quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Inteogenia

Inventei esse neologismo para designar uma necessidade humana que não está nos dicionários e que muitos passam pela vida sem ao menos perceber que precisam dela profundamente.
Inteogenia seria a criação (gene) de um deus interior (in/theos).
Um deus sem forma, sem estatuária, sem livro sagrado que o defina, sem igreja e sem sacerdote, mas que está ali, presente em cada coração humano. Um deus de uma crença que, como diriam os indianos de cinco mil anos atrás, é “nri swara” que em sânscrito quer dizer “sem Senhor”, sem um ser superior. Por inteogenia, portanto, quero dizer uma religiosidade atéia, por mais paradoxal que pareça essa afirmação.
Eu pessoalmente não acredito na afirmação politicamente correta de que cada um cultua sua religião de sua forma e que todos estão certos de sua maneira. Como poderia? Se existir reencarnação, como poderia existir os Jardins de Alá? Se existir virgindade de Maria, como poderia não existir? Se existir deus Tupã, como poderia existir Exu? Se existe um campo Elísio após a morte, como pode haver um Valhala? Isso de dizer que todos estão certos não cabe no meu pensamento lógico, parece-me muito mais uma afirmação política para que grupos humanos não gerem carnificinas, não uma resposta as minhas necessidades mais profundas. Para mim, se um estiver certo, todos os outros estarão necessariamente errados. Ponto final.
Aliás, pessoalmente, prefiro não tomar partido. Não acredito em nenhum sistema religioso organizado.
No entanto, como negar o incompreensível? Já escrevi sobre deus, aqui mesmo neste blog .
A inteogenia sempre será uma crença inferior, pois milhões cultuam cada deus de cada religião, enquanto que os deuses interiores são cultuados apenas por um, mínimo, único e mísero indivíduo. Porém, com que profundidade? Com absoluta certeza e devoção opostas à regra geral: qual religioso nunca se deparou com dúvidas, contradições e questionamentos?
O inteogenista, não. Ele sabe que a sua alma interior estará sempre ali, em cada momento de necessidade e na prece mais densa que se possa ter, aquela dirigida ao interior de si e das coisas.
Sentidos profundos da vida? A vida é o próprio sentido profundo!
Enquanto muitos crêem num deus que criou as matas, as montanhas e eu próprio, prefiro acreditar nas matas, montanhas e eu próprio criando os seus significados mais reais, aqueles visíveis, palpáveis e sensíveis.
Creio naquilo que meus olhos criam.

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