um ruído de motor passando rasante por sobre as casas, mas ao olhar-se para fora, podia-se ver apenas a chuva e o vento.
Em um último mergulho, descemos com um bom número de mergulhadores para ajudar na retirada dos ossos e tentar a identificação do cadáver que restava, na esperança de descobrir a origem do vôo. Não conseguimos o nosso intento. Ao chegarmos lá, mais uma surpresa: o avião estava erguido, montado sobre os trens de pouso, totalmente coberto por búzios e algas e, o mais estranho, emitindo um facho vermelho de luz por causa que o farol rotativo estava aceso, depois de décadas na água salgada. Para a estupefação de todos, as hélices começaram a girar sem nenhum ruído e depois de alguns instantes o avião começou a correr no fundo do mar, afastando-se cada vez mais de nós.
No primeiro mergulho já percebemos que o aparelho estava coberto de cracas, o que tornava difícil de vê-lo. Largamos o balão localizador para o pessoal da lancha e limpamos a sujeira do estabilizador vertical para lermos o prefixo. Era um bombardeiro B-25 que devia estar ter caído ali em alguma missão de treinamento ou defesa da costa, pois éramos aliados dos americanos e a guerra acontecera longe, na Europa.
A porta ainda abria. A fuselagem havia tornado-se moradia de inúmeros crustáceos e peixes coloridos, que fugiram em cardume quando nós entramos. Um pouco do sol chegava ao fundo do mar e penetrava pelas janelas sujas de algas, o que dava uma certa claridade no interior do aparelho. Pudemos ver um esqueleto usando o cinto de segurança, ainda sentado no seu posto de telegrafia e com o crânio quebrado. Os ossos estavam ainda empilhados, como se tivessem sido grudados um ao outro, provavelmente por algum tipo de calcificação. Ademais ninguém mais à bordo. Encontramos o avião praticamente intacto, com as portas fechadas, pousado de barriga com razoável precisão no fundo do mar e sem pilotos, navegador ou operadores das metralhadoras. Não encontramos nenhum buraco grande nos vidros ou na fuselagem que permitisse a passagem de algum peixe grande que poderia ter devorado os cadáveres, portanto os ossos deviam estar por ali, só que não estavam.
Demos uma boa olhada, mas não quisemos tocar em nada antes de avisar o consulado. Fechamos novamente a porta e comunicamos o achado à imprensa e ao governo norte-americano.
Ninguém sabia de nada. Aliás, durante a guerra os B-25 estavam ocupados em missões de bombardeio na Europa e na Ásia e não operavam naquela região. Não tinha-se registro de qualquer missão secreta na época envolvendo aqueles aparelhos e era muito pouco provável um desvio tão grande de rota, pois não teriam tido combustível para atravessar o Atlântico. Não havia nem sequer registro do prefixo do avião.
No mergulho seguinte, a estranheza foi maior ainda. Foi enviado um senhor com um forte sotaque, especialista em resgates subaquáticos, uma pessoa totalmente idônea, para mergulhar conosco. Quando entramos no avião, e isso ele poderá confirmar, o telegrafista havia sumido, mas no assento de pilotagem esquerdo estava sentado um outro esqueleto vestido com farrapos do que outrora fora uma jaqueta de couro. Alguma brincadeira macabra, certamente. Procuramos em volta do avião e não encontramos o paradeiro do telegrafista. Resolvemos colocar um lacre na porta para sabermos de futuras entradas no aparelho e subimos para comunicar à polícia a ocultação dos cadáveres.
Nessa altura, a imaginação popular dos moradores das redondezas já havia dado mil e uma explicações sobre o caso. Falava-se de um grupo de homens estrangeiros, com uniforme militar, que nas noites de lua cheia entravam nas festas e dançavam com as moças de uma forma antiga, mais para swing do que para rock e depois se iam, sem conversar com ninguém. Falava-se também que nas noites de tempestade se ouvia um ruído de motor passando rasante por sobre as casas, mas ao olhar-se para fora, podia-se ver apenas a chuva e o vento.
Em um último mergulho, descemos com um bom número de mergulhadores para ajudar na retirada dos ossos e tentar a identificação do cadáver que restava, na esperança de descobrir a origem do vôo. Não conseguimos o nosso intento. Ao chegarmos lá, mais uma surpresa: o avião estava erguido, montado sobre os trens de pouso, totalmente coberto por búzios e algas e, o mais estranho, emitindo um facho vermelho de luz por causa que o farol rotativo estava aceso, depois de décadas na água salgada. Para a estupefação de todos, as hélices começaram a girar sem nenhum ruído e depois de alguns instantes o avião começou a correr no fundo do mar, afastando-se cada vez mais de nós.
A última coisa presenciada por todos foi quando as rodas desgrudaram do leito do oceano e o aparelho sumiu na escuridão das águas límpidas, para nunca mais ouvirmos falar dele.
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