segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Crônica: Telefone Público

Uma coisa que não nos ensinam nas escolas da vida é como agir quando acontece de estarmos passando pela rua e tocar o telefone público. Em um belo dia, eu estava indo para o trabalho e lá estava ele, tocando insistentemente, pedindo para que eu atendesse. Não pude resistir e assim o fiz:
- Funerária infantil Fantasminha Camarada, boa morte!
- Co-como? – Respondeu uma voz feminina do outro lado.
- Funerária infantil Fantasminha Camarada, senhora. Como posso lhe ajudar?
- Eu queria falar com o Joel.
- Ele está ocupado. Houve um acidente com uma van escolar e acabamos de receber três pacotes.
- Pacotes?
- Sim, três defuntinhos.
- Mas ontem à noite ele me disse que era técnico de construções!
- Ah, o Joel diz isso prá todas.
- O quê? Escuta, eu preciso muito falar com ele.
- Não pode, tem muito sangue prá raspar e o menino gostava do Batman, ele já deve ter saído prá comprar a fantasia prá vestir o corpo pro enterro.
- Que coisa horrível!
- Horríveis são aqueles terninhos brancos que deixam as crianças parecidas com o Tatoo da Ilha da Fantasia. Coisa cafona. E no acidente teve também duas menininhas gêmeas que vão pro além vestidas de fadinha, a senhora não acha que vai ficar uma graça?
- Como vocês podem fazer isso?
- Com maquilagem pesada, pois com o impacto fica muito deformado.
- Vocês são doentes!
Desligou.
“Que mulher mal educada”, murmurei.
Baixei o telefone e segui o meu caminho com a certeza de ter criado mais uma descrente a respeito do sucesso da raça humana.

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