O Rodamoinho
Uma vez eu e um amigo resolvemos viajar da cidade de Lajeado para Porto Alegre. De Caiaque. 120Km pelo Rio Taquari. Quando partimos, estava chovendo e o rio estava alto e rápido.
O Rio Taquari praticamente não tem praia ou, como se chama no Rio Grande do Sul, é um rio de “barrancas” de uns cinco metros de altura, isso é, se afundassem os caiaques, teríamos que nadar alguns quilômetros até encontrarmos um local para subir a terra.
Depois de umas cinco horas remando sob chuva forte, encontramos um afluente, o Rio Cruzeiro do Sul que na carta náutica (sim, eu tinha um xerox plastificado de uma carta náutica da região, sempre fui organizado nas minhas insanidades!), bem, na carta náutica parecia um corregozinho, mas com toda a inundação havia se transformado em um Amazonas.
Ao cruzarmos o meio desses dois rios, olhei para o lado e falei para o meu amigo: “- Ô, Miguel, acho que erramos o rio, pois estamos descendo e aquele tronco de árvore ali está subindo a correnteza.”
Depois de dez segundos com os olhares de bobos, finalmente caíram as fichas: estávamos no meio de um rodamoinho. Para sair dali, remamos com força e para encurtar a história, acabei virando o barco, perdendo óculos e cantil para as profundezas do Taquari. Agarrei-me no barco do meu amigo e demos a sorte de em menos de cem metros encontrarmos uma rampa para barcos, o que me poupou de uma possível hipotermia que ocorreria até acharmos o próximo acesso ao rio.
Essa história toda é para ilustrar de como em certas situações a gente não consegue enxergar o todo. Quando estamos em uma correnteza, é difícil ver os rodamoinhos e os iminentes perigos.
Às vezes penso que a nossa população está assim, estupidificada no meio de um rodamoinho, sem perceber que a coisa não está maravilhosa como a mídia e os números indicam.
Aumentam as exportações: precisamos mais servidores públicos para cobrarem impostos, alegam os nossos governantes. Encontrou-se um grande lençol de petróleo: aumentemos os empregados da Petrobrás! Arrecada-se mais impostos: aumentemos as benesses para aqueles que não fazem esforço para produzir! O que parece que todos esquecem é que essa cornucópia de belezas terá um fim e os gastos permanentes que ela gerou, não. Um dia vai secar a fonte e, note-se, ela vai secar com toda a certeza, pois moto-contínuos não existem, um dia todos nós teremos que pagar a conta. Historicamente, o capitalismo mundial tem altos e baixo e hoje estamos no alto.
A sementinha que deveria estar sendo plantada para suportarmos os dias frios dos invernos vindouros está apodrecendo à margem das rodovias esburacadas. As casas sem saneamento, as escolas que não ensinam e os aeroportos perigosos podem até ser esquecidos em um momento em que a população embevecida come mais chocolates e compra DVDs, mas estão ali, como uma chaga prestes a gangrenar, antecipando a amputação do nosso futuro.
E o que se vai falar quando os responsáveis por essa semeadura já tiverem transferido a colheita maldita para os seus sucessores? O mesmo que os incautos falam atualmente do governo de Getúlio, mudando apenas a mosca: “- Bom mesmo era no tempo do Lula, o Brasil nunca progrediu tanto!”. As pessoas vão esquecer que as causas de nossa desgraça futura estão justamente na farta distribuição de riquezas produzidas por outros em contraposição ao abandono da criação de infra-estrutura necessária para que as gerações futuras possam galgar os degraus necessários à sua auto-gestão.
Para perceber o rodamoinho não podemos olhar apenas à ponta do caiaque. Sair desse turbilhão é tarefa árdua, é preciso remar com força e correr o risco de virar, mas é necessário, é questão de sobrevivência.
O Rio Taquari praticamente não tem praia ou, como se chama no Rio Grande do Sul, é um rio de “barrancas” de uns cinco metros de altura, isso é, se afundassem os caiaques, teríamos que nadar alguns quilômetros até encontrarmos um local para subir a terra.
Depois de umas cinco horas remando sob chuva forte, encontramos um afluente, o Rio Cruzeiro do Sul que na carta náutica (sim, eu tinha um xerox plastificado de uma carta náutica da região, sempre fui organizado nas minhas insanidades!), bem, na carta náutica parecia um corregozinho, mas com toda a inundação havia se transformado em um Amazonas.
Ao cruzarmos o meio desses dois rios, olhei para o lado e falei para o meu amigo: “- Ô, Miguel, acho que erramos o rio, pois estamos descendo e aquele tronco de árvore ali está subindo a correnteza.”
Depois de dez segundos com os olhares de bobos, finalmente caíram as fichas: estávamos no meio de um rodamoinho. Para sair dali, remamos com força e para encurtar a história, acabei virando o barco, perdendo óculos e cantil para as profundezas do Taquari. Agarrei-me no barco do meu amigo e demos a sorte de em menos de cem metros encontrarmos uma rampa para barcos, o que me poupou de uma possível hipotermia que ocorreria até acharmos o próximo acesso ao rio.
Essa história toda é para ilustrar de como em certas situações a gente não consegue enxergar o todo. Quando estamos em uma correnteza, é difícil ver os rodamoinhos e os iminentes perigos.
Às vezes penso que a nossa população está assim, estupidificada no meio de um rodamoinho, sem perceber que a coisa não está maravilhosa como a mídia e os números indicam.
Aumentam as exportações: precisamos mais servidores públicos para cobrarem impostos, alegam os nossos governantes. Encontrou-se um grande lençol de petróleo: aumentemos os empregados da Petrobrás! Arrecada-se mais impostos: aumentemos as benesses para aqueles que não fazem esforço para produzir! O que parece que todos esquecem é que essa cornucópia de belezas terá um fim e os gastos permanentes que ela gerou, não. Um dia vai secar a fonte e, note-se, ela vai secar com toda a certeza, pois moto-contínuos não existem, um dia todos nós teremos que pagar a conta. Historicamente, o capitalismo mundial tem altos e baixo e hoje estamos no alto.
A sementinha que deveria estar sendo plantada para suportarmos os dias frios dos invernos vindouros está apodrecendo à margem das rodovias esburacadas. As casas sem saneamento, as escolas que não ensinam e os aeroportos perigosos podem até ser esquecidos em um momento em que a população embevecida come mais chocolates e compra DVDs, mas estão ali, como uma chaga prestes a gangrenar, antecipando a amputação do nosso futuro.
E o que se vai falar quando os responsáveis por essa semeadura já tiverem transferido a colheita maldita para os seus sucessores? O mesmo que os incautos falam atualmente do governo de Getúlio, mudando apenas a mosca: “- Bom mesmo era no tempo do Lula, o Brasil nunca progrediu tanto!”. As pessoas vão esquecer que as causas de nossa desgraça futura estão justamente na farta distribuição de riquezas produzidas por outros em contraposição ao abandono da criação de infra-estrutura necessária para que as gerações futuras possam galgar os degraus necessários à sua auto-gestão.
Para perceber o rodamoinho não podemos olhar apenas à ponta do caiaque. Sair desse turbilhão é tarefa árdua, é preciso remar com força e correr o risco de virar, mas é necessário, é questão de sobrevivência.
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