quarta-feira, 25 de abril de 2007

Teatro Grego


Na tragédia grega os heróis tinham apenas duas opções na vida, sendo que qualquer que fosse o caminho escolhido, este o levaria à própria danação pelo abandono da outra possibilidade. A opção era entre cumprir a sua obrigação perante o estado e cumprir os desejos dos deuses, escolhas sempre antagônicas.
Com o advento da civilização cristã, surgiu a possibilidade de uma terceira via, a da redenção. Qualquer um poderia ser perdoado em caso de arrependimento em qualquer momento antes de sua morte. Com o expurgo da culpa, destruiu-se a figura do herói, nenhum líder seria jamais colocado ante o conflito de ter que decidir entre os seus valores éticos e prerrogativas cósmicas por um lado e os deveres daquilo que interessa à sociedade por outro. Os interesses pessoais e os interesses do partido podem suplantar tudo aquilo que tem real valor, desde que exista um arrependimento posterior.
O gênero teatral da tragédia, dizia Aristóteles, é a retratação da vida daqueles que são superiores a nós: os reis, os bravos e os heróis, enquanto que a comédia nos mostra aqueles que estão abaixo do indivíduo médio: o estrangeiro com sotaque, o torto, o bêbado, o desviado, o travestido...
O Brasil é um país cômico, risível, porque é carente de tragédia. Como o maior país católico do mundo, é de nosso feitio aceitar que muitos de nossos líderes não tenham nem ética e nem defendam os interesses de nossa sociedade, esperamos como bons cordeiros apenas que eles um dia se arrependam para que finalmente vejam a luz de Jesus e se não o fizerem, de qualquer forma irem direto para as garras de Belzebu.
Só que isso não é necessariamente verdade. Talvez não exista nem recompensa, nem punição e nem sentido para a vida. E se formos apenas um pó no canto de uma galáxia sem importância, perdidos em um instante fugaz entre o infinito passado e o infinito futuro? Será que o que nos faria grandes e eternos não seria justamente o respeito às grandes leis que regem o cosmos e que fazem nos diferenciar das pedras, das plantas e dos animais? Será que a dignidade, a ética, o respeito ao próximo e a capacidade de superação constante não seriam valores que deveríamos buscar com mais intensidade do que o pensamento do Deus dará, Deus tomará?
E se, no balanço final do grande mistério da vida, existir mesmo um Deus no firmamento, seria isso que temos apresentado como povo que Ele esperaria de nós?

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