sexta-feira, 17 de agosto de 2007

O Brasil na América


Tem muita gente que gosta de criticar a desinformação dos americanos quando eles perguntam se a capital do Brasil é Buenos Aires (já me perguntaram se o idioma do Brasil era o francês), mas isso é porque não conhecem os brasileiros nos Estados Unidos.
Uma coisa que é engraçada é que o nosso povo é muito mais egocentrista do que o americano. Eles até têm uma certa razão em achar que todo mundo fala inglês, pois tem um monte de gente que realmente fala, mas o brasileiro acredita que consegue ser entendido em português... e o pior que às vezes até consegue.
O Tio, que levava esse apelido por ser tio de um conhecido meu, era servente em um restaurante nos Estados Unidos e não falava nem uma palavra em inglês. Volta e meia, eu passava por ele, e ele estava lá em altos papos com algum americano, gesticulando, ambos dando gargalhadas... Um dia não resisti e perguntei para a hostess do restaurante como é que eles se entendiam e ela me respondeu: “Bonow, não sei como, mas eu entendo tudo o que ele fala!”. É impressionante a capacidade de comunicação não-verbal de algumas pessoas.
E brasileiro falando espanhol? Juro que não é piada, já fui almoçar num restaurante cubano e o cara que foi comigo pediu uma “Cueca-Cuela”. A sério! E também já vi brasileiro dando informação desse jeito: “Vá por este camino e siga toda la vida...”
E tem também aqueles que jamais se integram à cultura estrangeira. Já vi rua sendo fechada por bandos de brasileiros comemorando a vitória na Copa do Mundo. Já vi a polícia batendo em prédios as onze da noite para acabar com forrós. E falsificação de documentos? E golpes em empresas de seguros e bancos? Já conheci até mendigo brasileiro nos Estados Unidos.
Já vi gente se livrando de prisão e deportação só na base do jeitinho brasileiro... - Conhece o policial fulano? É amigo meu, dá prá livrar a minha cara? Tem garota de programa brasileira que pede devolução de imposto de renda por causa da operação de silicone nos seios (é material de trabalho, né?)... e consegue!
E tem aquela brasileira que não sabia uma só palavra em inglês e resolveu ir à frente de um juiz americano recorrer de uma multa de trânsito. Falaram para ela que a única coisa que precisaria dizer é “sem contestação” (no contest) e foi isso que ela fez. Qualquer coisa que o juiz perguntava ela respondia “– No contest!”... resultado, pegou dez dias de serviços forçados, lavando o chão do prédio do tribunal!
E as casas dos brasileiros? Quando a família de um americano cresce, ele se muda para uma casa maior. Um latino (brasileiro não gosta de ser chamado de latino, que são os cubanos, porto riquenhos, etc.) constrói um puxadinho e um banheiro. Um brasileiro, constrói um puxadinho, mas sem banheiro e sem nenhum planejamento. Dessa maneira, as casas onde vivem brasileiros nos Estados Unidos são fáceis de identificar: são uns cortiços com uns dez automóveis estacionados na frente. Não sei bem por que, mas brasileiro adora se aglomerar.
Uma coisa que a gente ouve muito é que brasileiro é muito trabalhador... No início causa estranheza, mas depois se percebe que é verdade, pois brasileiro é super sério no trabalho, enriquece muito mais rápido do que outros povos em igualdade de condições. Eu tenho um amigo mineiro que tinha uma empresa de fazer piscinas. Um dia ele me disse que só contratava mexicanos, pois “brasileiro aprende o serviço e dois meses depois, registra uma outra empresa e passa a ser meu concorrente...”
Tem os deslumbrados com o consumo americano. Tem os que acham que os Estados Unidos são muito atrasados. Tem os que chegam em Miami perguntando em que época neva (para quem não sabe, em Miami é um calor infernal o ano todo). Tem os que cometem crimes no Brasil e se mudam para os Estados Unidos. Tem os que compram muamba e mandam de lá para algum amigo por aqui.tem os que trabalham carregando pedra por anos, poupando cada centavo, só para conseguir comprar um Porsche. Tem os que não têm a menor idéia onde estão no globo terrestre, só sabem que estão na América, mas se for Califórnia ou Kansas... é tudo a mesma coisa.
Enfim, se um estrangeiro fizesse no Brasil a metade da bagunça que nós fazemos no exterior, ai dele! E para piorar, ainda falamos mal dos outros povos...

2 comentários:

Emilio Pacheco disse...

Sobre isso, escreveu o Luis Fernando Verissimo:

"Ao contrário do que muita gente pensa, o italiano não é o espanhol com mais gestos. Nem acentuar a última sílaba transforma, automaticamente, qualquer língua em francês. A certeza de que é só substituir o "o" pelo "ue" leva muitos brasileiros a pensar que qualquer um de nós fala um "pueco" de espanhol. Agora, a convicção que os brasileiros mais custam a abandonar é a de que, para ser entendido por qualquer estrangeiro, basta falar português bem alto e bem explicado."

Quanto aos brasileiros no exterior, acho que esse é um dos assuntos em que concordo plenamente contigo. Aliás, esse assunto surgiu lá na comunidade de tradutores do Orkut e concluímos que tradutores têm a tendência de ser mais críticos em relação à postura de brasileiros no exterior, talvez por ter uma visão mais ampla das culturas de outros países. Brasileiro em geral não tem autocrítica. Qualquer crítica que seja feita por um estrangeiro é imediatamente repudiada como caluniosa e preconceituosa. Lembra quando vazou a informação de que os empregados da Disney estavam sendo alertados sobre o mau comportamento das crianças brasileiras? Houve uma revolta geral, criou-se um incidente diplomático, mas ninguém parou pra pensar se a crítica não era pertinente. Como puderam falar tão mal assim de nossos anjinhos?

Emilio Pacheco disse...

Em tempo: admiro, sim, a capacidade dos brasileiros no exterior em aceitar trabalhos abaixo de seu nível e trabalhar com afinco. Eu, trabalhar de garçom só para poder viver no exterior e ganhar em dólar? Nem a pau! Mas meus dois sobrinhos já encararam essa.