segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Liberdade de Expressão

Existe um blog que eu leio, respeito e recomendo, o Leite de Pato , mas no dia 17 de outubro passado, foi publicada uma postagem que eu gostaria de comentar. Chamava-se “Jurisprudência” e, citando Reinaldo Azevedo, comentava de que nem todos os assuntos devem ser tolerados, que a liberdade de expressão tem limites.
Por exemplo, deveriam ser tolerados assuntos como “nazismo, torturas da ditadura militar, pegas, pedofilia, necrofilia, avanço do sinal, espancamento de mulheres, espancamento de homossexuais, atentados terroristas, corrupção, assassinato de religiosos e jogar bebê no lixo”?
Muitos leitores com suas mentes latinas vão me achar um monstro, mas eu acho que deveriam ser tolerados, sim. É o tipo da lei que precisaria ter eficácia limitada, ou seja, ser definido o que não se pode falar e fim (e as únicas coisas censuráveis que me ocorrem são instruções sobre a fabricação caseira de bombas e armamentos, além de técnicas de sabotagem, que aliás nem foram temas falados no texto).
Não penso que falar seja a mesma coisa que fazer.
Condecorar e promover o Lamarca, por exemplo, não seria apologia ao levante à mão armada contra o Estado brasileiro? Artigo 5o, parágrafo XLIV da Constituição Federal, crime imprescritível e inafiançável.
Antes de bater contra o pessoal do PT, vamos pensar bem: daí teríamos que censurar Machiavel, pois ele fala da mesma coisa, tomar o poder à força. E MacBeth, de Shakespeare, também expressa de como chegar ao poder por meio de crimes.
E será que se deveria censurar “Lolita”, de Vladmir Nabokov, um dos melhores livros da história da humanidade, pois fala do relacionamento entre um homem maduro e uma adolescente de 13 anos? E “O Amante”, de Marguerite Duras, que fala da mesma coisa, deve ser censurado? Pedofilia pura!
E Édipo Rei? Sófocles fala sobre o assassinado do pai e o incesto com a mãe. Não deveria ser um tema proibido? E Electra, que planeja matar o pai? E o tio de Antígona que faz apologia a deixar cadáveres sem sepultamento? E Agamenon, que mata a filha Ifigênia em um ritual religioso pagão? Em outras palavras, tragédia grega deveria ser censurada?
E cinema hollywoodiano? Deveria se tolerar que as pessoas promovessem a prática da justiça com as próprias mãos? Chuck Norris, Schwartzneger e Stalone, nem pensar, certo?
Matar árabes é racismo. Censuremos “O Estrangeiro”, de Camus! Shakespeare é duro com os judeus: censura nele!
Jacó subornou o irmão com um prato de comida. Depois pintou as ovelhas de Labão para que passassem a ser suas, roubo puro e simples. Lot transou com as duas filhas. Jesus surrava vendedores, fazia justiça com as próprias mãos, portanto: censuremos a Bíblia!
Mas onde iremos parar se deixarmos cada um falar o que quer? Nuns Estados Unidos, numas Holandas, Dinamarcas, Suécias... não acho nada mal, não! Ou será que são preferíveis umas Cubas e uns Irãs?
O que acontece se acabarmos com a liberdade de expressão? O Bonow está defendendo os que defendem crimes. Censuremos o Bonowblog!
Dá para entender por que sou contra a censura? Se começarmos a adentrar muito nessa linha, daqui a pouco vai sobrar para a gente e logo não poderemos falar mais nada.



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